Alguns artistas passam suas carreiras inteiras repetindo o mesmo disco. Para uma parte desses artistas, isso se torna até uma qualidade. É o caso, por exemplo, dos Ramones lá fora e de Jorge Benjor aqui no Brasil.
Para outros, a repetição vira um disfarce para a falta de criatividade, como se pode ver no trabalho do Weezer, grupo que chegou a receber um pedido de parte de seus fãs para que deixassem de gravar.
O grupo escocês Teenage Fanclub se encaixa, com honra, no primeiro grupo. Desde a estréia abençoada com Bandwagonesque, em 1991, eles vêm fazendo pequenas variações em sua sonoridade, sem jamais alterar radicalmente a qualidade melódica de suas canções.
Se Bandwogonesque é um disco que sobreviveu superlativamente em meio à grande quantidade de lixo gravada nos anos 1990 é porque seus acertos são atemporais: melodias grudentas e uma produção cristalina que faz a ponte perfeita entre as distorções típicas da época e a apropriação de modelos clássicos de composição (a influência de Beatles e Big Star é evidente).
Mas nos discos seguintes, o Teenage viu parte de seu público bandear-se para novas modas e modismos, enquanto eles continuavam fiéis a suas regras.
Quem permaneceu no séquito da banda, no entanto, teve a chance de entrar em contato com preciosidades com Don´t Look Back, Neil Jung (do disco Grand Prix), Your Love Is The Place Where I Come From (de Songs From Northern Britain) e The Cabbage (de Thirteen), músicas que só melhoram com o passar do tempo.
O novo disco, Shadows, segue a linha doce e etérea adotada em Man Made , lançado há cinco anos. Para quem é fã de longa data – e só agora, escrevendo este texto, é que me dou conta que amo esta banda há 20 anos – o disco acrescenta mais um capítulo à história de carinho criada entre o Teenage e seus admiradores.
Todas as canções são ótimas, mas em Baby Lee e When I Still Have Thee os escoceses atingem os picos de beleza que coroam suas melhores criações.
Não é certamente um trabalho que vá aumentar o público da banda. Tanto faz.
Nessas alturas, o que o fã-clube quer é exatamente o que eles vêm oferecendo: pequenos presentes em forma de música, a cada cinco anos.
É muito mais do que muita gente oferece em uma vida inteira...