quinta-feira, 27 de maio de 2010

Novo Ídolo?

E ontem, quarta-feira, 26 de maio, a FOX americana revelou o novo campeão do programa American Idol – transmitido aqui pelo canal pago Sony, ao vivo, sem tradução simultânea.

O ex-vendedor de tintas Lee Dewize levou o prêmio por uma diferença de apenas dois por cento em relação à segunda finalista, Crystal Bowersox.

Lee canta bem e tem uma voz rouca que cai bem tanto em rocks sensíveis – na final, apresentou uma bela versão de Everybody Hurts do R.E.M. e encerrou sua participação com Beautiful Day do U2 – quanto em canções mais tradicionais – um dos seus grandes momentos nesta 9ª temporada foi cantando You’re Still The One, da cantora pop-country Shania Twain.

A questão que se coloca agora é sobre seu futuro. Se todas as pessoas que votaram em Dewize durante os quase quatro meses de programa comprassem seu disco – a ser lançado provavelmente no final do ano – ele, certamente, ressuscitaria a combalida indústria fonográfica americana. Mas a coisa não funciona exatamente assim.

Os últimos “ídolos” eleitos pelo programa têm, até o momento, uma carreira um tanto apagada. Ninguém repetiu, nos últimos anos, o sucesso de Kelly Clarkson, de Carrie Underwood ou de Chris Daughtry. Excelentes intérpretes como Elliott Yamin ou Taylor Hicks têm uma trajetória morna e de pouca vendagem. Outros, como Jennifer Hudson, encontraram uma segunda chance no cinema.

Torço por Lee. Se conseguir imprimir um mínimo de personalidade em sua estreia, seu disco poderá ser muito bom. Carisma, qualidades vocais e sensibilidade o cara tem de sobra.

É esperar que os produtores que tornam todos esses talentosos cantores em robôs sem alma dêem um tempo para o moço.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

É isso aí?

Sou um apaixonado por séries de televisão. Sejam dramáticas ou cômicas, de ficção científica ou policiais, as séries americanas têm se superado na construção de roteiros inteligentes, personagens cativantes e em produções cada vez mais sofisticadas.

Já houve uma época em que acompanhava quase religiosamente umas dez séries. Sex And The City, A Sete Palmos, Família Soprano, Will And Grace, CSI (a original, passada em Las Vegas. A de Nova Iorque e a de Miami nunca me interessaram), Seinfeld, Frazier, Without a Trace e mais algumas que não consigo me lembrar fizeram com que eu adquirisse uma renovada fé na linguagem televisiva (a lá de fora, fique bem claro).

Mas nenhuma série me capturou de forma tão intensa quanto Lost. Lembro-me que quando comprei a primeira temporada da série, varava madrugadas assistindo um episódio seguido do outro até ser vencido pelo sono e cansaço.

Os personagens e seus respectivos intérpretes foram sendo gradualmente apresentados e, à medida que suas histórias eram reveladas, eu ia escolhendo aqueles que mais me interessavam.

O triângulo formado pelo herói relutante Jack Shepard, seu antagonista James “Sawyer” Ford e a enigmática Kate Austen – uma assassina de bons sentimentos – nunca teve, para mim, o mesmo charme da bela história de amor do casal de coreanos Sun e Jin ou a profundidade da história pessoal do obstinado John Locke.

Sayd, Hugo Reyes, Desmond Hume, Mr. Ecko e, principalmente, o soberbo vilão Benjamin Linus formaram uma longa coleção de personagens ricamente complexos e construídos com a habilidade que só um grande roteirista pode oferecer.

Mas, é claro, Lost tinha que chegar ao fim. E o que tão excepcionais roteiristas nos reservaram após tanto drama e mistério? Pouco. Muito pouco.

Diante de um mundo de possibilidades e de uma incontável quantidade de problemas não resolvidos, os escritores e produtores optaram por um final em aberto, por vezes piegas e com um viés místico-religioso que foi, na melhor das hipóteses, broxante.

Fãs mais histéricos devem ter ficado furiosos. A última temporada parece ter se esquecido de coisas como a iniciativa Darma, as teorias malucas sobre viagens no tempo e outras lebres levantadas ao longo dos cinco anos anteriores.

Perda de tempo? De forma alguma. Por mais paradoxal que possa parecer, o desfecho da série nunca foi muito importante para mim.

O grande barato de Lost sempre foi viajar no seu universo, ficar tecendo teorias absurdas, imaginar soluções improváveis e outras nem tanto (logo na primeira temporada eu já saquei qual era o mistério da ilha. Bem, pelo menos uma parte dele).

E se toda perda de tempo tiver esta qualidade e densidade, fico ansioso esperando pela próxima.

Com um pouco menos de idas e vindas no tempo, de preferência.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Doces Vozes: Sinéad O’Connor

Embora a grande maioria das pessoas a conheçam apenas como a cantora careca, a irlandesa Sinéad O’Connor tem em seu currículo dois grandes discos, uma série de boas colaborações e uma coleção de controvérsias de fazer inveja a muito roqueiro desbocado.

Quando, em 1987, a jovem artista lançou sua estréia, The Lion And The Cobra, parecia que o caminho finalmente se abria para cantoras e compositoras com atitude, talento e coragem de assumir posições polêmicas e fortes. Puxado por hits como Mandinka e I Want Your Hands On Me, o disco revelou para o mundo uma cantora que tanto podia cantar mansinho como soltar a voz em interpretações vigorosas e quase agressivas.

No disco seguinte, I Do Not Want What I Haven´t Got, Sinéad aprimorou sua pena, compondo canções de inspiração celta (Stretched On Your Grave), folk (Black Boys On Mopeds e Three Babies), além de ótimos rocks (The Emperor´s New Clothes e Jump In The River).

Mas a grande canção do disco é uma regravação que O´Connor tornou absolutamente pessoal e intransferível: Nothing Compares To You. Até então uma composição obscura de Prince, Nothing Compares To You pode ser considerada uma das melhores canções de amor de todos os tempos, não exatamente pelos méritos de sua letra, mas, sobretudo, pela interpretação passional e apaixonante de Sinéad.

O vídeo, no qual a intérprete se entrega a ponto de chorar durante as filmagens, também se tornou um marco da história dos vídeos musicais.

Infelizmente, os discos seguintes seriam o retrato cada vez mais confuso de uma artista conturbada, muitas vezes dona de uma ira difusa e irrefletida.

Problemas pessoais, declarações bombásticas, fotos rasgadas do Papa, vaias em shows, mudanças bizarras de sonoridade e outras esquisitices fizeram com que uma das vozes mais belas e originais surgidas nos últimos 20 anos praticamente caísse no esquecimento.

Quem quiser mergulhar no universo desta cantora fascinante pode começar com a coletânea So Far... The Best Of Sinéad O’Connor, que traz, além dos óbvios sucessos, algumas canções menos conhecidas da irlandesa (You Made Me The Thief Of Your Heart é linda de doer).

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Meus Discos Preferidos: Hard Rock e Metal


Paranoid. Black Sabbath
Um debate antigo ainda desperta o ânimo de metaleiros mundo afora: afinal quem foi o (ir)responsável pela criação do heavy metalBlack Sabbath ou Led Zeppelin?

Para mim, o Zeppelin transcende as barreiras do gênero e sua riqueza musical não permite classificá-lo em apenas um estilo.

Quanto ao Sabbath, me parece mais acertado chamá-lo de pai do metal, até porque sua sonoridade crua e pesada, seus temas sombrios e demoníacos e seu visual sujo e feio continuam influenciando 9 entre 10 bandas de metal.

Paranoid é o melhor dos álbuns gravados com Ozzy Osbourne nos vocais.

Metallica. Metallica
Conhecido como “álbum negro”, o disco tornou o Metallica um fenômeno de massas, atraindo pessoas que nunca haviam escutado um disco de heavy metal em suas vidas.

Além das habituais porradas sonoras, é aqui que o grupo revela o seu lado sensível, gravando pela primeira vez uma balada, a épica Nothing Else Matters.

Rocks. Aerosmith
Quem conhece o Aerosmith somente por babas como Crazy e I Don’t Wanna Miss a Thing, não pode ter ideia de como eles já foram uma banda de hard rock cheia de energia e gás.

Rocks emenda uma pedrada após a outra, mostrando que é possível injetar balanço e sensualidade no som quase sempre duro do rock pesado.

Appetite For Destruction. Guns’n Roses
A estréia da banda de Axl Rose é nada menos que perfeita.

Ressuscitando o hard rock de garagem típico dos anos 70 para a geração MTV, o Guns não apenas definiu novos rumos para o estilo como ainda conseguiu perpetrar verdadeiros clássicos de alto potencial radiofônico: Sweet Child O’ Mine se gravou para sempre no inconsciente roqueiro do planeta.

Destroyer. Kiss
Só quem já foi pré-adolescente, cheio de espinhas e angústias aflorando por todos os poros, pode entender a função catalisadora de uma banda como o Kiss.

Histórias em quadrinhos, filmes de horror baratos, sexo e rock’n roll convergem e se amalgamam neste disco histórico, que selou definitivamente o destino grandioso dos quatro mascarados novaiorquinos.

Ainda que eles não tenham feito nada à altura desde então, o legado de Destroyer permanece intocável.

The Real Thing. Faith No More
O metal visto como paródia e como forma de arte encontra neste arrasador álbum de estréia do Faith No More sua expressão mais perfeita.

Iconoclasta, o disco introduz gêneros alienígenas como o rap para esquentar ainda mais a fervura.

Pop e acessível, leva o metal para as massas com as inesquecíveis Epic e Falling To Pieces.

E ainda brinca com os clichês do gênero com criatividade e competência técnica.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Capas Clássicas

1991 deveria ter sido o ano de Dangerous, álbum duplo lançado por Michael Jackson após um hiato de quatro anos. Não foi. Um álbum de uma banda obscura saída da cena musical de Seattle varreu as paradas daquele ano, iniciando uma revolução na música jovem feita no mundo inteiro.

O disco em questão chamava-se Nevermind e o terremoto que se seguiria ao seu lançamento não seria sentido somente por um decadente Michael Jackson. Garotos espalhados pelos quatro cantos do planeta viram que era novamente viável empunhar uma guitarra, cantar sobre as angústias e alegrias de sua geração e vender muito, mas muito disco mesmo. Só nos Estados Unidos, Nevermind alcançou a fantástica – para os dias de hoje – marca de dez milhões de cópias comercializadas.

Como quase todo grande álbum, a capa de Nevermind é não menos que antológica. O bebê que tenta agarrar uma nota de dólar em baixo d’água pode ser lida das mais variadas formas. Será uma metáfora sobre o capitalismo que nos fisga logo na infância? Será uma pista da relação ambígua de Kurt Cobain com o sucesso e o dinheiro? Ou será simplesmente o símbolo de uma banda jovem e inexperiente em meio aos tubarões da indústria?

Não importa: seja qual a interpretação dada, a capa tornou-se tão clássica que já chegou a ser apontada pela revista americana Rolling Stone como a melhor capa de rock de todos os tempos. Em que pese certo exagero de tal eleição, não há como negar sua importância e permanente capacidade de encantar e instigar.

sábado, 15 de maio de 2010

Escrava do Ritmo


I need a man
to make my dreams come true.


Os versos acima pertencem ao clássico da disco music, I Need A Man, gravada em 1977 pela modelo, cantora e atriz Grace Jones.
Nada pode ser mais falacioso. Se existe uma mulher que nunca precisou de um homem para realizar seus sonhos, essa mulher é Grace.
Ícone da turma gay, Jones foi a primeira artista moderna a fazer a transição – muito bem-sucedida, diga-se – do mundo da moda para o da música.
Talvez por conta desse passado fashionista, a jamaicana soube explorar como poucas sua imagem andrógina e ideias ousadas que combinavam vanguarda artística e imediato apelo popular.
O grande pulo do gato de Jones aconteceu quando a cantora se voltou para a música feita em sua terra natal, a Jamaica, e gravou dois ótimos discos em que mesclava reggae com a emergente new wave.
Warm Leatherette e Nighclubbing marcaram época, estabeleceram Jones como artista emblemática dos anos 80 e resistiram intactos ao teste do tempo.
Ainda que, hoje em dia, Grace Jones ande meio esquecida, suas músicas colocam no chinelo o trabalho de pretensas divas que brotam da terra como erva daninha.
Se liga, Lady Ga Ga!

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Discos e Arte

Há artistas tão talentosos no meio pop que sua criatividade se espalha por outras áreas.

Alguns cantores e cantoras se aventuram nos palcos e em filmes, enquanto outros estampam nas capas de seus discos suas habilidades com pincéis e tintas.

Em certos casos, o talento é tamanho que extrapola o mundo puramente musical e chega a galerias de arte.

David Bowie, Ron Wood (guitarrista dos Rolling Stones) e o extravagante Marilin Mason já tiveram suas obras expostas em prestigiados circuitos de artes plásticas do Primeiro Mundo.

Verdadeira lenda do rock e do folk americanos, o cantor e compositor Bob Dylan já estampou suas vigorosas pinceladas em discos próprios e de outros. Sua capa para o primeiro disco do The Band é antológica.

Representação entre o sofisticado e o ingênuo, a pintura que ilustra Music From Big Pink, mostra um grupo de músicos alegremente envolvidos na execução de uma canção enquanto, no fundo, um elefante dá um toque de surrealismo ao quadro.


Já a cantora Joni Mitchel ilustra suas capas com desenhos de traço delicado e sutil.

Seu álbum Ladies Of The Canyon traz um belo trabalho de linhas que apenas deixam entrever a silhueta da compositora.

Há também uma capa lindíssima feita por Joni para o álbum So Far, do super-grupo Crosby, Stills, Nash & Young. Nela, Joni demonstra toda sua habilidade para captar a essência de um rosto com traços mínimos.

Finalmente, gostaria de destacar o trabalho gráfico do cantor Cat Stevens, atualmente conhecido por seu nome islâmico Yusuf.

Stevens, que andou manchando seu passado de baladeiro folk quando declarou seu apoio à condenação à morte do escritor Salman Rushdie pelo Aiatolá Khomeini, do Irã, já foi um típico bicho grilo que fazia canções simples e acústicas para se cantar em volta de uma fogueira.

Para completar o clima bucólico, a grande maioria de seus discos na década de 70 trazia ilustrações que pareciam saídas de livros infantis feitas pelo próprio Stevens.

Sou particularmente seduzido pela capa de Teaser And The Firecat, na qual um garoto e um gato cor de fogo se aproximam cheios de desconfiança.

Curiosamente, nos dois discos lançados com seu novo nome, as capas não exibem desenhos de Yusuf.

Será o ato de desenhar também um pecado punível com a morte?

Vai saber...

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A triste história de Fab Morvan e Rob Pilatus

Para um gênero caracterizado pela leveza, alegria e descartabilidade, a música pop tem, paradoxalmente, um imenso cabedal de histórias tristes e mesmo trágicas para contar.

Uma das mais exemplares, para mim, é a história de Fab Morvan e Rob Pilatus que, sob o nome artístico de Milli Vanilli, viveram no curto espaço de dois anos o auge e a total decadência.

O disco Girl You Know Is True, lançado pela dupla em 1989, tornou-se em pouco tempo um fenômeno de vendas, gerando, somente nos Estados Unidos, quatro compactos que entraram nas listas de mais vendidos.

A ascensão meteórica ao topo das paradas foi coroada em 1990 com o prêmio Grammy de revelação do ano. Parecia que o Milli Vanilli havia realmente chegado para ficar.

Mas enquanto Fab e Rob mergulhavam de cabeça nos excessos proporcionados pela fama e o dinheiro, a imprensa começava a lançar suspeitas sobre as reais habilidades musicais dos rapazes.

Incidentes com playbacks emperrados e as constantes apresentações dubladas formaram um cerco em torno da dupla.

Ainda em 1990, a verdade veio à tona de forma chocante: Morvan e Pilatus não haviam gravado um único verso em seu disco campeão de vendas. Todos os vocais foram feitos por cantores mais velhos, que não possuíam o visual e o apelo sexual idealizados pelo produtor Frank Farian, que recrutara os dois dançarinos e aspirantes a artistas em uma boate na Alemanha.

A reação do público variou da indiferença à total indignação. Milhares de consumidores americanos exigiram reembolso do valor pago pelo disco, alegando fraude e má-fé tanto dos artistas quanto da gravadora.

Poucos dias após a fatídica revelação, a dupla foi obrigada a devolver o Grammy recebido, caso único na história do prestigiado prêmio.

Nos anos seguintes, o grupo amargou o desprezo e o escárnio do público e dos meios musicais, além de eventuais dificuldades financeiras.

A tentativa de lançar um disco com seus próprios nomes fracassou, e Pilatus acabou se afundando de maneira cada vez mais irreversível nas drogas. Enquanto Morvan encontrou uma segunda chance como DJ e artista solo, seu ex-companheiro de banda foi achado morto com apenas 32 anos, após ingerir uma dose generosa de calmantes com álcool.

Por ironia ou crueldade do destino, o mesmo disco que foi tão impiedosamente apedrejado hoje é objeto de culto por parte de revisionistas da década de 80. Além da faixa-título, Girl You Know Is True, canções como Girl I’m Gonna Miss You, Don’t Forget My Number e Blame It On The Rain se tornaram clássicos para saudosistas e amantes da música pop mais trash e despretensiosa.

Se outros fraudulentos da época, como os grupos Black Box e Tecnotronic, sobreviveram a seus respectivos escândalos de maneira bem menos traumática, é de se ficar pensando no porquê de tamanho linchamento. Afinal, será que não se pode creditar ao charme e ao carisma de Moran e Pilatus boa parte do arrasador sucesso do Milli Vanilli?

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Caminhos Misteriosos

A revista americana SPIN, em seu site, elegeu os melhores discos dos seus 25 anos de existência. O primeiro colocado da lista de 125 álbuns é - surpresa para mim - Achtung Baby, lançado em 1991 pelo U2.Ao lado de The Queen Is Dead, dos Smiths, Rubber Soul, dos Beatles, Closer, do Joy Division e Pet Sounds, dos Beach Boys, Achtung forma o conjunto que eu costumo chamar Discos do Incêndio, ou seja, aqueles que eu tentaria salvar no caso de um incêndio em casa.

Segundo o texto da revista, Achtung traz em seu DNA as características que seriam exploradas pela melhor música alternativa feita nos anos seguintes: híbrida, multifacetada, experimental sem desconsiderar o ouvinte e emocional sem ser messiânica – um pecado no qual o U2 incorreu com bastante frequência no passado.

Das bandas que surgiram a partir daquele ano, pode-se perceber claramente a sombra de Achtung Baby no trabalho do Coldplay, do Arcade Fire, do TV On The Radio e do The National, entre tantas outras.

O próprio U2 mudaria muito depois do lançamento de seu álbum “alemão” (Achtung foi gravado entre Berlim e Dublim e muito do visual ultracolorido e levemente kitsh adotado pelo grupo na época vem da estada na Alemanha).

Ao invés da pesquisa por raízes do rock americano que havia dominado The Joshua Tree e Rattle And Hum, o grupo deu uma guinada em favor de uma sonoridade mais européia: David Bowie fase Low, Kraftwerk, Roxy Music e o som do Britpop inglês seriam a partir de então as novas referências para Bono, The Edge, Larry Mullen e Adam Clayton.

Quando ouvi Achtung Baby pela primeira vez, confesso que levei um choque. O U2, na minha cabeça, ainda era a banda apoteótica e megalomaníaca que havia me arrastado três vezes ao cinema para assistir ao filme Rattle And Hum.

Quando falo “apoteótica e megalomaníaca” é sem nenhum demérito. Aquela intensidade e paixão, a fotografia épica em preto-e-branco, a postura de salvador do mundo de Bono, tudo era motivo de adoração para meu coração adolescente.

Se alguma vez na minha vida eu fui fanático por alguma coisa, acho que foi ali: entre 1986 e 1988 o U2 ocupava meu 3 em 1, meus cadernos, minhas paredes – cheguei a roubar um cartaz com a imagem da banda de uma banca de revistas – , enfim, não havia nada nem ninguém que se equiparasse a eles (bem, na verdade, havia Morrissey e os Smiths, mas esse foi um tipo de adoração mais madura, menos irrefletida e tola).

Dentro deste contexto, Achtung Baby era um verdadeiro alienígena, mas um alienígena que foi crescendo de pouco em pouco até me dominar por completo.

Todo o cinismo que me despertaram os óculos de mosca e o paletó dourado de Bono caiu por terra quando, finalmente, me deixei levar pela riqueza de canções como Love Is Blindness, Until The End Of The World e, principalmente, One.

Quase vinte após seu lançamento, o disco não perdeu nada de sua genialidade.

Embora tenha feito outros bons discos – All That You Can’t Leave Behind, sendo o melhor deles – o U2 jamais voltaria a atingir o mesmo pico de beleza, criatividade e ousadia ouvido em Achtung Baby.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Sobre Homens e Máquinas

Não sou grande fã de música eletrônica. Acho os ritmos repetitivos, os vocais monótonos e a incômoda sensação de que estou numa boate vai me torrando a paciência.

Mas, às vezes, é preciso saber separar o joio do trigo. Desde o New Order, na década de 80, surgem aqui e ali algumas bandas ou projetos-solo que renovam a música feita por máquinas.

Foi assim, por exemplo, com Moby e o sensacional álbum Play ou, mais recentemente, com o LCD Soundsystem, dono de dois discos muito bons.

Outro grupo que tem dado um novo fôlego à eletrônica é o Hot Chip. O último lançamento, One Life Stand, se aprofunda nas referências ao tecnopop da década de 80 – Human League, Depeche Mode, Pet Shop Boys e New Order – ao mesmo tempo em que torna a música do grupo cada vez mais melódica e simples.

Há faixas dançantes (Hand Me Down Your Love e a faixa-título, uma das melhores já compostas pela banda) e outras mais etéreas (Slush, em que demonstram que também ouviram bastante kraut rock).

Não é tão interessante como o primeiro disco, The Warning, mas aponta novas direções para o som do grupo e prova que eles não se acomodaram no bate-estaca fácil do tecno.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Longa Vida à Rainha

Acabo de terminar a leitura de Freddie Mercury, de autoria do francês Selim Rauer, pela editora Planeta, biografia sobre o mítico vocalista do Queen.

Escrito numa linguagem excessivamente simplória, possivelmente devido a uma tradução de má qualidade, o livro faz um nítido esforço para traçar os contornos do homem por trás da lenda.

Ao longo de sua curta vida - Mercury morreu aos 45 anos em decorrência de complicações ocasionadas pela AIDS - , o cantor e compositor tentou manter suas origens, vida familiar e afetiva o mais longe possível da cena pública.

Nascido Farrokh Bulsara, primogênito de uma família de origem persa, passou sua infância na paradisíaca ilha de Zanzibar, na costa africana, então um protetorado da Coroa Inglesa. Aos 8 anos é enviado à Índia onde prossegue seus estudos em uma rígida instituição britânica. Estes anos de afastamento da família parecem ter afetado de forma definitiva o jovem Farrokh. O final da adolescência seria vivida na efervescente Londres da década de 60. Inicia-se ali seu profundo interesse pelo rock e um desejo ainda amorfo de fazer algo novo, grandioso e inesquecível.

A carreira com o Queen acabaria levando todas essas ambições a alturas que, talvez, somente ele concebesse.

Freddie conheceu, num curto período de 20 anos, a glória e a decadência, a adulação e o escárnio, a adoração do público e a ferocidade da crítica.

Ninguém foi tão gigantesco como ele no palco. Ninguém soube transformar a comédia que é o circo do rock em ópera, drama e tragédia.

Poucos ousaram o ridículo com tamanha autenticidade e - por que não? - integridade. Depois de sua morte o mundo da música ficou menos divertido.

Meu disco preferido do Queen é o segundo, Queen II. Quando o disco foi lançado em 1974, eu era um infante de apenas 4 anos e música era uma coisa que só entrava em minha casa via rádio.

Quando eu comecei a descobrir o rock, já na adolescência, o Queen escancarou um mundo de possibilidades e me abriu um caminho sem volta. Foi a transição definitiva das trilhas sonoras de novela para álbuns conceituais, cheios de detalhes e segredos que iam se revelando a cada audição.

Em janeiro de 1985, quando se apresentaram no primeiro Rock In Rio e a Rede Globo transmitiu alguns trechos dos shows, a minha conversão se completou. Seja regendo a multidão em Love Of My Life ou explodindo de emoção em We Are The Champions, Mercury transformava qualquer palco no seu elemento.

Por trás do performer insuperável, no entanto, vivia um homem preso a recalques e fantasmas que remontam à infância e à educação repressora.

Mercury jamais conseguiu fazer a transição do personagem que encarnava de forma tão intensa sob os holofotes para a vida cotidiana, com suas mesquinharias, pequenos e grandes problemas.

Ficou sua música, testamento definitivo de um artista tão complexo e fascinante como sua própria vida.