quarta-feira, 30 de junho de 2010

Minhas músicas preferidas: Duetos

1– Águas de MarçoTom Jobim e Elis Regina
O encontro do grande compositor com a já estabelecida super-intérprete da MPB não foi um mar de rosas, mas gerou momentos de brilho inigualável.

Águas de Março é um verdadeiro monumento não só da música brasileira como de toda a tradição musical do Ocidente. Regravada incontáveis vezes, a canção é um desses casos clássicos em que cada nova versão só faz ressaltar a beleza incomparável do original.

2– Under PressureQueen e David Bowie
Faixa de encerramento do pior disco do Queen, o esquecido Hot Space, esta parceria entre o camaleão e as rainhas faz uma fusão perfeita do estilo de ambos, misturando as tendências operísticas do Queen com a visão musical sempre moderna de Bowie. O resultado é tão bom que nenhum dos dois conseguiu gravar nada a altura desde então.

3– Where The Wild Roses GrowNick Cave e Kylie Minogue
Quem diria que a improvável união do príncipe das trevas com a princesa do pop descartável geraria um rebento tão incrível como este?

Provavelmente, nem eles próprios, mas o fato é que a música ressuscitou a carreira de Kylie, mostrando que por trás da artista risível de hits como I Should Be So Lucky havia uma cantora capaz de encantar, seduzir e assombrar. Bravo!

4– What Have I Done To Deserve ThisPet Shop Boys e Dusty Springfield
Foi preciso esta canção para que o mundo relembrasse da classe e da sutileza da grande cantora inglesa de soul Dusty Springfield.

Muito popular na década de 60, ela viu sua fama ser encolhida na década seguinte, até cair no quase total esquecimento. Embora sua participação na faixa do disco Actually seja discreta, ela faz toda a diferença no resultado final.

5– Loco De AmorDavid Byrne e Celia Cruz
O encontro entre o multimídia, ex-Talking Heads e homem de todos os ritmos e a rainha da salsa pega fogo e ainda apimenta a trilha do filme Totalmente Selvagem, um semi-cult da década de 80.

As lições de rebolado da caliente Celia, no entanto, ficaram por aqui. A carreira solo subseqüente de Byrne é uma decepção.

6– You Are EverythingMarvin Gaye e Diana Ross
Duetos românticos são um lugar comum que pode se transformar num verdadeiro pesadelo.

Marvin Gaye nunca temeu este tipo de colaboração, tendo feito parcerias memoráveis com várias de suas colegas de Motown. Com a diva Ross, a coisa quase derrapa no excesso de açúcar, mas não chega nem perto do atentado cometido anos depois por la Ross junto a Lionel Ritchie na infame Endless Love.

7– Boa SorteVanessa da Mata e Ben Harper
Duetos cantados em línguas distintas tendem a ser um tanto grotescos.

De cara, me vem à cabeça Tina Turner e Eros Ramazoti berrando em inglês e italiano. Por isso, desconfiei de Vanessa cantando com Ben Harper. Mas não é que deu certo? E o mais interessante é que a parte de Harper é uma tradução literal da letra em português, coisa rara e de difícil adequação à melodia e ao ritmo da música. Um espanto!

8– Don’t Give UpPeter Gabriel e Kate Bush
Trata-se de uma das melhores composições da carreira solo de Gabriel e também um exemplo de como ter um convidado que entra nos momentos certos e se enquadra com perfeição em cada verso.

Já seria uma canção inesquecível somente com Peter, mas a adição de Kate Bush dá uma dimensão épica e extremamente emotiva para a bela letra.

9– Miss SarajevoU2 e Luciano Pavarotti
Outra combinação perigosa: música pop com ópera. Freddie Mercury até que tentou, mas suas colaborações com a cantora catalã Monserrat Caballé são no mínimo constrangedoras.

A mágica de Miss Sarajevo é que Bono se recolhe à posição de mero coadjuvante e deixa o momento de maior emoção para o experiente Pavorotti. Sensível e, por vezes, arrepiante.

10– HaitiGilberto Gil e Caetano Veloso
Esta serve como exemplo de como não se fazer um dueto: senhores de mais de 50 anos não devem tentar fazer rap assim como não devem fingir uma revolta e uma indignação que já não sentem há uns vinte anos.

E mais: senhores de mais de 50 anos não devem fazer vídeos em que aparecem com cara de zangados cantando uma letra horrorosa e pedante. Podre.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Lá e Cá

Este final de semana, a Capital Federal será palco do Festival de Inverno de Brasília que, em três dias, trará atrações que vão da alquimia de ritmos de Jorge Benjor até o rock de funcionário público do Capital Inicial.

A primeira coisa que me chama a atenção nestes festivais que se espalham pelo Brasil é o passo de tartaruga em que anda a renovação da música nacional. Se compararmos a relação de artistas dos maiores festivais realizados no país, veremos que a repetição é a regra. São sempre os mesmos nomes, acrescidos de atrações de colorido mais regional aqui e acolá.

Pode-se argumentar que, diante dos altos custos envolvidos numa produção complexa como a de um festival, ninguém quer se arriscar. É justo, mas é também por conta dessa mentalidade conservadora que o panorama do pop rock nacional mostra-se cada vez mais pavoroso.

Enquanto isso na Inglaterra, neste mesmo final de semana realiza-se um dos mais variados, ricos e antigos festivais de música do planeta, o lendário Glastonbury. A lista assusta e maravilha pela quantidade e qualidade dos músicos envolvidos. Há desde o rock épico do Muse até o mestre do soul e um dos maiores músicos de todos os tempos, Stevie Wonder. Há vários palcos, possibilidade de banhos de lama e a sempre saudável perspectiva de surpresas proporcionadas tanto por novatos quanto por veteranos.

Realizado há quarenta anos numa fazenda inglesa, Glasto, como é conhecido por lá, é uma verdadeira instituição britânica, um propulsor de carreiras e uma espécie de prova de fogo para artistas iniciantes. Ou então para dinossauros demonstrarem que ainda são relevantes.

É o caso do U2, que fecha a noite de sexta sem a mega-estrutura de sua última turnê. Quem tiver o privilégio de estar por lá, vai poder conferir se os irlandeses dão conta do recado independente de palcos-monstros e de tecnologia de ponta.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O Lixo e o Luxo

Vivemos na era do culto das celebridades. Isso é um fato, mas não exatamente uma novidade.

A diferença que se percebe nos nossos tristes tempos é que a tv, a internet e a mídia impressa tornaram acessível para qualquer um a fama e o reconhecimento. Foi-se o tempo em que para brilhar sob os refletores a criatura precisava ter o talento dramático de uma Fernanda Montenegro ou a voz de uma Aretha Franklin. Talento é o de menos e, às vezes, até atrapalha.

Confesso que me sinto um tanto nauseado neste mundo de big brothers e gagas que saem de Ilhéus para assombrar o resto da nação com nenhum predicativo além de um problema que deveria ser tratado e não explorado como atração de circo.

É talvez por isso que eu tenha resistido tanto a uma artista como Lady Ga Ga. A primeira vez que vi e ouvi a moça, pensei imediatamente: “pré-fabricada”, “sub-Madonna”.

Mas aí eu comecei a perceber que por trás de toda a antipatia que me provocavam os pseudo-escândalos de la Ga Ga , o exagero de sua produção visual e a super-exposição de sua imagem havia, sim, uma artista bastante interessante. Se não é sensacional, Ga Ga tem, sem sombra de dúvida, o mérito de ter sido a primeira cantora a utilizar com inteligência e sagacidade o novo arsenal de divulgação que a mídia disponibiliza (e estou me referindo a You Tube, My Space, jornais sensacionalistas, programas de tv estilo Sonia Abraão e outras delicadezas do mesmo tipo).

E há também, sua música. Ga Ga compõe, toca piano e canta razoavelmente bem. Já marcou o imaginário coletivo com pelo menos duas ótimas pérolas pop: Bad Romance e Poker Face. São trash e descartáveis como uma boa parte da melhor música pop o é.

Além disso, seus vídeos são, temos que admitir, pequenas obras-primas. Ga Ga brinca sem medo com uma imagem que vai do mais puro glamour a total bagaceira. Não tem receio de parecer feia, brega e ultrajante. Mas faz tudo isso com uma tecnologia high tec que não deixa margem a erros.

Se esse furação pop durará o suficiente para vermos a verdadeira face da artista, só o tempo dirá.

No meio tempo, entretanto, Ga Ga tem sabido como ninguém entreter e seduzir platéias mundo afora.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Geração 90, onde está você?


Dia desses estava dando uma volta de carro com meu amigo, arquiteto e engenheiro deste blog, Afonso Celso, quando ouvimos no rádio uma música do grupo mineiro Jota Quest. De pronto, AC me indagou: “O que foi feito deles?” “Graças a Deus, sumiram”, foi minha delicada resposta. “Mas o Rogério Flausino canta tão bem...”, replicou meu companheiro de infortúnio. A bem da verdade, cantar tão bem, ele não canta não. Limita-se a imitar – de forma canhestra – uma plêiade de cantores ilustres daqui e lá de fora.

Mesmo pecado cometido por outro luminar da geração 90 da nossa música, Toni Garrido, vocalista da banda Cidade Negra. Esta, ao menos, teve a decência de dar um descanso a nossos ouvidos, mas Toni agora assombra outro campo das artes, levando sua cara de pau para as novelas. Vê-lo atuando é um deleite, garantia certa de risadas calhordas.

Reflexões tão profundas me levaram a questionar sobre os rumos dos grupos e artistas surgidos na maldita década de 90. Últimos anos de vendagens robustas no mercado nacional, os 90 viram a ascensão de nomes como Skank, Raimundos, Nação Zumbi, Mundo Livre S.A., Pato Fu e os já citados Cidade Negra e Jota Quest.

O Skank, que foi o grande vendedor de discos dessa turma, é como aquele slogan cretino do governo Lula: é brasileiro e não desiste. Nem deveria. No balanço dos últimos vinte anos, pode-se dizer que é a única banda que evoluiu artisticamente. Abandonou a temática de futebol/cerveja/mulher de seus primeiros discos para incorporar uma estética mais sofisticada e inteligente e fez a ponte entre o Clube da Esquina e o rock inglês do passado e do presente. Ponto para eles, mesmo que não sejam mais nenhum fenômeno de popularidade.

A Nação Zumbi também tem o mérito de ter seguido em frente, apesar da perda traumática do carismático vocalista Chico Science. Chico foi uma dessas figuras que a gente fica imaginando o que teria aprontado se não tivesse morrido de forma tão precoce e estúpida. De qualquer maneira, seus colegas pernambucanos honram seu nome com um trabalho sempre instigante e rico em referências. Viraram uma coisa meio cult, coisa que aliás acontece com todo artista interessante em atividade no Brasil de hoje.

Quanto ao resto, não sobra nada a dizer. Se um dia fizeram algum sucesso, ele ficou localizado no passado.

Se o rock brasileiro feito na década de 80 ficou marcado pela falta de originalidade e o apego aos modelos americanos e ingleses, pode-se, ao menos, dizer que teve uma qualidade de letras raramente vista na música jovem. Não a toa, Renato Russo e Cazuza são reverenciados até hoje como grandes poetas.

Os músicos do rock da década seguinte perderam a chance de, não só dar continuidade a essa riqueza de texto, como de finalmente criar uma sonoridade que fundisse a modernidade das tecnologias que se desenvolveram à velocidade da luz com a tradição e a beleza de nossa música. Uma pena.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Os 50 Anos da "Nouvelle Vague"

Por Lázaro Luis Lucas

50 anos depois do surgimento da Nouvelle Vague, eis que novamente o movimento artístico surgido na França, no final do anos 50, encontra-se nas conversas e "sites" de relacionamentos de cinéfilos do mundo todo. E a estreia, em solo brasileiro, do documentário Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague adiciona ainda mais elementos para a troca de ideias.

De difícil precisão quanto ao seu marco inaugural, a Nouvelle Vague foi moldada com a finalidade de romper com todas as normas cinematográficas estabelecidas no cinema francês ainda nos anos 30. Até aí, tudo bem.

O que se espera de todo e qualquer movimento artístico é pelo menos uma renovação estética, realmente. Uma de suas características mais notáveis era permitir ao diretor do filme um maior controle intelectual sobre a obra, reduzindo, mas não eliminando, a importância do roteirista e do produtor no resultado final.

Retomava-se com a medida o conceito de um "cinema de autor". Assim, para alguns de seus estudiosos, o mérito maior do movimento - e aqui, talvez, resida a verdadeira importância da Nouvelle Vague - foi ter possibilitado o surgimento de toda uma nova geração de cineastas; vários deles, críticos já conceituados da "Cahiers du Cinéma", icônica revista de cinema lançada na França, no início dos anos 50.

Não se requer muito conhecimento em cinema para se perceber que, à razão da enorme quantidade de talentos surgidos com a Nouvelle Vague, qualquer tentativa de se estabelecer parâmentos artísticos específicos para servir de base ao movimento não se sustentariam nem por um ano.

Óbvio. A Nouvelle Vague, enquanto cinema, não foi, necessariamente, estética. A Nova Onda foi humana. Nomes como Jean-Luc Godard, François Truffaut, Alain Resnais, Jacques Rivette, Claude Chabrol e Eric Rohmer, só para citar os mais notáveis, passaram as ditar as novas regras do cinema francês.

Claude Chabrol e o seu Nas Garras do Vício (1958), para muitos, inauguram o movimento. Os filmes eram taxados de iconoclastas, contestadores, inconformados. Só não havia por parte do público e da crítica especializada a indiferença. Havia muito amor e também muito ódio aos filmes. Era tudo o que eles queriam.

Com a Nouvelle Vague, o cinema francês já não era mais o mesmo. Bem, até surgir no cenário artístico daquele país um cineasta que atende pelo nome de Luc Besson. Mas essa é outra história.

Abaixo, alguns filmes marcantes de quatro deles:
Alain Resnais
- Hiroshima Meu Amor (1959)
- Ano Passado em Marienbad (1961)
- Muriel (O Tempo de Um Retorno) (1963)
- Meu Tio da América (1980)
- Amor à Morte (1984)

Claude Chabrol
- Nas Garras do Vício (1958)
- Mulheres Fáceis (1960)
- Corças, As (1968)
- Açougueiro, O (1970)
- Inocentes de Mãos Sujas, Os (1975)

Eric Rohmer
- Signo do Leão, O (1959)
- Marquesa d'O, A (1976)
- Mulher do Aviador, A (1981)
- Noites de Lua Cheia (1984)
- Raio Verde, O (1986)

Francois Truffaut
- Incompreendidos, Os (1959) (Antoine e Colette -1962; Beijos Proibidos -1968; Domicílio Conjugal -1970; Amor em Fuga, O -1979)
- Jules e Jim - Uma Mulher Para Dois (1962)
- Noiva Estava de Preto (1968)
- Na Idade da Inocência (1976)
- Mulher do Lado, A (1981)

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Melancolia e Beleza

2010 ainda não completou sua primeira metade e eu já tenho meu disco do ano: High Violet, do grupo americano The National.

É como se os relógios fossem todos reajustados para o início da década de 1980, quando o mundo era assombrado por belos e melancólicos álbuns e cantores suicidas descreviam um mundo sem esperança e amores que traziam dores e não alegrias.

Quando ouço The National, não posso deixar de me lembrar de Faith, do The Cure ou Closer, do Joy Division.

Mas The National não é uma banda nova reciclando velhos clichês. Na voz triste e assombrada do vocalista Matt Berninger mora todo um mundo de emoções contidas e de sentimentos perdidos na poeira da estrada.

Runaway é a obra-prima do álbum e possivelmente de toda a carreira do grupo, uma canção de amor desesperado comparável a With or Without You, do U2.

Não é um disco para ser tocado depois de passatempos desprezíveis como Kes$a. É um trabalho para se escutar no escuro do quarto, tentando perceber cada nuance e cada inflexão preciosa na voz de Berninger. E para se concluir, ao final, que, na era do descartável e do passageiro, ainda há espaço para a grandeza e para o sublime.

Nota: o The National tem mais quatro discos, todos excelentes: The National, Sad Songs For Dirty Lovers (o meu preferido entre os discos antigos do grupo), Alligator e The Boxer.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Exílio

Só a título de lembrete: acaba de ser relançado no Brasil o antológico álbum duplo lançado pelos Rolling Stones em 1972, Exile On Main Street.

Item obrigatório em qualquer discoteca que se preze, o disco vem, desta vez, acrescido de um bônus com dez músicas inéditas retiradas das gravações de Exile.

Para ouvir e entender porque um dia eles já foram chamados de “a maior banda de rock do mundo”.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Estranhos no ninho

O rock independente, ou alternativo, é uma entidade que existe muito mais no campo das ideias do que no campo das coisas reais. Afinal, o que é ser independente?

Nos Estados Unidos e na Inglaterra, o chamado mercado indie já atingiu níveis de profissionalismo e excelência tão altos que se torna difícil diferenciar um lançamento de uma gravadora pequena do de uma major. Sub Pop, Matador, Jagjaguwar e Merge são apenas algumas das gravadoras que, a partir de origens modestas, hoje disputam espaço nas paradas com nomes tradicionais como Sony e Warner.

Grupos que mudaram a cara da música nos últimos anos surgiram em pequenas gravadoras e, em alguns casos, preferiram permanecer longe dos esquemas milionários de conglomerados multinacionais.

Exemplos clássicos de bandas bem-sucedidas que começaram suas carreiras como artistas independentes são R.E.M. e Nirvana. Após a experiência adquirida junto a públicos universitários, as duas bandas assinaram contrato com a Warner (R.E.M.) e a Geffen (Nirvana) e partiram para o megaestrelato mundial. Miraculosamente, conseguiram permanecer fiéis a seus princípios, colocando sua ética pessoal e artística acima das tentações da fama e da fortuna.

Uma banda que poderia ter feito essa transição do underground para a ribalta é, sem dúvida, o Spoon. Queridinhos da crítica e do público mais antenado, o grupo do Texas lançou uma série de trabalhos em que desconstruíam todas as formas tradicionais de se fazer rock, eliminando solos de guitarra, refrões e outras convenções que o colocaram a frente de uma turma que faz rock vanguardista sem ser radical.

Com Gimme Fiction, de 2005, o grupo aumentou consideravelmente sua legião de admiradores. Foi minha introdução ao universo do grupo e também um caso de paixão a primeira vista. No ano seguinte, duas músicas do disco apareceram no filme Mais Estranho Que A Ficção, estrelado por Emma Thompson e Will Ferrel, e o caminho do estrelato se abriu para o Spoon.

Coisa com a qual o grupo parece ter se importado pouco. O disco seguinte tinha o estranhíssimo título de Ga Ga Ga Ga Ga, poucas concessões ao mercadão e a mesma estranheza de sempre, desta vez temperada com uma dose de sofisticação nos arranjos. Para surpresa geral, o disco foi puxado pelo inesperado sucesso de pérolas como You Got Yr. Cherry Bomb e The Underdog e acabou frequentando o top 10 da parada americana.

Quem esperava um arrasa quarteirão, deve ter se decepcionado um pouco com o novo disco, Transference. Mais um capítulo na evolução permanente do som do grupo, o novo disco prioriza arranjos mais básicos e simples, mantendo, no entanto, o som caracteristicamente não-convencional e ousado de sempre.

Não é uma obra-prima como Gimme Fiction – para mim, o melhor disco lançado nos últimos 10 anos – mas demonstra mais uma vez a inquietação criativa de Britt Daniels, vocalista e principal compositor do grupo. Definitivamente, é material sônico de altíssima qualidade e que merece uma espiada.