terça-feira, 30 de março de 2010

Doces Vozes: Suzanne Vega e Tracy Chapman

Para o bem e para o mal, a cantora e compositora Suzanne Vega ficou conhecida no mundo inteiro por meio da canção Luka, de seu álbum Solitude Standing, de 1987.

O problema de Luka é que sua melodia alegrinha – quase tola – esconde sua real razão de ser: trata-se de uma música sobre um garoto física e psicologicamente maltratado por seus próprios pais. Acho que, à época do enorme sucesso da canção, muita gente que não sacava nada de inglês ficaria chocada ao descobrir tal coisa. Mas esta era e é Suzanne Vega, uma artista comprometida com causas sociais e de canções introspectivas e tristes.

Firmemente ancorada na tradição dos grandes trovadores americanos, Suzanne surgiu na metade dos anos 80 como uma lufada de ar fresco numa década em que os discos foram ficando mais e mais superproduzidos e o pop caminhava a passos gigantescos para a pasteurização e a repetição.

De certa maneira, ela abriu caminho para o enorme sucesso alcançado em 1988 pela estreante Tracy Chapman.

Em seu debute, Chapman recriou o ideário de mudanças e revoluções capitaneadas pela música de artistas como Joan Baez e Bob Dylan.

Quase inteiramente acústico, o disco encanta pela voz estranha e bela de Chapman, um timbre que remete a uma ancestralidade de injustiças sociais, sofrimento e busca por horizontes mais dignos.

Ironicamente, o grande sucesso do disco no Brasil foi a balada romântica Baby Can I Hold You, uma canção melosa que, de maneira alguma, reflete o cerne do trabalho de Chapman. Este precisa ser buscado em Fast Car, uma narrativa dolorosamente bela sobre pobreza, esperança e fuga.

Até hoje emociona.

segunda-feira, 29 de março de 2010

As Confissões de Nyro

Na semana passada, fui ver, no Centro Cultural do Banco do Brasil aqui de Brasília, a exposição Anita Malfatti – 120 Anos.

A mostra celebra a obra da grande pintora modernista que até hoje não é exatamente uma unanimidade entre críticos e historiadores de arte. Não sou nem uma coisa nem outra, por isso digo, simplesmente, que gosto dos quadros de Anita. Há uma procura de um caminho próprio que me atrai e cativa.

Sobretudo, me fascina muito a coragem desta moça que, bastante jovem, desafiou os padrões conservadores do provinciano mundo artístico brasileiro do início do século XX. Desafio que lhe custou a ira de seguimentos da imprensa, de parte da intelectualidade e da própria comunidade artística.

Fiquei matutando e, porque faço este tipo de associação o tempo todo, lembrei da obra de outra jovem que também ousou ser ela própria e pagou um preço caro por isso.

Nascida no Bronx, Nova Iorque, em 1947, Laura Nyro lançou seu primeiro disco com apenas 19 anos de idade, em plena era de florescimento do rock psicodélico.

Em 1968, o álbum Eli And The 13th Confession revelou uma cantora e compositora segura de seu talento e de sua singularidade. Nyro desprezou todas as convenções do blues rock alucinado praticado por 9 entre 10 artistas de sua época, para cozinhar uma saboroso cozido em que soul, jazz e gospel eram os ingredientes principais e as letras confessionais o tempero especial.

Infelizmente, ninguém prestou atenção. Coisa que aconteceria também nos trabalhos seguintes, até Nyro se afastar da música na década de 70.

Laura faleceu em 1997, devido a um câncer de ovário. Deixou uma companheira e um filho do primeiro casamento.

Passados mais de dez anos de sua morte, sua herança musical influencia uma variedade de artistas que vai de Suzanne Vega a Ricky Lee Jones, de Joni Mitchel a Lucinda Williams.

Artistas que a reverenciam e a cultuam como uma pioneira, uma desbravadora, uma mulher que trilhou um caminho individual único na história do pop americano.

sábado, 27 de março de 2010

50 Anos

É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã.

50 anos do nascimento do mito maior do rock brasileiro, Renato Russo.

quinta-feira, 25 de março de 2010

O Cara

Jim James é o cara.

À frente do grupo My Morning Jacket, solo ou como integrante do projeto paralelo Monsters Of Folk, este cantor, compositor e guitarrista norte-americano tem se destacado no front do rock independente, com discos que mergulham fundo nas raízes do rock (soul, country, blues e folk) e emergem com um som muito pessoal e instigante.

Junto ao My Morning Jacket, recomendo os dois últimos álbums, Z e Evil Urges, mais diversificados e de pegada mais pop. Mas vale conhecer It Still Moves e o duplo ao vivo Okonokos, no qual Jim e sua banda mostram o que é um conjunto de músicos com pleno domínio de seu ofício.

Em Monsters Of Folk , Jim se aliou a outros nomes ilustres da cena alternativa - Conor Oberst, M. Ward e Mike Mojis - e juntos fizeram um disco pastoral, harmônico e simples em que cada integrante tenta adaptar seu estilo ao do outro. Assim, a estrela de Jim brilha de forma mais discreta. O que não impede que as melhores músicas sejam cantadas por ele, é claro (ou será que estou puxando a sardinha para o lado do moço?)

quarta-feira, 24 de março de 2010

Meus Discos Preferidos: Pop

1Listen Without Prejudice. George Michael
Muita gente considera este disco uma espécie de suicídio comercial cometido por George Michael, justamente quando se encontrava no auge de sua popularidade (seu primeiro disco solo, Faith, havia vendido milhões de cópias e gerado quatro singles campeões).

Se comercialmente o disco não foi exatamente um grande sucesso, artisticamente é o momento em que Michael se define como músico, cantor e compositor.

Incrivelmente talentoso e com um tino certeiro para compor melodias grudentas, George fez sua obra-prima e depois resolveu brigar com sua gravadora. Isso sim foi suicídio...

2Dare. Human League
O Human League era um grupo formado por rapazes e garotas que faziam um som no qual a eletrônica estava a serviço de um forte apelo melódico.

Cada canção de Dare, o melhor disco da banda, tem uma imediata conexão com o ouvinte. Na melhor faixa de todas, Don’t You Want Me, eles atingem a perfeição do estilo que ficaria conhecido como tecnopop e ainda contam uma história engraçadinha sobre a separação nada amigável de um casal de namorados.

3Back To Mono. Phil Spector
Na verdade, trata-se de uma caixa com quatro discos contendo os grandes sucessos da extraordinária linha de montagem criada pelo produtor e compositor Phil Spector.

Grupos como The Ronnetes, The Everly Brothers e The Crystals brilham em canções hoje clássicas como Be My Baby, You’ve Lost That Loving Feeling, And Then He Kissed Me etc.

4Hitsville USA . Vários
Outra caixa, desta vez cobrindo a era de ouro da gravadora Motown, fundada por Barry Gordy no final da década de 50.

Na década seguinte, a fantástica fábrica de sucessos revelou nomes como Marvin Gaye, Stevie Wonder, Diana Ross & The Supremes, Gladys Knight, Jackson 5 e Martha Reeves & The Vandellas.

Passados quase 50 anos, esse grupo de artistas continua sendo regravado e reverenciado como uma das melhores coisas já geradas pela música popular contemporânea.

5Confessions On The Dance Floor. Madonna
Como todo grande artista pop, Madonna sempre foi mais competente nos singles que nos discos.

Mas Confessions resolve este problema, recorrendo a um truque da época das discotecas (período no qual o álbum se inspira descaradamente): as músicas se emendam umas às outras, tecendo uma bela tapeçaria de pop radiofônico, eletrônica, new wave e música oriental.

6Scissor Sisters. Scissor Sisters
Elton John, Pink Floyd, Paul McCartney, gay disco, música tecno, tudo pode entrar no liquidificador sonoro deste grupo americano abertamente camp e exagerado.

Em meio a teatralidade de grande parte do disco, despontam ótimos momentos (Take Your Mama e Return To Oz).

7- Life In Cartoon Motion. Mika
Assim como o Scissor Sisters, este jovem cantor nascido no Líbano faz um som glamouroso e ligeiramente brega.

Seu grande mérito é saber transformar o lixo em luxo, o exagero em sutileza, o melodrama em emoção pura.

Ainda que os vocais afetados atrapalhem aqui e ali, há beleza de sobra em canções como Relax e Happy Ending.

8Carpenters Gold. Carpenters
A dupla formada pelos irmãos Richard e Karen Carpenter viveu uma dramática e, no caso de Karen, trágica relação com a fama e o sucesso.

Mas, muito além dos problemas pessoais, ficou um conjunto de canções que encantam gerações há mais de três décadas.

Seja pela voz melancólica de Karen ou pelos arranjos orquestrais suntuosos, o legado dos Carpenters permanece sendo objeto de culto e devoção.

9Revoluções Por Minuto. RPM
O pop brasileiro sempre viveu de manifestações esporádicas de genialidade. A década de 80, no entanto, viu florescer um número impressionante de bandas que sabiam fazer música de inegável atrativo popular, ao mesmo tempo em que se alinhavam ao que se fazia de mais moderno lá fora. O RPM foi o mais bem-sucedido desse pacote.

Seu primeiro disco foi um fenômeno: vendas astronômicas, sucessos se acumulando no rádio e histeria nos shows. Se eles tivessem mantido tal ritmo, seriam algo como os Beatles - versão tupiniquim, é claro.

terça-feira, 23 de março de 2010

Viajando com o Rei

A grande beleza do blues e talvez sua lição definitiva para outros gêneros musicais: é possível envelhecer tocando com dignidade, paixão e garra.

B. B. King, 86 anos, a maior parte deles dedicados à música, se apresenta mais uma vez no Brasil.

Ele já não aguenta mais um show em pé, mas sua guitarra inconfundível e voz rascante ganharam poder, experiência e muita história.

Longa vida ao Rei!

segunda-feira, 22 de março de 2010

Na Ponta da Língua

Quando eu era adolescente, o termômetro que media o valor de um disco era a quantidade de músicas que eu sabia cantar de cor e salteado.

Dentro deste critério, os meus preferidos da época incluíam The Unforgetable Fire e Rattle And Hum, do U2, The Queen Is Dead, dos Smiths, Viva Hate, do Morrissey, The Head On The Door, do The Cure, além de todos do Legião e dos Paralamas.

Bons tempos. Hoje em dia, com toda a correria que implica qualquer vida adulta, fica cada vez mais difícil escutar um disco até furar (eu sei que nem cd’s nem muito menos mp3’s furam, mas fica a analogia com os bolachões negros da época). Decorar letra de música, então...
Mas há um disco lançado em 2004 que eu ouvi de maneira tão exaustiva, que as letras foram aos pouquinhos se fixando em minha memória: You Are The Quarry, álbum que marcou a volta de ex-vocalista dos Smiths, Morrissey, aos estúdios após um longo hiato de sete anos.

Nem o mais fanático adorador de Morrissey poderia prever um disco tão bom quanto The Quarry.

Quem poderia imaginar que depois de álbuns irregulares como Southpaw Grammar e Maladjusted, o bardo de Manchester voltaria a escrever letras de romantismo devastador como Come Back To Camden e The World Is Full Of Crashing Bores; que ele ainda seria capaz de rocks enxutos e perfeitos como Irish Blood English Heart e I Like You e que, quase no final do disco, apareceria uma das melhores músicas de toda sua carreira, The First Of The Gang To Die?

A única saída possível diante de um trabalho de tal magnitude é cair de amores. Não há um único momento risível (ok, talvez All The Lazy Dikes seja ligeiramente equivocada), as interpretações de Morrissey estão no exato meio termo entre emoção e drama e sua banda de apoio atingiu a coesão que, frequentemente, faltava nos discos anteriores.

Com You Are The Quarry , Morrissey fez, finalmente, um álbum à altura dos melhores momentos dos magníficos trabalhos dos Smiths.

Adeus

O rock americano despediu-se nesta quarta-feira, 17 de março de 2010, do cantor e guitarrista Alex Chilton, das bandas Big Star e Box Tops.

Aos 59 anos, o músico sentiu dores fortes e foi internado em um hospital de Nova Orleans, Estados Unidos. De acordo com informações da CNN, ele não teria resistido a um ataque cardíaco.

A notícia inesperada deixou a mulher do também compositor, Laura, em estado de choque. Alex era uma pessoa incrivelmente talentosa, lamentou o amigo John Fry.

Um dos padrinhos do rock alternativo americano, o ídolo cult se apresentaria neste fim de semana em Austin, Texas.

A notícia acima foi tirada do site do jornal Correio Braziliense e me atingiu de forma ao mesmo tempo triste e melancólica.

Chilton liderou, nos anos 70, uma das bandas mais atemporais e significativas surgidas nos Estados Unidos, o Big Star. Fazendo um rock simples, melódico e de clara inspiração no som dos Beatles, o Big Star simplesmente foi engolido por uma década onde o excesso e o exagero eram regras.

Quem foi esperto e sensível, escutou os três primeiros trabalhos da banda e depois formou a sua própria. Grupos como Wilco, R.E.M., Teenage Fanclub e muitos outros são herdeiros declarados do Big Star.

Quem quiser conhecer o trabalho do grupo deve correr para o primeiro disco, #1 Record, e escutar sem parar maravilhas como Ballad Of El Goodo, Thirteen e In The Street - esta última, inclusive, virou tema do sitcom That 70's Show, um delícia de programa que ainda hoje é exibido no canal Sony.

Com uma obra relativamente curta mas de influência gigantesca, Chilton e seu Big Star podem ser colocados na história do rock junto a outro "marginal" inesquecível, o Velvet Underground.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Despedida Festiva

Há pouco tempo, assisti a uma série de programas no canal de música VH1 que listava 100 artistas de um único sucesso nas paradas norte-americanas. O A-Ha era um deles. Nos Estados Unidos eles são conhecidos apenas como a banda do vídeo bonitinho e inovador de Take On Me. Fora isso, nada. Quanta diferença em relação ao Brasil!

No show que os noruegueses apresentaram em Brasília, nessa terça-feira, 16 de março, a quantidade de sucessos que foram emergindo do set list daria para encher um disco duplo! Da abertura com a música The Bandstand, do último disco, o bom Foot Of The Mountain, até o encerramento apoteótico com Take On Me, o que se viu foi uma sucessão de versões quase idênticas aos discos originais que levaram o público a uma viagem nostálgica, alegre e despretensiosa.

Nem mesmo os problemas vocais do vocalista Morten Harket, que pediu desculpas por não conseguir atingir as passagens mais altas das canções devido a uma infecção na garganta, apagaram o brilho e a emoção de se ouvir ao vivo clássicos absolutos dos anos 80 como The Sun Always Shines On TV, Stay On These Roads, I’ve Been Losing You e Manhattan Skyline – estas duas últimas as melhores composições da carreira do grupo.

Ao final do espetáculo, uma projeção agradecia ao público brasileiro e ao de Brasília. Mais uma demonstração da simpatia do grupo e do carinho mútuo existente entre esses noruegueses e os fãs brasileiros.

segunda-feira, 15 de março de 2010

O Retorno de Francisco Ferdinando

Uma das melhores bandas surgidas nos últimos dez anos, a escocesa Franz Ferdinand volta ao Brasil para uma série de shows agora em março.

Já os vi abrindo para o U2 em São Paulo , no ano de 2006, se não me engano. Na época, eles estavam com o segundo disco recém-lançado e o público pulou muito com uma seleção enxuta e perfeita de canções, que contemplava o material novo e os sucessos do repertório do grupo como Take Me Out e Michael.

A atual turnê divulga o terceiro álbum, Tonight: Franz Ferdinand, um trabalho que recebeu críticas heterogêneas e que parece não ter emplacado como os dois anteriores.

Para mim, o disco é Franz Ferdinand naquilo que eles têm de melhor: um enorme talento para criar músicas de ritmo dançante, melodias grudentas e atmosfera divertida.

Além do mais, o grupo não se acomodou com fórmulas garantidas de sucesso e explora novos territórios sonoros, a exemplo da eletrônica que domina a ótima Lucid Dreams e a singular música de trabalho, Ulysses.

É esperar para ver como eles trabalham essas mudanças no palco.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Mini-Guia: Britpop

O começo da década de 90, na Inglaterra, foi musicalmente nebuloso.

Após um período de excepcional qualidade e grandes bandas (The Smiths, New Order, Echo, The Cure, The Cult), os primeiros anos 90 foram como uma ressaca: o dolorido despertar após uma noite de farra, álcool e música alta.

A reação viria, aos poucos, com bandas que tiraram a poeira da melhor produção roqueira das ilhas, atualizando-a com alta tecnologia, ambiguidade sexual e uma arrogância a princípio necessária, mas que, em longo prazo, se revelaria a própria arma que assassinaria o movimento.

A seguir os melhores – e piores – discos da efervescente estética que ficaria conhecida como Britpop:

Essenciais:
1Park Life. Blur
Formado por ex-estudantes de artes, o Blur foi o mais criativo e diversificado dos britpoppers. Park Life é sua obra-prima, um disco que atira para todos os lados e acerta quase sempre.

2Definitely Maybe. Oasis
Considerados simples plagiadores por muitos, os rapazes do Oasis pareciam não ligar muito para críticas. Certíssimos: Definitely Maybe foi uma das estréias mais bem-sucedidas na história da indústria fonográfica inglesa.

3Dog Man Star. Suede
Enquanto o Oasis regurgitava o som dos Beatles, o Suede chupava descaradamente a estética glam de David Bowie e Marc Bolan. Tanto o primeiro disco quanto este são exemplos da ótima parceria musical entre o vocalista Bret Anderson e o guitarrista Bernard Butler. Depois da saída de Butler, o Suede jamais seria o mesmo.

4Urban Himns. The Verve

Um dos melhores discos dos anos 90, este segundo trabalho do The Verve se tornou um clássico graças a canções complexas, belas e inesquecíveis como Bittersweet Simphony, The Drugs Don’t Work e Lucky Man.

5A Different Class. Pulp

O título entrega: o Pulp era realmente um grupo a parte no cenário roqueiro inglês. Inteligentes, cultos e cheios de boas idéias musicais, eles coroaram sua carreira com A Different Class, um trabalho que satiriza o modo de vida da classe média britânica. Genial!

Vale conhecer:
1The Good Will Out. Embrace

Este bom disco tem rocks que lembram Oasis e baladas que remetem ao The Verve. Ou seja, originalidade não é o forte por aqui, mas nos momentos em que descobre sua identidade, o Embrace consegue emocionar.

2Elastica. Elastica

Rocks espertos e rápidos fazem do som do Elastica uma aparente banalidade. Por trás do óbvio, no entanto, pipocam a genialidade e o apuro de composições como Connection, Car Song e 2:1.

3I Should Coco. Supergrass

O imenso sucesso da canção Alright estigmatizou o Supergrass como banda de um hit só. Injustiça: seus discos são divertidos passatempos que reciclam Beatles, Kinks e Stones com personalidade e bom-humor.

Dispensáveis:
1- Standing On The Shoulder Of Giants. Oasis

Quando uma banda não tem mais nada a dizer, normalmente grava discos pretensiosos, longos e chatos. Como este quinto trabalho de uma carreira cheia de altos e baixos.2Nu-clear Sounds. Ash

Quando este disco foi lançado,o Britpop já estava morto e enterrado, mas ainda assim o Ash tentou reviver o formato. Infelizmente nada funciona. Felizmente a banda sumiu.

terça-feira, 9 de março de 2010

Amor, Imaginação e Sonho

Alguns discos têm o poder de evocar fortes lembranças e nos transportar no espaço e no tempo.

Alguns são extremamente representativos de uma determinada época e, ainda assim, atemporais.

Alguns conseguem nos encantar a cada nova audição da mesma maneira que encantaram na primeira.

Alguns poucos são tudo isso e mais um pouco. É o caso de Moon Safari, o segundo trabalho da dupla francesa Air.Formada pelos músicos Nicolas Godin e Jean Benoit Dunckel, o Air (iniciais para amour, imagination e rêve) se viu transformado em queridinhos da crítica quando do lançamento de Moon Safari, em 1998.

Seduzidos pela mistura de música ambiente, efeitos eletrônicos saídos de discos obscuros da década de 70 e vocais femininos sussurrantes e belos, jornalistas e modernos em geral elegeram o disco um dos melhores daquele ano.

Olhando em retrospecto, Moon Safari não apenas sobreviveu ao teste do tempo como superou trabalhos de estrelas ascendentes da época (caso do Hole e de Marilin Mason, por exemplo).

Mais de dez anos passados, o Air segue lançando trabalhos interessantes.

O último, Love 2, é certamente o melhor da dupla em muito tempo.

Mas a magia e o mistério de Moon Safari permanecem um caso único na história recente da música popular.

segunda-feira, 8 de março de 2010

8 de Março: Dia Internacional da Mulher

No dia 8 de março comemora-se no mundo todo o Dia Internacional da Mulher.

Apesar dos equívocos óbvios que cercam datas como essas, com celebrações que mais reforçam do que combatem alguns mitos idiotas, penso que é sempre bom que existam tais momentos como espaços de reflexão e debate.

Por isso, resolvi listar alguns fatos marcantes envolvendo mulheres no mundo da música. Como toda lista é arbitrária, fica o espaço aberto para lembranças diversas...

Anos 60:
- Joan Baez encabeça o folk politizado e abre caminho para outros trovadores;
Aretha Franklin brada por respeito em uma versão arrasadora da composição de Otis Redding, Respect;
- Janis Joplin deixa a platéia do festival de Monterrey boquiaberta com sua performance para lá de intensa;
- Grace Slick seduz alucinados de todos os cantos com White Rabbit, um conto de fadas pervertido e psicodélico;
- Diana Ross & The Supremes rivalizam com os Beatles pelas primeiras posições das paradas nos Estados Unidos;
- Rita Lee e os Mutantes subvertem o bom-mocismo do rock brasileiro e mudam a cara da música nacional.

Anos 70:
- Carole King lança o histórico Tapestry, um disco que serviu de inspiração para milhares de garotas e - por que não? - garotos;
- Patti Smith aproxima poesia e rock no magnífico Horses;
- Gloria Gaynor, Grace Jones e Donna Summer reinam nas pistas e se tornam divas da Disco;
- Karen Carpenter e seu irmão iniciam uma parceria vitoriosa que, infelizmente, terminaria de forma trágica para Karen;
- Rita Lee parte para uma bem-sucedida carreira solo;
- Gal Costa, Maria Bethania, Elis Regina e Clara Nunes se consagram como estrelas maiores da MPB;
- Kate Bush grava Wuthering Heights, um clássico absoluto da década;
- Siouxsie Sioux é a grande figura feminina saída das fileiras do punk inglês.

Anos 80:
- Madonna escandaliza os caretas americanos com sua performance para lá de ousada na primeira festa de premiação da MTV;
- Tina Turner deixa para trás um passado de abuso e violência por parte do ex-marido Ike Turner e lança Private Dancer, um dos campeões de venda da década;
- Cyndi Lauper faz de She's So Unusual um dos trabalhos mais representativos do pop oitentista;
- O grupo Go-Go's se torna um dos primeiros formados somente por mulheres a frequentar o topo das paradas;
- A cantora anglo-nigeriana Sade Adu inicia uma trajetória de grande sucesso com músicas sofisticadas e intimistas;
- O rock brasileiro vira produto de massa e com isso conhecemos e passamos a amar (ou odiar) Paula Toller e Marina.

Anos 90:
- Grupos como Sleater-Kinney, L7 e Bikini Kill protagonizam o movimento que ficaria conhecido como Riot Girrrls;
- O festival Lilith Fair viaja os Estados Unidos levando na bagagem somente artistas mulheres;
- Lucinda Williams sai da obscuridade e conquista corações com seu belo Car Wheels On a Gravel Road;
- Bjork inicia com o álbum Debut uma das carreiras mais criativas e instigantes dos últimos tempos;
- Sinéad O'Connor rasga uma foto do Papa em rede nacional e destrói sua popularidade nos Estados Unidos;
- O TLC, grupo de rappers americanas, chama para briga machões e otários do hip hop;
- Mariah Carey, com seu pop careta e certinho e seus milhões de discos vendidos, se converte na principal cantora pop da década.

Anos 2000:
Tudo é possível nesta última década:
- Missy Elliott ensina a fazer hip hop com inventividade;
- Madonna continua fazendo os shows mais ousados do mundo pop;
- Amy Winehouse se droga como uma louca mas lança dois discos inesquecíveis;
- Duffy, Adelle e Stelle mantêm acesa a chama da soul music;
- Bat For Lashes (Natasha Khan), St. Vincent (Annie Clark), Like Li e tantas outras andam na frente da vanguarda artística de nossos tempos;
- No Brasil cantoras como Roberta Sá, Marina de la Riva, Fernanda Takai e Vanessa da Mata nos dão esperança de que nem tudo está perdido no sonífero reino da música popular brasileira.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Discos e Arte

O Hipgnosis é um estúdio de artes gráficas inglês que nas últimas quatro décadas vem definindo e redefinindo o ofício de se fazer capas de discos.

Quase todas as capas do Pink Floyd, por exemplo, são criações dos artistas do Hipgnosis. A mais importante de todas é, sem dúvida, a capa para The Dark Side Of The Moon, tão marcante e antológica como a própria música do Floyd.

Mas para mim, ainda mais impressionante é a concepção da capa de A Momentary Lapse of Reason, disco de 1987. Setecentas camas de ferros, daquelas de hospital, dispostas numa praia inglesa compõem uma imagem surreal e inesquecível. O mais incrível de tudo é que não há truque fotográfico ou de computador. Os loucos realmente deslocaram quase mil camas pesadas para a praia de Devon e, devido ao mau tempo, tiveram que retirá-las e, depois, refazer tudo duas semanas mais tarde. O resultado é de impacto inquestionável.

Outras capas históricas do grupo são o rosto de Peter Gabriel derretendo em seu quarto álbum solo e a enigmática capa de The Houses Of The Holy, do Led Zeppelin.Recentemente o estúdio fez trabalhos para grupos como Muse e The Cranberries. Tudo, como de costume, inquietante, belo e criativo.

terça-feira, 2 de março de 2010

Recomendo

St. Vincent é o nome sob o qual a cantora, compositora e instrumentista Annie Clark se apresenta e lança discos.

Actor é seu segundo trabalho e, de uma certa maneira, uma continuação do também excelente Marry Me, disco de 2007 que revelou o talento desta interessante artista.

Ricos arranjos emolduram a bela voz de Clark, que avançou muito tanto como compositora quanto cantora.

A minha preferida aqui é Save Me From What I Want, mas todas as faixas trazem bons momentos, sobretudo porque Clark imprime melancolia, charme e até uma boa dose de humor em cada passagem.

Altamente recomendável para fãs de Regina Spektor, Rufus e Martha Wainwright e Tori Amos.

Luto

Acho que todo mundo que é apaixonado por literatura, livros e cultura fica um pouquinho triste com a morte de José Mindlin, aos 95 anos.

Colecionador, aficionado e, sobretudo, eterno amante do mundo dos livros, Mindlin foi um brasileiro como poucos.

A lacuna que ele deixa dificilmente será preenchida.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Os piores discos de todos os tempos

Nem só de Sgt. Peppers e Pet Sounds vive a discoteca de um homem. Quem compra muito, erra muito também. Alguns são erros divertidos. Outros, nem tanto.

A seguir uma listinha maldita dos discos mais calhordas que já caíram em minhas mãos:
1Supposed Former Infatuation Junkie. Alanis Morrisette.
Ai, ai, Alanis, após a promissora estréia com Jagged Little Pill, você vendeu trocentos milhões de cópias, criou uma verdadeira sub-raça de moçoilas iradas e cansativas cantando sobre desilusões amorosas e, de repente, colocou tudo a perder com este disco insuportável, longo e vazio.

2Alive III. Kiss.
Donos de um dos melhores discos ao vivo de todos os tempos, o Kiss manchou seu passado de reis dos palcos com esse caça-níquel descarado que mais parece um disco de estúdio com barulho de público superposto. Não é a toa que logo após eles voltariam a excursionar mascarados.

3 Voodo Lounge. The Rolling Stones.
Toda grande banda tem seu momento bandalheira. Mas entre todas as pisadas de bola dos Stones – que não foram poucas - nada pode ser pior que esse disco frouxo e cafona. Salva-se apenas Love Is Strong, que gerou também um dos mais belos vídeos já feitos.

4Never Let Me Down. David Bowie.
O Bowie dos anos 80 é uma tragédia. Com exceção do grande Scary Monsters, todo o resto de sua produção durante aqueles anos é medíocre. Never Let Me Down é a quintessência da porcaria camaleônica, um trabalho tão confuso e sem foco que fica difícil chegar até o final. Até o Tin Machine é melhor!

5Be Here Now. Oasis.
Quando o Oasis lançou este disco em 1997, eles já eram a maior banda britânica da época. Com a popularidade e o prestígio alcançado com Morning Glory – o disco anterior – eles poderiam ter feito literalmente qualquer coisa. Optaram, então, por fazer um disco pretensioso, oco, estúpido, arrastado e destituído de boas canções. Nem a pior sobra dos Beatles poderia ser tão ruim...

6The Great Escape. Blur.
Outra grande banda do Britpop, o Blur se caracterizou por um ecletismo maior em suas influências e por um maior refinamento em suas composições. Mas este disco é um verdadeiro samba do crioulo doido, um amontoado de canções metidas a engraçadinhas e, no final das contas, muito chatas.

7 Estampado. Ana Carolina.

Ao contrário do que muita gente pensa, não odeio Ana Carolina. Acho apenas que ela se vendeu de forma tão descarada que toda a qualidade de seu trabalho inicial se perde um pouco na minha memória. Este disco é o momento no qual a cantora interessante se torna um pé-no-saco. Muita canção de dor de cotovelo para tocar na novela das 8 e ainda uma parceria com Seu Jorge na moderninha O Beat da Beata, de letra tão absurda que beira o ridículo.

8Líricas. Zeca Baleiro.
Baleiro é o tipo de artista brasileiro que já deveria ter sumido do mapa há séculos. Tudo de mais pretensioso, cabeça e metido que pode existir na nossa música circula livremente pela obra deste maranhense pentelho. Para completar a desgraça, este disco de baladas horrorosas ainda traz uma versão cachorra para Proibida pra mim, “clássico” do Charlie Brown Jr. Saravá, meu pai!

9Fina Estampa. Caetano Veloso.
Falando bem sinceramente: Caetano Veloso já devia ter se aposentado há uns 20 anos. Nas últimas décadas, sua obra se resume a composições de gosto duvidoso, discos ao vivo e álbuns de versões. Fina Estampa é um apanhado de clássicos do cancioneiro hispânico tão tedioso que espanta até professor de cursinho de castelhano.

10Acústico MTV. Gal Costa.
Tentativa patética de aproximação de Gal da geração MTV, este disco pavoroso só serviu para evidenciar a decadência artística desta, antes, grande cantora. Assistir ao vídeo do programa é ainda mais constrangedor: Gal não se deu ao trabalho sequer de decorar a letra de certas músicas!