quinta-feira, 11 de outubro de 2012

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Fã de Carteirinha


Alguns artistas passam suas carreiras inteiras repetindo o mesmo disco. Para uma parte desses artistas, isso se torna até uma qualidade. É o caso, por exemplo, dos Ramones lá fora e de Jorge Benjor aqui no Brasil.


Para outros, a repetição vira um disfarce para a falta de criatividade, como se pode ver no trabalho do Weezer, grupo que chegou a receber um pedido de parte de seus fãs para que deixassem de gravar.


O grupo escocês Teenage Fanclub se encaixa, com honra, no primeiro grupo. Desde a estréia abençoada com Bandwagonesque, em 1991, eles vêm fazendo pequenas variações em sua sonoridade, sem jamais alterar radicalmente a qualidade melódica de suas canções.


Se Bandwogonesque é um disco que sobreviveu superlativamente em meio à grande quantidade de lixo gravada nos anos 1990 é porque seus acertos são atemporais: melodias grudentas e uma produção cristalina que faz a ponte perfeita entre as distorções típicas da época e a apropriação de modelos clássicos de composição (a influência de Beatles e Big Star é evidente).


Mas nos discos seguintes, o Teenage viu parte de seu público bandear-se para novas modas e modismos, enquanto eles continuavam fiéis a suas regras.


Quem permaneceu no séquito da banda, no entanto, teve a chance de entrar em contato com preciosidades com Don´t Look Back, Neil Jung (do disco Grand Prix), Your Love Is The Place Where I Come From (de Songs From Northern Britain) e The Cabbage (de Thirteen), músicas que só melhoram com o passar do tempo.


O novo disco, Shadows, segue a linha doce e etérea adotada em Man Made , lançado há cinco anos. Para quem é fã de longa data – e só agora, escrevendo este texto, é que me dou conta que amo esta banda há 20 anos – o disco acrescenta mais um capítulo à história de carinho criada entre o Teenage e seus admiradores.


Todas as canções são ótimas, mas em Baby Lee e When I Still Have Thee os escoceses atingem os picos de beleza que coroam suas melhores criações.


Não é certamente um trabalho que vá aumentar o público da banda. Tanto faz.


Nessas alturas, o que o fã-clube quer é exatamente o que eles vêm oferecendo: pequenos presentes em forma de música, a cada cinco anos.


É muito mais do que muita gente oferece em uma vida inteira...

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A alegria de Abu

André Abujamra é um caso à parte no cenário musical brasileiro. Seja como integrante de bandas marcantes do cenário independente (Os Mulheres Negras e Karnak), seja como compositor de trilhas de cinema, seja como artista solo, o filho do diretor e ator Antonio Abujamra sempre pautou sua carreira pela inventividade e o inconformismo com as regras viciadas da indústria fonográfica brasuca.

Seu novo trabalho, Mafaro, gerou um show excelente que é a cara de tudo aquilo que Abujamra sempre personificou: moderno, inteligente e prazeroso.

Integrando música e imagem sem recorrer à linguagem esgotada dos vídeo-clipes, o show proporciona uma experiência inesquecível.

Fui vê-lo sem conhecer nenhuma música do disco e, ainda assim, adorei.

Abujamra é um liquidificar sonoro: do funk à música árabe, passando pelo reggae e por sonoridades africanas, nada escapa do olhar tropicalista-modernista deste autor inquieto e singular.

Ah, e Mafaro, segundo ele, significa alegria. Escolha de nome muito apropriada, diga-se de passagem.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

The Boys In The Band


O Brasil pode ser um país carrasco com seus artistas mais originais. Ousadia, inventividade e originalidade são vistos por aqui como coisas perigosas. Melhor evitá-las. Ainda mais quando essas qualidades estão associadas à quebra de paradigmas sociais antiquados.


Quem, por exemplo, desafia os rígidos papéis designados para homens e mulheres deve estar pronto para receber pedradas. Foi assim com a trupe teatral Dzi Croquettes, que, em meio ao período mais terrível da ditadura militar, levou aos palcos cariocas um espetáculo da mais pura subversão artística.


Misturando vaudeville, cabaré, Broadway e música brasileira, o grupo de 13 homens se apresentava praticamente nu, com os rostos fortemente maquiados e uma performance visceral que desconhecia as fronteiras entre masculino e feminino.


É claro que a rígida moral vigente não gostou de tanta transgressão. Censura, perseguição e a truculência típica de estados militares, entretanto, não foram suficientes para barrar a incrível ascensão dos Croquettes, que, na sequência, conquistariam São Paulo e Paris.


É essa história pouco conhecida das gerações atuais que é narrada no documentário Dzi Croquettes dos documentaristas Tatiana Issa e Raphael Alvarez.


Por meio de depoimentos de atores, cantores, diretores de teatro e dos próprios Croquettes sobreviventes, os diretores reconstroem uma das mais fascinantes experiências teatrais já levadas a cabo nos palcos nacionais.


O legal do filme é que ele recupera imagens preciosas de shows do grupo. Perfeccionistas e profundamente investidos de seus personagens, os atores-cantores-dançarinos deslumbram e impressionam ainda hoje.


Ao final, apesar da melancolia da desintegração do grupo – dos treze membros originais, três foram assassinados, um morreu após um aneurisma cerebral e quatro foram vítimas da AIDS – fica a certeza da marca perene deixada por esse cometa de irreverência, talento e criatividade.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Desejos para 2011


Já dizia o clássico de Benjor, País Tropical, que todo mês de fevereiro “tem carnaval”. Este ano não tem: o carnaval ficou para março. A encheção de saco, no entanto, já está no ar. E junto com ela toda a mediocridade que nos reservam esses tediosos meses de férias no Brasil. Em nenhum outro período do ano se revela de forma tão marcante o imenso poço no qual se afundou a cultura de massa brasileira.



Fico pensando o que ficará destes últimos 20 anos numa retrospectiva futura. Dizer, por exemplo, que os melhores discos dos últimos tempos são Que Belo e Estranho Dia Para se ter Alegria (Roberta Sá) e Onde Brilhem os Olhos Teus (Fernanda Takai) é uma inverdade. Eles não os melhores, eles são os ÚNICOS!



O mesmo vale para Cidade de Deus e Lavoura Arcaica no cinema e O Filho Eterno e Dois Irmãos na literatura.



É muito pouco para um país de dimensões gigantescas como o nosso, que tem uma tradição impressionante na música popular e uma literatura que ainda merece o devido reconhecimento mundial (barreira, talvez, da periférica língua portuguesa).



É, por isso, que faço aqui uma pequena lista de desejos para 2011 (que não se realizarão, eu sei, mas, ainda assim, me faz bem pensar num mundo menos brega e escroto):
1 – O atual Big Brother (número 11!) será a última edição do programa. O público passivo e bundão finalmente se cansará dessa pseudo-novela da vida real que só faz deseducar e reforçar velhos preconceitos.
2 – As rainhas do axé terão calos inoperáveis nas cordas vocais.
3 – As pessoas não farão mais coração com as mãos.
4 – Todas as pessoas que mandarem beijos no coração terão uma parada súbita do mesmo.
5 – O twitter e o facebook ficarão 6 meses fora da internet e milhões de pessoas escravizadas por redes sociais serão obrigadas a voltar a se relacionar com seres humanos reais.
6 - A indústria da música encontrará uma saída saudável para sua crise.
7 – Os roteiristas brasileiros serão proibidos por lei de fazer novos roteiros e terão que aprender a escrever em alguma escola argentina.
8 – A Marisa Monte finalmente lançará discos com mais regularidade.
9 – Os Rolling Stones se aposentarão de uma vez.
10 – O U2 finalmente terá consideração com um público brasileiro e fará uma turnê de verdade em solo nacional (sem obrigar milhares de idiotas – como eu – a se deslocar para São Paulo).

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Do Baú

Quando Brian Wilson lançou seu primeiro disco solo em 1988, eu não conhecia nada de sua obra.
Tudo bem, eu já devia ter ouvido uma ou duas músicas dos Beach Boys, mas ainda estava muito longe de mergulhar na perfeição de Pet Sounds – álbum lançado em 1966 e universalmente aclamado como um dos melhores de todos os tempos – e de canções como Good Vibrations e Heroes And Villains.
Foi numa resenha da revista Bizz que li pela primeira vez sobre este homem tão reverenciado e influente. Como na época eu só podia comprar um disco por mês – ai, Jesus, como é que eu aguentava? – tive que esperar um pouco para conhecê-lo. Espera que foi plenamente compensada.
Brian Wilson – o álbum – é desses discos impecáveis da primeira à última faixa. Um artista renascendo de décadas entregues ao esquecimento surge resplandecente em canções dignas do melhor pop produzido por Beatles, Love, Monkeys, Phil Spector e, é claro, Beach Boys.
O ápice do disco é uma canção a capella, One For The Boys, na qual Brian homenageia seus antigos companheiros de grupo e ainda exibe toda a beleza de sua voz. Grandes interpretações seguem encantando em Melt Away , Let It Shine , Love And Mercy e no encerramento grandioso da épica Rio Grande.
É um disco, enfim, para escutar com um sorriso bobo na cara e a sensação de estar testemunhando o último suspiro criativo de um gênio da música.
Inesquecível.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A Decepção do Segundo Disco

Da onda de cantoras que pegou carona no sucesso de Amy Winehouse, a galesa Duffy foi, sem dúvida, a mais interessante.

Seu primeiro disco, Rockferry, vendeu mais de seis milhões de cópias e fez a loirinha famosa mundialmente. No disco, Duffy recria com maestria – e uma ajuda preciosa do produtor Bernard Butler – o estilo soul pop das grandes cantoras britânicas da década de 1960.

Que fique claro: ela nunca foi nenhuma Dusty Springfield, mas em canções próximas da perfeição como Distant Dreamer, Mercy e Warwick Avenue, ela também provava que não era uma Lulu.

Foi com um misto de surpresa e decepção que escutei, então, o sucessor de Rockferry. Lançado no final de 2010, Edlessly é inacreditavelmente ruim. Fica até difícil reconhecer a ótima cantora de antes nas faixas lacrimosas e bregas do novo disco. São apenas 30 minutos de áudio, mas o timbre de Duffy soa tão irritante, que fica difícil chegar ao final.

Não há nenhuma faixa de destaque, mas em Breath Away e Well, Well, Well ao menos mostra-se uma sombra distante da cantora que encantou tanta gente há alguns anos.

Não é muito, mas é uma luz no fim do túnel. Quem sabe, no próximo trabalho...

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Amy e os Globais

A propósito da passagem broxante de Amy Winehouse pelo Brasil, muito me chamou a atenção uma reportagem sobre um dos shows da moça – em São Paulo ou no Rio de Janeiro – em um programa de variedades vespertino da Rede Bandeirantes.

A repórter entrevistava celebridades – basicamente o que se convencionou chamar “globais” – que davam seus profundos depoimentos sobre sua devoção à cantora inglesa.

O melhor de tudo foi uma fofa com um desses rostos lindos, mas que a gente nunca sabe o nome, que declarou que gostava muuuuuuuuuuuito da Amy porque ela – e aqui eu faço questão de colocar aspas – “não faz música pop, faz música de verdade!” Ué?!? E a música pop é o quê? Delírio? Alucinação? Eu, na minha humildade, sempre achei que fosse “de verdade”, mas vai saber...

O fato é que Amy Winehouse tornou-se uma mula de salvação para todos que querem arrotar ares de sofisticação no seu gosto musical. Pessoas que nunca ouviram Billie Holiday ou Nina Simone ou mesmo as deliciosas preciosidades das gravadoras Motown e Stax (pop até a medula, viu, fofa?) saem por aí dizendo que Winehouse é o máximo, que canta horrores, além de viver permanentemente à beira do abismo – o que, na mente de alguns, confere autenticidade a tudo o que ela diz em suas letras confessionais.

Bem, para quem pode achar que estou escrevendo tudo isso para falar mal de Amy, vai um esclarecimento: gosto bastante dos dois discos já lançados por ela (Frank e Back To Black), mas acho que Winehouse é essencialmente uma cantora de estúdios. Longe da proteção de grandes produtores, é uma artista insegura, cambaleante e errática. Quem já viu algum de seus milhares de vídeos soltos pelo You Tube sabe do que falo.

No palco, Amy olha para o chão, para os lados, desaparece sem motivo aparente, ameaça desabar o tempo inteiro. Timidez? Provavelmente, mas o pior de tudo é ter que assistir sua voz falhando, desafinando, errando e mutilando impiedosamente as canções que ela mesma escreveu.

No único DVD oficial de sua carreira até o momento, I Told You I Was Trouble: Amy Winehouse Live From London, o suplício se estende por mais de uma hora. A banda até tenta salvar a noite, mas quem compra o DVD (ou vai ao show) o faz para ver a cantora e não seus músicos.

Acho que a pior coisa que poderia ter acontecido à Winehouse foi o sucesso em escalas gigantescas e a adulação cega de parte da mídia e do público.

Mas ainda tenho esperanças. Com um bom produtor e uma banda afiada, Amy ainda pode render excelentes canções. Que serão certamente muito pop, ao contrário do que disse a filósofa das novelas da Globo...

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Leonard Cohen – O Grande

Leonard Cohen é um dessas figuras que podemos chamar, sem perigo de exagero, de ícone.

Cantor, compositor, poeta premiado, desenhista e pintor, o canadense nascido em Montreal há 75 anos, construiu a partir do final da década de 1960 uma carreira sólida, pontuada por discos históricos nos quais a força de sua lírica e a delicadeza de sua musicalidade se tornaram influência inevitável para incontáveis cantautores mundo afora.

Diante de um histórico como esse, ninguém esperaria vê-lo a beira da bancarrota financeira em meados da década passada. Resultado de desfalques milionários feitos por um antigo empresário, o tamanho do rombo acabou obrigando o músico a colocar o pé na estrada, num momento em que ele certamente já pensava numa meditativa e refugiada aposentadoria.

A turnê decorrente dessas atribulações foi uma das mais bem-sucedidas e comentadas de 2009, nos Estados Unidos. Em shows de mais de duas horas, Cohen desfilou, diante de platéias maravilhadas, um repertório clássico atualizado com o charme e a sabedoria acumulados por quem atravessou décadas no show business sem jamais perder sua personalidade artística.

Ingressos esgotados e novos espetáculos agendados em países da Europa culminaram num disco ao vivo daqueles que a gente fica lamentando não estar junto ao público extasiado (Live In London, duplo, lançado em 2009).

Para quem não conhece nada de Cohen, é uma introdução mais que perfeita. Grandes canções de todas as fases da carreira de Cohen brilham no repertório: de pérolas dos primeiros discos, como So Long, Marianne e Bird On The Wire, até clássicos mais recentes como The Future, tudo aparece por aqui com a beleza e graça, um oásis de inteligência em meio ao marasmo da atual música pop de feições autorais.

Ele talvez não lance outros discos ou faça novas turnês. O encanto de sua obra, no entanto, permanecerá para sempre.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Melhores de 2010 – Parte 2


10 Fields Junip
Quem conhece o trabalho solo do cantor e instrumentista argentino radicado na Suécia, Jose Gonzalez, não deve ter se espantado com a qualidade deste disco. Em grupo, Gonzalez continua suavemente acústico e intimista, mas, sem dúvida, seu som ficou mais musculoso e variado. Uma pequena maravilha.

9Odd BloodYeasayer
O que parecia no disco de estréia um grupo experimentando com a velha world music, neste segundo disco revelou-se um gosto pela eletrônica e uma vontade de fazer chacoalhar o esqueleto. Repleto de boas idéias, Odd Blood dá mostras de uma banda que pode surpreender ainda mais.

8TransferenceSpoon
Com anos de bons serviços ao rock independente Americano, o Spoon lança discos cada vez mais complexos e interessantes. Transference podia ter ampliado as possibilidades comerciais do bem sucedido Ga Ga Ga Ga Ga, mas preferiu se aprofundar nas manias e fixações do vocalista do Britt Daniels. Ponto para ele.

7 - The DrumsThe Drums
O disco mais nostálgico dos últimos tempos é também um dos mais divertidos e gostosos de se ouvir. Uma volta ao rock dançante e assoviável da década de 1980, com influências que vão de Gang Of Four até The Smiths, isso sem nenhuma música ruim no meio do caminho. Um espanto!

6True Love Cast Out All EvilRoky Erickson & Okkervil River
Após uma vida cheia de altos e baixos, Roky Erickson – vocalista da banda de rock psicodélico 13th Floor Elevators – foi recuperado da obscuridade pelo grupo Okkervil River e juntos gravaram um dos álbuns mais bonitos de 2010. Enquanto o Okkervil se mantém à sombra, fazendo apenas a base instrumental, Erickson empresta sua voz rouca e marcada pelo tempo a canções de pura melancolia e dor guardada. Uma verdadeira pérola.

5 The SuburbsArcade Fire
Como fazer para superar dois discos simplesmente impecáveis? Simples: fazendo um disco conceitual sobre a vida nos subúrbios. Embora o tema não seja lá muito rock, o Arcade Fire consegue a proeza de ser grandioso sem perder a sensibilidade indie.

4American SlangThe Gaslight Anthem
Herdeiros diretos da paixão roqueira de Bruce Springsteen, esta banda de New Jersey traz um novo significado para o rock clássico americano, revestindo-o de uma atitude punk e de uma raiva controlada porém poderosa. Isso sem jamais perder a ternura.

3High VioletThe National
Dos acordes iniciais de Terrible Love, este disco já se afigura um clássico moderno. Retrato impecável de tempos de paranóia (Afraid of Everyone) e amores frustrados (Runaway), High Violet confirma o status do The National como uma das melhores – senão a melhor – bandas da atualidade.

2Band Of JoyRobert Plant
Ou de como dar as costas a uma das reuniões mais esperadas de todos os tempos (de sua ex-banda, Led Zeppelin) para se dedicar a uma carreira solo cada vez mais brilhante (isso quase aos 70 anos!). Band Of Joy dá seguimento ao mergulho nas raízes da música americana iniciado no sublime Raising Sand, substituindo a cantora Alison Krauss por uma banda mais roqueira e coesa.

1BrothersThe Black Keys
Este disco para mim é o melhor do ano passado por um motivo muito simples: não há nenhuma pretensão artística ou enrolação por aqui. Dan Auerbach e Patrick Carney fazem simplesmente o mais genuíno blues rock surgido em muito tempo nos Estados Unidos. Se os discos anteriores já eram ótimos, o grande salto qualitativo de Brothers está na sua variada gama de influências que incorpora soul, funk e rock clássico sem jamais perder a personalidade sonora da dupla.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Melhores de 2010

Bem, amigas e amigos, como eu sabia que ia acabar acontecendo: bateu saudade e resolvi reabrir o espaço. Espero que ainda tenha alguém interessado...

Para começar o ano, publico a lista dos meus discos preferidos de 2010. Em ordem decrescente, aí vão os 20 álbuns que mais me encantaram nos últimos 12 meses, divididos em duas partes. A segunda leva fica para amanhã.


Melhores de 2010

20Grinderman 2Grinderman
Projeto paralelo do grande Nick Cave, o Grinderman chega ao segundo disco com mais foco e sinais de que veio para ficar. Rock intenso feito por homens de meia idade cheios de cinismo e sarcasmo.


19Le Noise Neil Young
Neil
é uma verdadeira instituição do rock. Desde seus tempos de Buffalo Springfield, o homem vem deixando marcas indeléveis nas mentes mais inquietas e sedentas de mudanças. Le Noise flagra Young acompanhado apenas de suas guitarras (acrescido de um ou outro barulho trazido pelo produtor Daniel Lanois), em algumas de suas melhores canções nos últimos tempos.

18Write about LoveBelle & Sebastian
Esses escoceses vêm encantando o mundo desde meados da década de 90, quando estrearam com o belo Tigermilk. Para quem reclama que eles são sempre a mesma coisa, Write About Love pode surpreender. Há até um dueto bem pop com a diva Norah Jones.


17HeligolandMassive Attack
O trip hop ficou no passado, mas a genialidade de um de seus principais expoentes continua brilhando. Heligoland é assustadoramente atual, uma prova de resistência em meio à descartabilidade da música pop.


16This Is Happening - LCD Soundsystem
James Murphy
, o homem por trás do LCD, já avisou que este é seu último disco. Pior para a gente. Como em seus trabalhos anteriores, Murphy subverte o tédio repetitivo da dance music, batendo as mais diversas influências num liquidificador sonoro de altíssima voltagem. O New Order destes tempos, sem dúvida.


15Infinite ArmsBand Of Horses
O disco de rock mais contemplativo e harmonioso do ano.


14Teen DreamBeach House
Este “sonho adolescente” é uma viagem muito particular de uma dupla que funde as atmosferas sônicas do rock psicodélico com a música ambiente de Brian Eno.


13I learned the hard waySharon Jones & The Dap Kings
Enquanto o disco novo de Amy Winehouse não sai, a gente se deleita um bocado com esta cantora extraordinária e seu grupo afiadíssimo. Música soul reeditada para a geração download.


12Sigh No MoreMumford & Sons
Punk tocado com banjos e violões . É esta a receita certeira de Marcus Mumford e seu grupo. Receita que pegou a Inglaterra de jeito. Falta agora um hit redondinho para conquistar o resto do mundo.


11God Willin’ & The Creek Don’t RiseRay Lamontagne
Lamontagne
ficará para sempre marcado como o cantor de Trouble, a balada que o tornou conhecido nos Estados Unidos. Mas quem tem o ouvido aberto já percebeu que o músico é muito mais que isso. Blues, soul e folk tocados com paixão e grande sensibilidade.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

É o fim?

Amigos todos:
Vou ter saudades, aqui, desta página. Pois é. É chegada a hora. Do fim.
Vou fechar, hoje, dia 12 de novembro de 2010, esta Vitrola Encantada.
Que ela já andava meio bamba.
Houve algo? Não. Apenas acho que a Vitrola já deu. O que tinha de dar.
Tantos meses. A falta de vontade uma hora chega.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Aquele abraço

Queridas amigas e queridos amigos,
Na próxima sexta-feira inicio um necessitado período de férias. Espero reencontrá-los no final de setembro.
Grande abraço!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Coleção de Respeito


Uma vez ou outra na vida, a gente vê uma coisa boa acontecendo na indústria cultural brasileira.


A Abril Coleções, por exemplo, começou na semana passada a editar uma série de álbuns antológicos de um dos maiores compositores da nossa música, Chico Buarque.


Ao todo serão 20 discos, que cobrem desde os primeiros registros, ainda na década de 1960, até trabalhos mais recentes – antes de Chico enfiar na cabeça que agora é romancista.


O primeiro do lote é simplesmente uma maravilha. Alinhavando sucessos marcantes da carreira de Chico, como Cálice, Trocando em Miúdos, Até o Fim e Pedaço de Mim, é um disco que traz o adjetivo clássico impresso em cada uma de suas faixas.


Sempre que escuto um disco brasileiro como este, fico a pensar na riqueza que já foi nossa música.


Não é saudosismo nem nostalgia. É simplesmente uma constatação. Nem Chico fará algo assim novamente (e nem precisa, na verdade).


Esperar de outros, então, é como esperar pela segunda vinda do Messias...

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Discos e Arte


Um dos melhores discos lançados em 2009 tem também uma das mais belas capas dos últimos tempos: Journal For Plague Lovers, do grupo galês Manic Street Preachers.


Verdadeira instituição roqueira lá pelas ilhas britânicas, o Manic é pouco conhecido no resto do mundo. Aqui no Brasil, a cada disco lançado, dois ficam a ver navios. O grupo é uma espécie de The Clash do século XXI, sempre carregando seus álbuns com fortes mensagens políticas e uma paixão cada vez mais rara no mundo cínico da música pop.

Suas capas também impressionam. Em This Is My Truth Tell Me Yours a banda é fotografada em uma praia deserta, uma bela composição que lembra outra capa clássica, a de Heaven Up Here, do Echo And The Bunnymen. No outro extremo há capas ilustradas por pinturas fortes e quase incômodas.


A artista britânica Jenny Saville, uma herdeira direta do realismo cru do pintor Lucien Freud, emprestou uma obra forte e sem retoques para a capa do álbum The Holy Bible, considerado por alguns o grande momento do Manic ainda com o guitarrista Richey Edwards, que pouco tempo depois desapareceu misteriosamente e nunca viria a ser encontrado.

Em Journal For Plague Lovers, uma outra pintura de Saville, Stare, aparece na capa do álbum. A imagem, ao mesmo tempo simples e extremamente complexa, foi eleita em vários sites como a capa do ano. Curiosamente, o disco recupera as últimas letras escritas por Edwards antes de sumir do mapa. Talvez por conta disso os membros restantes do grupo resolveram recorrer novamente ao trabalho inquietante desta grande artista inglesa. Para um álbum de impacto, uma capa igualmente forte.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O Amor e a Cidade


Na canção Vambora, a cantora Adriana Calcanhoto diz que tem o cheiro da pessoa amada “dentro de um livro”.


Músicas, filmes e livros são realmente pequenas urnas nas quais depositamos recordações, cheiros, vozes, amores e ressentimentos.


Acho que, por acreditar nisso, me apaixonei de maneira tão intensa pelo filme Paris, Je T’aime. Composto de historietas de cinco minutos dirigidas por realizadores de várias nacionalidades, o filme presta uma homenagem terna a uma cidade que pode se gabar de ser a mais romântica do mundo.


Mas o filme não é exatamente uma comédia romântica ou mesmo um filme de amor. Em meio a tantos sentimentos abordados é a solidão e o desamparo que sobressaem de forma mais contundente. Sobretudo no último trecho, no qual uma americana narra num francês macarrônico sua primeira viagem à capital francesa.


Em apenas cinco minutos, um verdadeiro mundo de emoções aflora num texto tão lindo que só de me lembrar, fico arrepiado. Naqueles momentos finais de um filme já memorável, me reconheci na solidão e na tristeza da personagem. Mas, junto com ela, relembrei também a felicidade de descobrir uma cidade que ilumina a vida de quem já esteve ali para sempre.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

"The Songs That Saved Your Life": as melhores canções de Morrissey e The Smiths


1 I Know Is Over (The Smiths): a peça central de um dos melhores discos de todos os tempos, a terceira faixa de The Queen Is Dead disseca com poesia e arranjo impecável a celebrada dificuldade de Morrissey em lidar com o amor, seja no plano espiritual, seja no físico. Há uma versão ao vivo no álbum Rank que expande as possibilidades da canção, levando-a a picos de beleza ainda maiores.

2Seasick, Yet Still Docked (Morrissey): se The Queen Is Dead é a obra-prima dos Smiths, Your Arsenal é o ápice da carreira solo de Morrissey. Todas as canções do disco são excelentes, rocks redondinhos e espertos, mas Seasick... se impõe por sua delicadeza e tom confessional.

3How Soon Is Now (The Smiths): uma das canções-chave do rock inglês da década de 1980, este compacto que viria a integrar o álbum Hatfull of Hollow é, até hoje, uma das músicas mais influentes compostas por Morrissey/Marr. O trabalho de guitarra de Johnny Marr foi imitado e homenageado à exaustão, mas jamais igualado. Inclusive por ele próprio.

4The More You Ignore Me, The Closer I Get (Morrissey): à medida em que sua carreira solo progredia, Morrissey foi confirmando sua fama de Oscar Wilde do rock independente. Suas letras variam do escárnio ao cinismo, passando por momentos de puro romantismo desesperado. Esta música é um dos seus melhores momentos, uma perfeita combinação desses dois extremos.

5Panic (The Smiths): uma canção que não perdeu nada de sua atualidade. Impossível não concordar com Morrissey quando ele nos conclama a enforcar os estúpidos DJ’s que nos obrigam a escutar as mesmas porcarias dia após dia.

6 Everyday Is Like Sunday (Morrissey): Viva Hate, o primeiro solo de Morrissey, surpreendeu muita gente que não esperava nada de Morrissey sem Johnny Marr. Não só o recluso vocalista mostrou personalidade própria como ainda cravou dois verdadeiros clássicos em nossos corações órfãos: Suedehead e Everyday Is Like Sunday, esta última uma lindíssima evocação de dias cinzentos e manhãs morosas passadas diante do mar.

7I Won’t Share You (The Smiths): esta canção pouco conhecida dos Smiths é a faixa de encerramento do último disco da banda, Strangeways Here We Come. Simples e emocionante, confirma a crença de que o melhor é sempre guardado para o final.

8November Spawned A Monster (Morrissey): muita gente considera este o mais refinado momento do Morrissey pós-Smiths. A letra fala mais uma vez de pessoas desprezadas, tímidas e rejeitadas. No final, entretanto, Morrissey se permite algum otimismo: qualquer dia desses, sua maltratada personagem sairá por aí feliz da vida, vestida com as roupas que ela mesma escolheu.

9 There Is A Light That Never Goes Out (The Smiths): é difícil falar de The Smiths sem mencionar esta canção. Seja pela letra sublime, seja pelo arranjo orquestral inesquecível, tudo em There Is A Light... é clássico, imortal, perfeito, emocionante etc etc etc.

10 Come Back To Camden (Morrissey): outro momento arrepiante da pena afiada de Morrissey, Come Back... é a balada definitiva de um álbum, You Are The Quarry, em que boas baladas são abundantes.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Canção Essencial


A revista inglesa Q, em sua última edição, lista 1001 canções imprescindíveis em qualquer boa coleção.

Entre músicas escolhidas por figuras como os comediantes Ricky Gervais e Russel Brand (autor de um belo artigo sobre Morrissey e The Smiths) e por músicos das mais diversas áreas, uma foi eleita pela própria revista como a única que não pode faltar em nenhuma coleção: Good Vibrations do grupo americano The Beach Boys.

Lançada em plena efervescência da psicodelia, época em que LSD era consumido como se fosse balinha de hortelã, Good Vibrations foi o último grande sucesso dos Beach Boys, antes de Brian Wilson, gênio e louco do grupo, pirar de vez.

Em apenas três minutos são condensadas todas as experiências musicais levadas a cabo pelos artistas da época. São tantas idéias juntas que, muitas vezes, fica a impressão de que a música poderia durar uma hora. Wilson inclusive dizia que sua ambição era compor sinfonias adolescentes para Deus.

Com Good Vibrations ele chegou lá. Se Deus a escutou, é impossível dizer, mas para nós, pobres mortais, é a verdadeira prova de que Ele, de fato, existe.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Do Trip Hop para o Universo


O Massive Attack foi um dos grupos mais influentes e instigantes da década de 1990. Seus três discos lançados então – Blue Lines, Protection e Mezzanine – são nada menos que obras-primas.


Rotulados como um grupo de trip hop, o Massive está muito além de qualquer barreira imposta por categorizações.


Na sonoridade arrojada do grupo formado na cidade de Bristol, na Inglaterra, entram reggae, hip hop, música eletrônica e rock, numa mistura absolutamente única. No meio de sua oficina de lapidação de pedras preciosas, brilham vocalistas convidados do naipe de Shara Nelson (que eternizou sua voz na maravilhosa Unfinished Sympathy), Tracey Thor (magnífica em Protection e The Hunter Gets Captured By The Game) e o permanente colaborador Horace Andy, este um capítulo à parte. Veterano cantor de timbre peculiar, Horace foi resgatado da obscuridade para emprestar seu vocal inconfundível a pérolas como Man Next Door e Angel.


Os anos 2000 viram um Massive Attack excessivamente sombrio e sorumbático no disco 100th Window, um trabalho que, mesmo contando com Sinéad O’Connor, não disse muito a que veio.


A redenção vem sete anos depois, com o excepcional novo trabalho, Heligoland. Horace Andy está de volta, além de Damon Albarn (Blur) e Guy Garvey (Elbow), que dão um sabor ainda mais inusitado ao som de Dej Naja e Marshall – o núcleo do grupo.


Cada canção é uma obra cuidadosamente burilada, num artesanato musical cada vez mais sofisticado e raro em nossos dias.


O Massive Attack está de volta. E desta vez mais em forma do que nunca.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Escorpiões sem veneno



A propósito da iminente visita do grupo alemão Scorpions ao Brasil (em Brasília a apresentação acontecerá em 22 de setembro), devo confessar, com um tantinho de incredulidade, que já fui muito fã.


Lembro, especialmente, de um disco duplo ao vivo chamado World Wide Live que era simplesmente o Santo Graal do rock pesado para minha imaginação de 15 anos de idade. Eu e minha prima Aldeniza (cadê você, mulher?) escutávamos os quatro lados do vinil embasbacados com tamanho peso: as guitarras altíssimas, os vocais impecáveis de Klaus Maine, o ritmo destruidor, enfim um verdadeiro deleite. Até quando faziam baladas – quem não se lembra da mega-ultra-super balada Still Loving You? – o grupo caprichava na batida forte e intensa.


Bem, os anos se passaram e eu acabei descobrindo que o Santo Graal era um pouquinho mais difícil de se encontrar, mas a busca trazia recompensas incríveis. E nisso a velha picada dos escorpiões ficou perdida em meio aos discos guardados. Até que um dia escutei no rádio a balada Wind Of Change. Quase não consegui acreditar que aquele grupo que tanto me havia fascinado podia ser tão bundão e brega. Aquele assobio no início e no final da música era simplesmente inadmissível! Voltei correndo para o meu querido World Wide Live e – surpresa! – não é que o veneno tinha se perdido para sempre?


Pois é. O tempo não perdoa nada. A atual turnê foi anunciada como a última. Quem é fã de rock sabe que quase todo grupo tem pelo menos umas três últimas turnês antes de se aposentar por morte ou coisa parecida. De qualquer maneira, prefiro manter distância.


Melhor lembrar do Scorpions como aquela banda que abriu as portas do rock pesado para mim. Ao menos este mérito eles tiveram...

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Música e Política


As eleições estão aí e, ainda que se sinta no ar uma total descrença em relação à política, o fato é que não se pode escapar muito do assunto.

Eu, de minha parte, ando com tamanho abuso de candidatos, novatos ou veteranos, que até ver um santinho colado no retrovisor do carro me causa náusea. O jeito é escutar alguns discos nos quais boa música e política andam de mãos dadas.

O namoro entre temas políticos e música é longo e remonta aos trovadores folk que, munidos apenas de um violão, desafiavam o status quo com muita poesia, revolta e desejo de mudança. Um dos pais do gênero, o cantor Woody Guthrie, tinha a frase “esta máquina mata fascistas” gravada em seu violão.

Não por acaso, um dos herdeiros mais importantes de Woody é Bob Dylan, músico que expandiu a paleta de temas do rock, abrindo espaço para canções de protesto, críticas agudas aos poderes estabelecidos e libelos contra as guerras.

John Lennon escutou e certamente teve um choque. Embora em sua emblemática canção God, na qual declara sua descrença em relação a todos os credos, fale claramente que não mais acredita em Dylan, não pode existir dúvida que a escrita daquele foi fundamental na transformação operada nas letras e nos posicionamentos do ex-Beatle.

Lennon, aliás, enfrentou problemas com as autoridades americanas por conta de sua oposição à guerra do Vietnã e à política bélica americana. Ainda que muitas de suas formas de protestos hoje pareçam um tanto ridículas (ficar deitado por dias num quarto de hotel? Eu heim...), não se pode negar a influência de canções pacifistas como Imagine e Happy Xmas (War Is Over).

A década de 70 foi pródiga em artistas que saíram de seus casulos para questionar a realidade circunstante. Do reggae de Bob Marley ao punk do The Clash, muita gente reclamou para o rock uma posição de destaque na luta pelos direitos civis. Discos clássicos dessa vertente são What’s Going On (Marvin Gaye), Innervisions (Stevie Wonder), Superfly (Curtis Mayfield), Exodus (Bob Marley), o primeiro do The Clash, Entertainment (Gang Of Four) e Fresh Fruit For Rotting Vegetables (Dead Kennedys), os dois últimos já na década de 1980.

Os tempos atuais, embora mais céticos e cínicos, não têm se furtado ao enfrentamento de arbitrariedades e desmandos em geral.

O governo do ex-presidente americano, George W. Bush, por exemplo, foi um prato cheio para músicos das mais variadas vertentes. Até um gênero tradicionalmente mais alienado como o country encontrou no grupo feminino Dixie Chicks uma voz contra as guerras arquitetadas pelo doce Bush. American Idiot (Green Day), Living With War (Neil Young), At War With The Mistics (The Flaming Lips), The Rising (Bruce Springsteen), Around The Sun (R.E.M.) e New Wave (Against Me!) estão entre os muitos trabalhos que escancararam a hipocrisia e a violência da administração Bush. Alguns capturaram a insatisfação de parte dos americanos com sucesso (American Idiot e The Rising), enquanto outros apenas geraram revolta nos setores mais conservadores da sociedade (Living With War), o que, de qualquer forma, devia ser o objetivo primeiro dos seus autores.

Entre acertos e erros, no entanto, a nova onda de discos políticos foi fundamental para reestabelecer o rock como plataforma de idéias e veículo de mensagens de insatisfação.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Doces Vozes: Kate Bush

Assim como a maioria das pessoas, conheci Kate Bush por meio da canção Wuthering Heights. Adaptação da trágica história de amor entre Heathcliff e Cathy, protagonistas do romance O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Bronte, a canção fez a fama mundial de Kate – na época com apenas 20 anos de idade – mas também a rotulou como cantora de um sucesso só. Injustiça: Kate tem uma obra importante e influente que vem sendo redescoberta por novas gerações de músicos e ouvintes.

Seu disco de 1985, Hounds Of Love, é considerado um verdadeiro marco do pop inglês da década de 80, uma mistura excitante de experimentalismos musicais, sonoridades celtas e poesia clássica. Na faixa Running Up That Hill e na canção-título Kate faz uma síntese impecável de tudo isso.

Também gosto muito do disco Aerial, um trabalho duplo mais suave e delicado, mas igualmente belo. Aerial é, até agora, o último lançado por Kate. Como ela costuma dar intervalos longos entre seus álbuns – foram 14 anos entre os discos The Red Shoes e Aerial – ainda podemos esperar muito desta artista instigante e imprevisível.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Rádio Pirata

Toquem o meu coração
Façam a revolução
Está no ar, nas ondas do rádio
No submundo repousa o repúdio
Que deve despertar
Rádio Pirata, RPM


No Reino Unido da década de 1960, em plena efervescência da beatlemania, as rádios oficiais britânicas tocavam uma porcentagem mínima do rock e do pop produzido nas Ilhas e na matriz americana.

Em socorro de uma nação sedenta por renovação musical, navios navegando as águas do Mar do Norte transmitiam uma programação musical totalmente voltada para o novo estilo da juventude da época.

Essas rádios, que ficaram conhecidas como rádios-piratas, divulgaram novos artistas tanto das Ilhas Britânicas quanto os vindos dos Estados Unidos, mas foram perseguidas e combatidas pelo sisudo Parlamento Inglês, assim como os antigos piratas dos mares o foram pela Marinha de Sua Majestade.

É esse o pano de fundo - real - do enredo do filme Piratas do Rock (The Boat That Rocked, Inglaterra, 2009). A trama romantiza o estilo de vida alternativo e contracultural dos dj’s, vistos aqui como verdadeiros heróis dispostos a tudo para levar seus ídolos ao carente público inglês. É claro que há muita liberdade poética e nem sempre a trilha sonora corresponde ao período em que se passa a história (1966).

Aliás, a trilha é um capítulo a parte: de The Kinks a Rolling Stones, passando por Beach Boys e The Hollies, o filme faz um passeio por uma época dourada da música jovem, na qual atitude e rebeldia caminhavam lado a lado com talento e criatividade.

Um filme para se ver com o volume da televisão ligado no máximo.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Filha de Peixe

Ter um sobrenome famoso é uma bênção e uma maldição. Deve facilitar absurdamente as coisas, mas por outro gera um imenso peso e uma eterna comparação.
Na maioria das vezes, artistas que se valem de parentes brilhantes para chamar a atenção são uma farsa.
Aqui no Brasil, muito mais que isso, são uma verdadeira praga. Pensemos, por exemplo, em Preta Gil. Qual o talento da moça? Cantar, não canta. Como atriz é um vexame. Como apresentadora limita-se a encarnar um modelo de mulher-viado que existe aos montes por aí. No entanto, a bela – sim, eu a acho bonita – não sai dos holofotes desde que entrou no meio artístico. Se não fosse filha de quem é, fico imaginando quanto tempo teria durado essa carreira baseada na abundância da falta de talento (é paradoxal, mas é isso mesmo).
Lá fora, onde a concorrência e o profissionalismo ditam as regras, o buraco é bem mais fundo.
Não que não exista nepotismo e gente sem talento sendo empurrada pela goela do público. Mas para se estabelecer é bem mais complicado. Michael Douglas, só para falar de um caso clássico, passou anos amargando comparações com seu pai, o grande Kirk Douglas, até se afirmar como ator de respeito e produtor ousado.
O mesmo peso deve ter perseguido a atriz e cantora Charlotte Gainsbourg. Filha de um dos maiores ícones da cultura popular francesa, o multimídia Serge Gainsbourg, Charlotte estreou ainda pré-adolescente num dueto com o próprio pai, escandalosamente intitulado Lemon Incest. Obviamente que Serge, sendo um dos maiores provocadores de todos os tempos, não poderia deixar passar em branco a chance de chocar moralistas e hipócritas de todos os matizes.
Mas Charlotte é uma artista com vida própria. Recentemente cometeu seu próprio momento ultrajante ao revoltar platéias do mundo inteiro, que se indignaram com as cenas de mutilação genital mostradas no filme O Anti-Cristo, de Lars Von Trier. Para lá da polêmica, quem tem a cabeça um pouco mais arejada conseguiu perceber uma atriz forte, corajosa e de complexos recursos. Para mim, é a grande estrela do filme, de resto uma obra menor de Trier.
No campo da música, Charlotte também tem se revelado uma cantora muito interessante. Não que ela cante exatamente. Na tradição de sua mãe, a inglesa Jane Birkin, Charlotte sussurra, geme e desafina em iguais doses. O truque é a habilidade para usar essa voz pequena e limitada para criar mágica.
No seu primeiro disco, 5:55, Charlotte fez um trabalho ancorado no pop da dupla francesa Air, com o auxílio luxuoso do cantor e compositor Jarvis Cocker. É, portanto, um disco bastante francês, apesar de boa parte das letras serem cantadas em inglês. Tudo é muito lânguido, as texturas são muito delicadas e os arranjos são feitos sob medida para o balbucio de Gainsbourg.
O novo disco, Irm, vem produzido pelo enfant terrible da música americana, Beck. Como no trabalho anterior, as inclinações artísticas do produtor dão a tônica, com mais experimentalismos e batidas eletrônicas desta vez. A favor de Charlotte, deve-se dizer que ela está mais solta como intérprete.
Só me pergunto se, deixada sozinha sem a ajuda desses gênios do estúdio, a moça conseguiria gravar ao menos uma música que se salve.
É esperar para ver.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Sweet Soul Music


Já falei dela aqui no Vitrola, mas nunca é demais relembrar o incrível talento desta cantora americana e de seu soberbo grupo de apoio. Estou me referindo a Sharon Jones & The Dap Kings, que estão de disco novo, o excelente I Learned The Hard Way.

Uma parte da crítica continua torcendo o nariz para eles, acusando-os de simplesmente requentar as fórmulas consagradas da soul music e do funk, sem acrescentar nada de contemporâneo ou de pessoal.

Quem não está nem aí devem ser eles, que continuam fazendo sua música deliciosamente dançante e, porque não, absolutamente retrô.

O novo disco não apresenta mudanças significativas em relação aos ótimos 100 Days, 100 Nights e Naturally, mas enquanto nos trabalhos anteriores a sonoridade era puro anos 60, agora sente-se mais presente a estética pesada e suja dos anos 70.

Seja como for, Sharon continua sendo a melhor cantora de soul da atualidade (sua única concorrente de peso é Amy Winehouse, mas esta parece estar mais preocupada com os tablóides que com o novo disco) e os Dap Kings o melhor grupo de apoio que uma fofa pode desejar.
Irresistível!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Animados e Sonorizados

Meu personagem preferido de desenho animado é um tubarão gigantesco que atendia pela alcunha de Tutubarão.
Contrariando o mito de fera dos mares, o tubarão animado é um animal covarde, desajeitado, efeminado e absolutamente adorável.
Para completar, Tutu toca bateria num conjunto musical formado por jovens que, invariavelmente, se envolvem em mistérios e confusões. Tudo isso passado num mundo submarino futurístico.
A fórmula é a mesma criada no desenho Scooby Doo e imitada em incontáveis desenhos desenvolvidos pela Hanna-Barbera na década de 1970. Mas Tutubarão é muito mais divertido e cativante que o cão medroso imortalizado por Scooby.
Desenhos com bandas musicais foram uma verdadeira moda a partir do final da década de 1960. Em The Archie Show , a banda adolescente The Archies conseguiu perpetrar um sucesso mundial com a simpática canção Sugar, Sugar.
De lá para cá, surgiram outras bandas clássicas como Josie e As Gatinhas e até mesmo os garotos do Jackson 5 acabaram virando personagens animados, sempre embalados por músicas antológicas como ABC e I Want You Back.
Recentemente, uma banda virtual alcançou um sucesso e uma projeção pelos quais muitos grupos “reais” dariam um braço e uma perna. O Gorillaz era um projeto despretensioso do vocalista do Blur, Damon Albarn junto ao cartunista Jamie Hewlett.
Com Albarn no comando das criações musicais e Hewlett responsável pelo visual, o grupo formado pelo melancólico 2-D, o misto de Syd Vicious com Keith Richards chamado Murdoc mais a diminuta Noodle e o peso-pesado Russell vendeu cerca de 20 milhões de discos de seus dois primeiros trabalhos (Gorillaz e Demon Days) e já está com um novo registro nas lojas (Plastic Beach).
Acho o Gorillaz 50% lixo e 50% luxo. Em meio a muita bobagem e ao excesso de hip hop, há maravilhas que arremessam a música pop para o futuro. Sobretudo nas colaborações, o Gorillaz encontra o meio termo perfeito entre as aspirações artísticas nem sempre muito claras de Albarn e a concepção de uma música pop contemporânea altamente inteligente e ousada.
Basta escutar, no novo disco, a perfeição de Stylo, que junta o rapper Mos Def e o mestre do soul Bobby Womack. O resultado é tão surpreendente que chega a assustar.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Cru e radical

Aos poucos começam a sair no Brasil reedições de discos de peso da história do rock.

Exile On Main Street (Stones), Tapestry (Carole King), I Do Not What I Haven´t Got (Sinéad O´Connor), todos chegaram novamente às loja em edições duplas remasterizadas e com belo tratamento gráfico.

Agora é a vez de Raw Power, álbum histórico de Iggy Pop e seu louquíssimo grupo The Stooges. Que eles são responsáveis por muita coisa boa que surgiu a partir do final dos anos 70 – e estou falando do glam, do punk, do gótico, do grunge e do rock experimental – já é um fato pacífico, mas a pergunta que eu me faço é: quantas pessoas realmente conhecem o som dos Stooges?

Donos de uma discografia pequena, os caras talvez assustem um pouco por conta de sua sonoridade suja, agressiva e intensa. A imagem de Iggy coberto de sangue, em confronto direto com sua audiência talvez seja a tradução perfeita do que é um disco dos Stooges.

Não é para qualquer um, mas definitivamente traz recompensas imensas para quem se dispõe a adentrar neste universo de noites regadas a drogas, sexo, perigo e marginalidade.

domingo, 11 de julho de 2010

Música e Cinema - O Lado "B"

Por Lázaro Luis Lucas
Muito antes mesmo de ter acesso a uma cópia de Cannibal Holocaust, lançado há alguns meses atrás no Brasil pela Platina Filmes, pude, por meios ilícitos, ouvir a maravilhosa trillha sonora composta pelo italiano Riz Ortolani para o longa-metragem do diretor Ruggero Deodato, de 1980. Os dois trabalhariam ainda juntos naquele mesmo ano em La Casa Sperduta Nel Parco - em inglês House On The Edge Of The Park.
E é exatamente em razão do lançamento da obra máxima de um cineasta tão desinteressante quanto reverenciado por críticos e cinéfilos de todo o mundo, que apresento-me aqui diante dos leitores do Vitrola Encantada para expressar a minha paixão pela composição de Riz Ortolani para o filme Cannibal Holocaust.
Antes de tudo, porém, quero deixar bem claro que não tenho nenhum tipo de formação musical. Sou apenas um apaixonado por filmes e suas trilhas sonoras, como muitos de vocês aqui.
Nascido em 1931, o compositor e regente Riziere "Riz" Ortolani iniciou sua carreira no cinema em 1962 com o pseudo-documentário Mondo Cane, dirigido por Franco Prosperi, Gualtiero Jacopetti e Paolo Cavara.
À época, o enorme sucesso da música-tema More, composta por Ortolani e Nino Oliviero e com uma nova letra, agora em inglês, escrita por Norman Newell, viabilizou sua indicação ao prêmio de Melhor Canção no Oscar de 1964. Antes porém, o filme já havia conseguido a proeza de disputar a Palma d'Ouro no 15º Festival de Cinema de Cannes, perdendo-a para O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte.
Bastante produtivo, Riz Ortolani colaborou com todo tipo de cineasta. Dos bagaceiras Lucio Fulci e Umberto Lenzi aos autorais Vittorio de Sica e Dino Risi. Trabalhou ainda com os acadêmicos Edward Dmytric e Lamont Johnson e com o "1001 utilidades" Damiano Damiani, cineasta, infelizmente, subestimado por críticos e fãs de cinema. A produção era tamanha, que só em 1969 foram 14 trilhas sonoras assinadas por ele.
Compôs, ainda, em 1970 a trilha internacional para o filme O Cangaceiro, de Lima Barreto. A original, é bom deixar registrado, é de Gabriel Migliori (1909-1975). Não raro, suas composições musicais superavam em qualidade as obras cinematográficas a que serviam.
Assim, em 1980, com prestígio dentro e fora da Itália, Ortolani une-se a Ruggero Deodato em duas empreitadas cinematográficas. Naquele ano, e nos anos seguintes, são lançadas em todo "mundo livre" as obras La Casa Sperduta Nel Parco e Cannibal Holocaust.
Desagrando a todo tipo de segmento social existente à época, em particular grupos ligados à defesa e à dignidade da mulher e as sociedades protetoras dos animais, ora os filmes eram reeditados ora censurados.
Em alguns países, os filmes eram retirados de cartaz e em outros nem chegavam a entrar. Decisões mais radicais os baniam de vez. Ruggero Deodato chegou, inclusive, a ver o sol nascer quadrado por conta de Cannibal Holocaust. Alguns afirmam que há, ainda hoje, algum mandado de prisão para ser cumprido contra o cineasta.
A verdade, depois de se abstrair toda a lenda urbana em torno dos filmes e de seu realizador, é que estamos diante de filmes muito ruins, mas, em particular no caso de Cannibal Holocaust, obrigatórios para todo cinéfilo de respeito.
Em Cannibal Holocaust, a inesquecível música de Riz Ortolani combinada à excelente edição de Vincenzo Tomassi e ao trabalho do fotógrafo Sergio D'Offizi faz o contraponto necessário à canastrice do elenco principal e de apoio, ao roteiro ridículo - admito que a ideia central é bastante original - e à direção pífia de Deodato.
Observe que Ruggero Deodato faz uso dos mesmos golpes baixos que o personagem Alan Yates (Gabriel Yorke), um documentarista pilantra e mau-caráter, na busca incessante por fama e fortuna.
Quanto ao trabalho de Riz Ortolani, as composições Cannibal Holocaust (Main Theme), Adulteress' Punishment - presente em um dos momentos mais desagradáveis do filme - e Crucified Woman - fundo musical para o pseudo-documentário The Last Road To Hell - não só imprimem dramaticidade aos momentos mais marcantes - em todos os sentidos - do filme como enriquecem o vasto universo das trilhas sonoras compostas originalmente para o cinema.
Uma obra-prima, sim, a música de Cannibal Holocaust.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Letra e Música

A revista Bravo deste mês apresenta matéria de capa na qual dá uma geral na evolução das letras em um gênero em que letra deveria ser tudo, menos importante: o rock.

Tendo como mote a iminente visita de Lou Reed à próxima Flip Festa Literária de Parati – o texto do jornalista Artur Dapieve tece um breve histórico das mudanças sofridas pelas letras, mas falha ao não retratar o contexto político-social que permitiu o surgimento de mestres como Bob Dylan e o próprio Reed.

Sim, porque grandes letristas que são, nem Dylan nem Reed seriam possíveis sem a erupção social e cultural que balançou o mundo nos anos 60. E também é meio que forçar a barra chamar Lou Reed de “filho” de Dylan.

Uma diferença de poucos anos separa os dois e pode-se dizer que representam lados opostos do mesmo fazer poético. Dylan, com sua pena mais politizada e erudita, é uma versão moderna de trovadores medievais, bardos renascentistas e artistas de tradição folk que usavam sua música como arma contra a opressão.

No lado oposto, Reed está muito pouco preocupado com as misérias deste mundo. Sua lírica investe pesado em temas mais urbanos como prostituição, drogas e sadomasoquismo. Seu universo contempla travestis, moradores de rua, o submundo de Berlim e de Nova Iorque.

Se Dylan eternizou-se com um violão e uma gaita, Reed distorceu sua guitarra de forma ensurdecedora e pariu, de uma tacada só, o punk e o rock alternativo.

O que é inquestionável tanto em um como no outro é a qualidade de suas produções poéticas, a influência de seus discos e a importância de suas carreiras.

O que nos leva a pensar no estado de nossa própria produção musical. Que seja cada vez mais claro que o futuro não nos reserva nada da qualidade de um Caetano Veloso ou de um Chico Buarque, isso é evidente.

O terreno sempre movediço da música popular permite o aparecimento aqui e ali de focos de inteligência e sensibilidade. Genialidade e clarividência, no entanto, são coisas do passado.

Num país em que se lê muito pouco e no qual a educação pública vive um processo de total desmantelamento, o que se assiste é um empobrecimento radical dos textos cantados. Seja pela adoção da linguagem sintética vinda da internet ou por simples preguiça intelectual, o fato é que não se aproveita quase nada dos escritos desses jovens que fazem música por aí.

Será realmente a geração do “puta falta de sacanagem”, que devora Harry Potter e faz fila para ver Crepúsculo, quem carregará a tradição de grandes letras na nossa música? Acho difícil.

Ou alguém acredita que o Restart e o NXZero ainda farão uma letra que chegue aos pés de Índios?

O Exagerado

A emoção acabou
Que coincidência é o amor
A nossa música nunca mais tocou
(Codinome beija-flor)
Hoje, 7 de julho de 2010, são 20 anos de morte de Agenor de Miranda Araújo Neto, o cantor e compositor Cazuza.

terça-feira, 6 de julho de 2010

O Homem de Preto

Lançamentos póstumos sempre foram uma mina de ouro para gananciosos executivos de gravadoras e um deleite para urubus de todos os tipos.

Estima-se, por exemplo, que Elvis Presley tenha vendido muito mais depois de morto que quando rebolava seu famoso quadril nos hotéis de Las Vegas.

A mesma praga parece assombrar outra lenda da música americana, o cantor Johnny Cash. Desde sua morte em 2003, incontáveis coletâneas cobrindo a carreira do primeiro e único “Homem de Preto” pipocaram e até mesmo um filme sobre sua infância e início de carreira foi lançado (Johnny e June, que rendeu, inclusive, um Oscar à atriz Reese Witherspoon).

Mas há dois lançamentos póstumos que podem ser colocados acima de qualquer suspeita: o disco de 2006, A Hundred Highways e o recém-lançado Ain´t No Grave. Ambos pertencem à magnífica série gravada por Cash ao lado do produtor Rick Rubin e conhecida como American Recordings. Os quatro discos iniciais da série, lançados a partir de 1994, reapresentaram Cash para uma geração de ouvintes que desconheciam, ou conheciam muito pouco, a obra do autor de dois mitológicos álbuns gravados ao vivo em penitenciárias norte-americanas (At Folson Prison e Live At St. Quentin).

É claro que não se pode esquecer do trabalho de gênio feito pelo produtor Rubin, que apresentou a Cash uma nova safra de compositores e reduziu os arranjos ao mínimo necessário, ressaltando a voz grave e intensa de Cash. Foi assim que surgiram versões magníficas de canções alheias como One (U2), The Mercy Seat (Nick Cave), I Won´t Get Back (Tom Petty) e Rusty Cage (Soundgarden), ao mesmo tempo em que emergiam as belíssimas composições do próprio Cash.

Todos os cinco discos da série são indispensáveis, retratos irretocáveis de um grande artista exorcizando seus demônios e renascendo como intérprete. Nesse sentido nada pode ser mais tocante que a recriação da canção Hurt, do Nine Inch Nails.

Presente no quarto álbum da série, The Man Comes Around, Hurt aparece despida dos adereços eletrônicos presentes no original, revelando cada mínima nuance de um homem já lentamente destruído pela doença que o levaria alguns meses depois. O vídeo da canção mostra a fragilidade do homem. Mas o que fica na cabeça é a fortaleza e a grandiosidade do artista.