quinta-feira, 9 de abril de 2009

A Rainha Não Está Morta

Rock é coisa de garoto, de gente jovem. Nenhum músico de rock começou compondo e gravando aos 40 ou 50 anos. Isso é um fato, mas também é fato que muitos músicos seguiram compondo e gravando, mesmo depois dos 20 e dos 30 anos. Afinal, quando a chama da juventude perde sua força, o que sobra para um estilo que se alimenta basicamente de rebeldia, imaturidade e algumas boas doses de loucura?

Pensei nessas bobagens ao escutar o novo disco do ex-vocalista dos lendários Smiths, Morrissey. Ao me dar conta que o sr. Stephen Patrick Morrissey já está batendo na casa dos 50, percebi, também, que eu próprio estou chegando aos 40!

Quando os Smiths lançaram seu primeiro registro, lá pelos idos de 1984, eu tinha 14 anos. Acho que nada me marcou tanto, com exceção, talvez, dos primeiros trabalhos da Legião Urbana (que, por sua vez, foi profundamente influenciada pela banda de Manchester).

Ao longo de sua irregular carreira solo, Morrissey seguiu sendo um caso especial no panorama do rock mundial, um oásis de inteligência e sensibilidade num deserto de lugares-comuns.

É quase um milagre que, no efêmero universo pop, ele tenha não só sobrevivido, mas também aumentado substancialmente o culto em torno de sua pessoa.

Seu novo disco, Years Of Refusal, é também seu trabalho mais pesado e coeso. Produzido por Jerry Finn, que havia orquestrado a obra-prima You Are The Quarry, não deve angariar novos súditos para a corte de Morrissey, mas, para os convertidos, será matéria de calorosos debates.

Desde a capa, em que Morrissey aparece segurando um bebê, Years Of Refusal é um cd que soa jovem e urgente. A voz, grandiosa em algumas canções, falha aqui e acolá, e os temas são os mesmos de sempre (afinal de contas, quando é que ele vai parar de reclamar da vida, da solidão, da falta de compreensão do universo inteiro?), mas o que realmente importa é que temos um conjunto de 12 músicas inéditas, de um dos artistas mais coerentes e íntegros dos últimos 25 anos.

Para alguém que poderia ter sido engolido por um sistema alienante e cruel (onde estão, por exemplo, Lloyd Cole, Ian McCulloch e todos os grandes vocalistas do rock inglês da década de 80?), Years Of Refusal é uma afirmação de vitalidade e relevância.

Um comentário:

Afonso C. disse...

Se o texto que não te agrada for assim, fico a imaginar o seu bom texto. Vaidoso!
Parabéns, meu caro Vitrola Encantada!