segunda-feira, 2 de março de 2009

Hermanos

Nunca entendi plenamente a ausência de lançamentos de pop rock cantado em espanhol por aqui. Teoricamente, seria até mais fácil - pela proximidade tanto do idioma quanto por questões geográficas e políticas -, que artistas e bandas latinos se infiltrassem no mercado brasileiro do que os gringos de língua inglesa. Mas, na prática, a história é bem outra.

Eu mesmo só fui entrar em contato com o ótimo pop que se faz no restante de nosso continente, por meio de um canal de vídeos, o HTV. Infelizmente, nenhuma rede de TV paga o veicula mais, o que torna ainda mais difícil saber das novidades que surgem na Argentina, Peru, Colômbia, México etc.

Quem conseguir se despir de seus preconceitos, vai descobrir que existe bem mais que Shakira e Ricky Martin. Aliás, gostaria muito de entender porque todo mundo acha que a música cantada em espanhol é necessariamente brega e melosa. Talvez seja culpa da indústria, que nos empurrou tipos como Julio Iglesias e Luis Miguel durante anos. Vai saber...

O fato é que o dano já esta feito. E só com muita boa vontade e um bocado de paciência para pesquisa é que se vai descobrindo os pequenos tesouros espalhados por toda América Latina.

Eu gosto especialmente do rock feito na Argentina e México.

A Argentina é a terra de Babasonicos, Soda Stereo, La Mosca, Bersuit, Leo García, entre tantos outros.

O disco Jessico, do Babasonicos, tem uma sofisticação sonora e uma compreensão tão abrangente da música pop das últimas décadas, que chega a espantar. Honestamente, consigo pensar em poucas bandas brasucas que tenham gravado um álbum tão rico.

Outro disco incrível é Mar, de Leo García, um protegido do ex-vocalista do Soda Stereo, Gustavo Cerati. Passeando com a mesma desenvoltura tanto pela música eletrônica quanto pelo mais puro folk, García nos brinda com momentos do mais puro gênio pop. Escute a emblemática Morrissey, pequeno hino gay composto em homenagem ao bardo de Manchester, e tente resistir.

O México até que é um pouco mais bem servido por aqui. Gosto particularmente do trabalho de Julieta Venegas, que teve seu último cd, MTV Unplugged, lançado em 2007.

Para quem quer investigar um pouco mais longe, vale dar uma checada nos sons vindos da Espanha.

La Oreja de Van Gogh e El Canto Del Loco são um ótimo começo. Embora basicamente façam uma reciclagem do indie rock feito na Inglaterra, é interessante ver como o estilo sofre pequenas e deliciosas modificações, sobretudo na sensível poesia que perpassa a música do Oreja. Escutar uma canção como La Playa e não se emocionar profundamente, é como assistir a um filme de Carlos Saura e não sair de alma lavada.

3 comentários:

Anônimo disse...

Luis:
As suas postagens aqui nessa linda e emocionante vitrola encantada, têm me deixado apaixonada.
Sou de São Paulo e moro aqui, mas não conheço essa loja Sensorial, indicada por você. Irei lá, com certeza.
Adoro música, mas não tenho esse conhecimento extenso e refinado como o seu.
Enfim, agora contando com a sua generosidade de partilhar essas maravilhas com o mundo, sinto-me incluída musicalmente.
Não fuja da rede, e não demore a postar essas delícias que unem delicadamente música e cinema, me deixando plenamente encantada.
Obrigada, Luis.
Flávia Cavalcante

Afonso C. disse...

Ei, Luis, "lavar a alma com um Saura", só você, meu querido, para sintetizar esse sentimento com tanta objetividade sem perder a maestria.
Show de informações musicais, meu jovem, esse seu blog.
Parabéns, mais uma vez!

Luis Valcácio disse...

Flavia, o seu comentario respondeu a uma pergunta que martelava minha mente: afinal, para quem estou escrevendo? Espero sinceramente que seja para pessoas sensiveis e inteligentes como vc.
Valeu!