quarta-feira, 29 de abril de 2009

Entre Tapas e Beijos

Todo mundo tem uma paixão secreta, daquelas que a gente não admite nem para nós mesmos. No meu caso, essa paixão proibida, meu guilty pleasure, é o show de calouros americano American Idol.

Há uns cinco anos, acompanho religiosamente cada nova temporada e, embora admita que o estilo da maioria dos candidatos – música pop absurdamente conservadora e convencional – não me agrade, não consigo deixar de torcer por um candidato ou outro.

Nos Estados Unidos, American Idol é um sucesso estrondoso e pelo menos dois ex-candidatos se tornaram fenômenos de venda e popularidade no país: a vencedora da primeira temporada, Kelly Clarkson e o cantor Chris Daughtry (este, apenas 4º colocado em sua temporada, o que prova que vencer não é a única maneira de se atingir o estrelato).

É curioso que a franquia foi comprada pelo Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) e não repetiu por aqui o sucesso do programa americano. Não deixa de ser um sintoma da situação em que se encontra a combalida indústria fonográfica nacional.

A mudança para a Rede Record parece não sinalizar grandes mudanças. Falta uma maior empatia com o grande público e, principalmente, falta um Simon Cowell, o juiz cínico e, por vezes, cruel, que detona aspirantes a astros. Cowel é a alma do show, a pitada de originalidade num formato que poderia ser perigosamente tedioso e insípido.

Com o mundo inteiro abismado com as qualidades vocais da britânica Susan Boyle – revelada num concurso de talentos no qual, aliás, Simon Cowell faz parte do painel de jurados -, parece que a fórmula vencedora de risos e lágrimas de American Idol está longe de perder seus seguidores.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Black Power

Dia desses, estava vasculhando as prateleiras de discos da Livraria Cultura, aqui em Brasília, quando me deparei com uma versão comemorativa de 25 anos do multiplatinado Thriller, de Michael Jackson.

Só quem viveu a loucura que foi a Jackson-mania, pode ter uma idéia do impacto que esse álbum teve no inconsciente coletivo do planeta.

Ao longo de todo o ano de 1983, ouviu-se exaustivamente a cada uma das faixas do hoje conhecido como “disco mais vendido de todos os tempos”.

Mas o grande trunfo de Michael Jackson não foi exatamente seu brilhante trabalho musical. Seu golpe de mestre e aquilo que o faria entrar, definitivamente, no panteão da música pop foram seus vídeos. Billie Jean, Beat It e Thriller, a canção, estabeleceram um padrão de vídeo musical que seria copiado repetitivamente nos anos que se seguiram.

Aqui no Brasil não existia MTV ou mesmo programas regulares de vídeos. Acho que a geração acostumada a encontrar tudo o que quer no You Tube, não consegue imaginar o que era esperar pela misericórdia da Rede Globo, que exibia semanalmente UM(!!!!!!!!!!) vídeo musical, no dominical Fantástico. Mas, ainda assim, Jackson reinou absoluto nestes tristes trópicos.

É realmente deprimente ver a figura patética na qual se tornou Michael, mas é igualmente horrível ver o estado de total decadência da música negra norte-americana. E quando falo em decadência, não estou me referindo a vendagem ou popularidade. Nesses quesitos, a música black feita nos Estados Unidos nunca esteve tão em alta. O disco mais vendido por lá, no ano passado, por exemplo, pertence ao rapper Lil Wayne.

Estou pensando, na verdade, na grande música de figuras incríveis como Marvin Gaye, Stevie Wonder, Curtis Mayfield, Isaac Hayes, o elenco estelar da gravadora Motown e da Stax, enfim, toda uma geração de fantásticos cantores e músicos que fizeram os corações e as mentes das gerações dos anos 60 e 70.

Michael Jackson foi, sem dúvida, o último grande cantor soul de uma linhagem nobre de vocalistas, que se iniciou lá nos anos 50 com Ray Charles e Sam Cooke. Perceber que nem ele nem muito menos nenhum desses pálidos artistas que seguem carregando a bandeira da música negra americana conseguirá gravar um disco digno de What’s Going On, Innervisions, Back Stabbers ou mesmo Thriller é – com o perdão do trocadilho – assustador.

sábado, 25 de abril de 2009

Cinema, Livros e Outros Bálsamos

Uma das melhores coisas para quem aprecia arte é descobrir o trabalho de um artista que já está em atividade há muito ou mesmo que já tenha se aposentado ou morrido.

Estou vivendo esta espécie de love affair com um escritor chileno, precocemente falecido, Roberto Bolaño.

Bolaño é um dos grandes nomes da literatura latino-americana da segunda metade do século XX e sua obra desperta cada vez mais interesse em leitores do mundo inteiro. Seus livros são um mergulho fascinante em um universo paralelo de aspirantes a escritores, artistas frustrados, loucos, refugiados políticos e toda sorte de deserdado. Cada página de Bolaño é uma viagem incomparável, uma experiência poética e transformadora. Termina-se de ler um livro seu com a ânsia de se começar o próximo.

Vivo neste estado, igualmente, em relação ao grande cineasta espanhol e mestre do surrealismo na telona, Luis Buñuel. Na juventude, quando era estudante de artes plásticas na Universidade de Brasília (UnB), fui introduzido no universo de Buñuel por seus filmes de final de carreira e, por mais interessantes que sejam alguns deles, não conseguiram me contagiar por completo.

Recentemente, resolvi ir atrás dos filmes mais antigos do diretor, principalmente aqueles que realizou durante seu exílio no México.

A palavra genial é pequena para descrever filmes como Os Esquecidos, Nazarin e Escravos do Rancor - este último uma curiosíssima versão do clássico da literatura, O Morro dos Ventos Uivantes. Buñuel expõe, de forma brilhante, hipocrisias sociais, vícios, mesquinharias e, em última análise, a falência total das relações humanas. Não são obras exatamente fáceis, mas quando um dos garotos da obra-prima Os Esquecidos joga um ovo cru diretamente na câmera, temos a noção precisa do quão necessários e atuais ainda são.

Na música, garimpar velharias sempre foi um dos meus maiores prazeres. Grandes figuras como Stephen Stills, Gene Clark e Dennis Wilson só passaram a fazer parte da minha vida muito recentemente e hoje estão entre meus artistas preferidos.

Discos maravilhosos como White Light (Gene Clark), Pacific Ocean Blue (Dennis Wilson) e o primeiro registro solo de Stephen Stills são descobertas talvez tardias, mas, assim como os livros de Bolaño e os filmes mexicanos de Buñuel, são agora parte fundamental das minhas mais caras memórias.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

80 minutos nos anos 80

1- This Charming Man
The Smiths (Em The Smiths)
2- Are You Ready To Be Heartbroken?
Lloyd Cole & The Commotions (Em Rattlesnakes)
3- Happy When It Rains
The Jesus & Mary Chain (Em Darklands)
4- Lose My Breath
My Bloody Valentine (Em Isn't Anything)
5- I Got A Catholic Block
Sonic Youth (Em Sister)
6- Where Is My Mind
Pixies (Em Surfer Rosa)
7- I Will Dare
The Replacements (Em Let It Be)
8- Fall On Me
R.E.M. (Em Life's Rich Pageant)
9- The Killing Moon
Echo & The Bunnymen (Em Ocean Rain)
10- Cities In Dust
Siouxsie & The Banshees (Em Tinderbox)
11- Charlotte Sometimes
The Cure (Em Staring At The Sea)
12- Hollow Hills
Bauhaus (Em Mask)
13- She Sells Sactuary
The Cult (Em Love)
14- Don't Talk
10,000 Maniacs (Em In My Tribe)
15- Love Will Tear Us Apart
Joy Division (Em Substance)
16- Leave Me Alone
New Order (Em Power Corruption and Lies)
17- Bad
U2 (Em The Unforgettable Fire)
18- Everyday Is Like Sunday
Morrissey (Em Viva Hate)
19- Watching Alice
Nick Cave & The Bad Seeds (Em Tender Prey)
20- Downtown Train
Tom Waits (Em Rain Dogs)

A Rainha Não Está Morta

Rock é coisa de garoto, de gente jovem. Nenhum músico de rock começou compondo e gravando aos 40 ou 50 anos. Isso é um fato, mas também é fato que muitos músicos seguiram compondo e gravando, mesmo depois dos 20 e dos 30 anos. Afinal, quando a chama da juventude perde sua força, o que sobra para um estilo que se alimenta basicamente de rebeldia, imaturidade e algumas boas doses de loucura?

Pensei nessas bobagens ao escutar o novo disco do ex-vocalista dos lendários Smiths, Morrissey. Ao me dar conta que o sr. Stephen Patrick Morrissey já está batendo na casa dos 50, percebi, também, que eu próprio estou chegando aos 40!

Quando os Smiths lançaram seu primeiro registro, lá pelos idos de 1984, eu tinha 14 anos. Acho que nada me marcou tanto, com exceção, talvez, dos primeiros trabalhos da Legião Urbana (que, por sua vez, foi profundamente influenciada pela banda de Manchester).

Ao longo de sua irregular carreira solo, Morrissey seguiu sendo um caso especial no panorama do rock mundial, um oásis de inteligência e sensibilidade num deserto de lugares-comuns.

É quase um milagre que, no efêmero universo pop, ele tenha não só sobrevivido, mas também aumentado substancialmente o culto em torno de sua pessoa.

Seu novo disco, Years Of Refusal, é também seu trabalho mais pesado e coeso. Produzido por Jerry Finn, que havia orquestrado a obra-prima You Are The Quarry, não deve angariar novos súditos para a corte de Morrissey, mas, para os convertidos, será matéria de calorosos debates.

Desde a capa, em que Morrissey aparece segurando um bebê, Years Of Refusal é um cd que soa jovem e urgente. A voz, grandiosa em algumas canções, falha aqui e acolá, e os temas são os mesmos de sempre (afinal de contas, quando é que ele vai parar de reclamar da vida, da solidão, da falta de compreensão do universo inteiro?), mas o que realmente importa é que temos um conjunto de 12 músicas inéditas, de um dos artistas mais coerentes e íntegros dos últimos 25 anos.

Para alguém que poderia ter sido engolido por um sistema alienante e cruel (onde estão, por exemplo, Lloyd Cole, Ian McCulloch e todos os grandes vocalistas do rock inglês da década de 80?), Years Of Refusal é uma afirmação de vitalidade e relevância.