terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Folia de Rock

Para quem não gosta de carnaval (como eu), nada melhor do que se mandar para uma cidade onde a folia passa longe, longe.

Caso de São Paulo, que fica vazia e tranquila, sem engarrafamentos nem fila em restaurante. E uma estranha sensação de que a gente vive num país civilizado. Pura ilusão, é lógico.

Claro que aproveito também para visitar as lojas de discos.

A Galeria do Rock, na avenida São João, está muito mais para galeria de roupas - muita camiseta, tênis, botom - do que de discos. Bem diferente da situação de dez anos atrás, quando as pessoas ainda compravam cd's. Mesmo assim, dá para garimpar algumas raridades e se impressionar com o acervo de vinil da Baratos Afins.

Logo ao lado, outra galeria de lojas bem legais, especialmente uma miudinha, chamada SENSORIAL, que tem uma seleção maravilhosa de música alternativa, com preços mais acessíveis.

Saí de lá com o Stage Names do Okkervil River, All Hour Cymbals do Yeasayer, Keep Your Eyes Ahead do The Helio Sequence e uma coletânea do Ocean Colour Scene (este último, por módicos doze reais).

Serviço
Sensorial
Galeria Presidente
Rua 24 de Maio, 116, sobreloja 8
01041-000 São Paulo São Paulo
(11) 3333 19 14
sensorialdiscos@uol.com.br

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Ser ou não ser puro

De todos os sites de download legalizado, o mais completo para quem quer descobrir música independente feita mundo afora, é o americano E-Music.

Além de ser mais barato que o Itunes e o Amazon.com, o E-Music tem a grande vantagem de estar quase inteiramente disponível para o internauta brasileiro.

Tenho descoberto coisas muito legais nesse site.

Recentemente, por exemplo, baixei o primeiro disco de um grupo chamado The Pains Of Being Pure At Heart (As dores de ser puro de coração). Diga-se, maravilha de nome.

Musicalmente, é totalmente derivativo do guitar sound de Jesus and Mary Chain e My Bloody Valentine . E a capa lembra muito Belle and Sebastian, que, por sua vez, já lembravam as capas dos Smiths. Mas, quem é totalmente original hoje em dia?

Entre a dor e a alegria, os garotos e garotas do grupo parecem bastante sinceros. E isso, em se tratando de música, já é meio caminho andado.

Vale conhecer.

Música de Filme

Muito recentemente estive apresentando para um amigo querido um filme igualmente querido, e que nunca me canso de ver: O Quarto do Filho (La Stanza Del Figlio, ITA, 2001), do diretor Nanni Moretti.

Trata-se de um drama familiar sobre perda e recomeço que nos afeta lentamente, sem grandes alardes ou mensagens evidentes.

Como todo o cinema feito por Moretti, é um obra extremamente pessoal, escrita e estrelada pelo proprio Moretti, trabalhando ao lado de atores recorrentes em seus outros filmes.

Mas estou falando sobre essa pequena obra-prima da cinematografia italiana, especificamente por conta de uma música que toca em certa cena do filme: By This River, do músico inglês Brian Eno.

Não se trata de uma canção especialmente escrita para a película. Muito pelo contrário, Eno registrou a musica em seu disco de 1977, Before And After Science. Na tal cena, o personagem de Moretti vai a uma loja de discos e tenta encontrar algum disco que o conecte com o filho morto. O vendedor - que conhecia o rapaz - sugere o álbum de Eno, colocando para tocar a oitava faixa, By This River.

Não sei exatamente porque, mas todas as vezes que assisto a essa cena, me emociono profundamente. Para mim, a canção virou uma espécie de símbolo de solidão, de perda e de dor.
Além do mais, foi essa música que me introduziu ao universo muito particular de Brian Eno.

Além de produtor de sucesso, o músico britânico fez parte da formação original da lendária banda Roxy Music, e gravou uma série de álbuns solo, de teor altamente experimental.

Before And After Science é até bastante acessível, talvez o trabalho mais comercial de Eno. O que, neste caso, não significa nenhum demérito.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Melhores de 2008

Sei que 2008 se foi há muito, mas aqui vai uma pequena retrospectiva daqueles que, para mim, foram os melhores disquinhos do ano:
1 - For Emma, Forever Ago - Bon Iver
2 - Fleet Foxes - Fleet Foxes
3 - Evil Urges - My Morning Jacket
4 - Attack & Release - The Black Keys
5 - Oracular Spectacular - MGMT
6 - Stay Positive - The Hold Steady
7 - Third - Portishead
8 - A Thousand Shark's Teeth - My Brightest Diamond
9 - Sarabeth Tucek - Sarabeth Tucek
10 - The Stand Ins - Okkervil River

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Beatles à Brasileira

Já que falei de Beatles na última postagem, porque não falar também da banda que para mim são os Beatles brasileiros, a Legião Urbana?

É claro que o fato de ter crescido em Brasília, de ter sido adolescente em plena ascensão de Renato Russo e cia, me torna um pouco suspeito. Ou não. Afinal quantas bandas de rock nacional geraram um culto tão forte e duradouro? Quantas podem se gabar de ter atravessado gerações e permanecer tão atuais e relevantes? Quantas possuem clássicos suficientes para preencher um álbum duplo?

Eu acho que não existe comparação, principalmente, com a qualidade do texto de Russo. Mesmo que os anos 80 tenham sido pródigos em bons letristas - um fenômeno que parecer ter desaparecido de nosso cenário pop - ninguém captou tão bem o espírito de seu tempo quanto Renato Russo.

Da política ao desejo homoafetivo, nada escapou à pena afiada do trovador de Brasília. Eu me recordo que, na escola, todo mundo sabia todas as letras quilométricas de coração. Era um tal de levar o encarte para as aulas e sair passando de carteira em carteira enquanto os professores falavam sobre física, biologia e... química, claro!

Renato parecia saber tudo que a gente sentia, vivia e desejava. É pomposo falar em porta-voz de uma geração, mas, de um certo modo, era assim que a gente o via.

Hoje, para mim, ficou a delicada poesia, a sensibilidade extrema de alguém que se indignava, que abria o peito e se expunha muito. Numa época em que tudo vai ficando mais e mais embrutecido e cínico, a música da Legião e as letras de Russo são como um oásis, um alivio para os tristes de coração porém grandes de alma.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Aos Montes II

Uma seleção Beatlemaníaca:

1. I Saw Her Standing There
2. We Can Work it Out
3. In My Life
4. A Day In The Life
5. She's Leaving Home
6. While My Guitar Geetly Weeps
7. I Want You (She's So Heavy)
8. Help
9. Eleanor Rigby
10. I'm Looking Through You
11. Ticket To Ride
12. Happiness Is A Warm Gun
13. Golden Slumbers
14. Strawberry Fields Forever
15. Tomorrow Never Knows
16. I'm So Tired
17. I'm Only Sleeping
18. A Hard Day's Night
19. When I'm Sixty Four
20. Your Mother Should Know

Aos Montes

Todo audiófilo que se preze tem que ter todos os discos oficiais dos Beatles. Por quê? Oras bolas, porque goste-se ou não, toda a musica ocidental, feita dos anos 60 para cá, tem alguma influência dos quatro garotos de Liverpool. E isso não é nenhum exagero.

Pegue-se, por exemplo, a musica brasileira. Da Jovem Guarda ao Tropicalismo, passando pelos Mutantes e pelo Clube da Esquina, chegando ao rock da década 80, todo mundo bebeu, bebe e continuará a beber da fonte de Lennon-McCartney. Que o diga Skank.

Eu sou beatlemaniaco praticamente desde que me entendo por gente.

Os primeiros contatos com a banda foram por meio de duas coletâneas maravilhosas, uma cobrindo a fase inicial - mais pop e bailavel -, e a outra cobrindo os anos experimentais do final da carreira. As capas representam o grupo em momentos distintos, mas fotografados no mesmo local. Se não me engano, no prédio da gravadora EMI, em Londres.

Quando a gente conhece a discografia completa, a evolução se descortina diante de nossos ouvidos, de uma maneira não menos impressionante.

Perceber como os caras passaram de uma banda cover para um grupo que determinava e se adiantava a TODAS as tendencias musicais, é, não apenas um grande aprendizado, mas também um imenso prazer.

Meu disco mais querido do grupo é Rubber Soul. Não existe nenhuma razão especial para isso. Acho que todo apaixonado tem seu disco preferido dos Beatles.

Para mim, Rubber Soul preserva um pouco da inocência dos primeiros anos, ao mesmo tempo que revela uma maturidade poética - existe letra mais linda que a de In My Life? - e musical, que prenuncia os saltos criativos que viriam a seguir.

Revolver, Sgt. Peppers e Abbey Road são todos obras-primas indiscutíveis.

Mas, Rubber Soul é Beatles em estado bruto. Lírico, simples e absurdamente viciante.

Nunca Falha

Mais cedo ou mais tarde, todo colecionador se coloca diante da questão fundamental: qual é meu disco preferido? Como escolher, numa montanha de objetos, que representam não apenas músicas, mas também memórias e momentos de nossa vida?

Acho que o mais fácil é realmente partir para uma compartimentação desse caos emocional, separando tudo em categorias. O disco que mais lembra aquela viagem inesquecível; aquele que está totalmente vinculado a sua adolescência, a descoberta da sexualidade, ao primeiro amor e a primeira decepção; aquele que te recorda das grandes alegrias. E aquele outro que ainda traz o gosto amargo das pequenas tristezas.

Mas, às vezes, não é tão difícil assim. Existe AQUELE disco na sua vida. Aquele que mudou tudo e que ainda hoje você escuta com um prazer inigualável. Para mim, esse disco é THE QUEEN IS DEAD, o álbum que os Smiths lancaram em 1986, e que transformou o rock oitentista.

Para quem tem entre 30 e 40 anos, e curte musica, a década de 80 se tornou um período um tanto mágico, quase mitológico. Foi o auge do rock brasuca e, particularmente, do rock saído de Brasília. Legião Urbana, Capital Inicial e Plede Rude fizeram história e definiram uma época.

Lembro perfeitamente da minha ansiedade para que a revista Bizz chegasse às bancas, com todas as dicas dos melhores lançamentos, dos discos fundamentais - a discoteca básica, última seção da revista, que eu adorava; as novas bandas, as entrevistas que recheavam o meio da publicacão, enfim.

Não existia internet, a MTV só chegaria na decada de 90. E o mercado fonográfico ainda não sabia o que fazer direito com o potencial daquela molecada louca por consumir rock. E, assim, os discos foram saindo aos pouquinhos. Low Life do New Order, Crocodiles do Echo & The Bunnymen, Tinderbox da Siouxsie, os primeiros do U2.

Os Smiths já chegaram por aqui com uma aura de gênios. A imprensa brasileira, que sempre babou um pouco pelos ingleses, deixava todo mundo com água na boca.

Mas, e os discos? O primeiro que eu escutei nao foi o Queen is dead, mas o Hatful of Hollow, uma espécie de compilação de coisas que eles haviam gravado para o radio; e musicas novas, que traziam a maravilhosa Please Please Please Let Me Get What I Want.

O problema era como conseguir os demais. Grana para disco, era uma coisa rara lá em casa, mas minha irmã já trabalhava e, um belo dia, chegou com um presente para o irmão caçula. Ah, a sensação de segurar aquela obra de arte entre minhas mãos! Eu, finalmente, tinha The Queen Is Dead.

A belíssima capa, com uma foto esverdeada do ator francês Alan Delon, no auge da juventude, a sucessão de clássicos e a música mais linda que eles já gravaram: There's a Light That Never Goes Out (aquela dos versos and if a double-decker bus/ crashes into us/ to die by your side/such a heavenly way to die). Tudo em The Queen Is Dead é perfeição, beleza e poesia.

Morrissey, assim como Renato Russo, abriram um mundo de possibilidades literárias para mim. Descobrir que havia uma conexão entre os versos desencantados de Moz e os poetas românticos que eu estudava no segundo grau, foi uma revelação sobre os fascinantes caminhos que a arte traça, e de como o artista carrega em si o peso da tradição e a capacidade de renovar tudo ao seu redor.

No ano seguinte, os Smiths já não existiriam. Foi uma carreira curta, apenas 4 discos e algumas coletâneas, mas suas músicas e discos permanecem. Após um período de certo ostracismo, o mundo viu surgir bandas que se referenciavam diretamente a Morrissey, Johnny Marr, Andy Rourke e Mike Joyce.

A justiça tarda. Mas, nunca falha.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Presente da Prima

Não me lembro exatamente qual foi meu primeiro disco, mas o primeiro que realmente marcou, que começou a definir meu gosto musical, foi um disco duplo do Queen, gravado ao vivo.

Era 1985, Freddie Mercury e cia engoliram o Rock In Rio - o primeiro grande festival de rock realizado no Brasil - e uma prima muito louca, lá de João Pessoa (PB), me ensinou a gostar de rock.

É claro que todo mundo já estava saturado de Love Of My Life, mas a descoberta do peso e da potência do grupo em clássicos como We Will Rock You, Don't Stop Me Now e Spread Your Wings, transformaram minha cabeça de adolescente.

Valeu, Aldeniza!