segunda-feira, 27 de abril de 2009

Black Power

Dia desses, estava vasculhando as prateleiras de discos da Livraria Cultura, aqui em Brasília, quando me deparei com uma versão comemorativa de 25 anos do multiplatinado Thriller, de Michael Jackson.

Só quem viveu a loucura que foi a Jackson-mania, pode ter uma idéia do impacto que esse álbum teve no inconsciente coletivo do planeta.

Ao longo de todo o ano de 1983, ouviu-se exaustivamente a cada uma das faixas do hoje conhecido como “disco mais vendido de todos os tempos”.

Mas o grande trunfo de Michael Jackson não foi exatamente seu brilhante trabalho musical. Seu golpe de mestre e aquilo que o faria entrar, definitivamente, no panteão da música pop foram seus vídeos. Billie Jean, Beat It e Thriller, a canção, estabeleceram um padrão de vídeo musical que seria copiado repetitivamente nos anos que se seguiram.

Aqui no Brasil não existia MTV ou mesmo programas regulares de vídeos. Acho que a geração acostumada a encontrar tudo o que quer no You Tube, não consegue imaginar o que era esperar pela misericórdia da Rede Globo, que exibia semanalmente UM(!!!!!!!!!!) vídeo musical, no dominical Fantástico. Mas, ainda assim, Jackson reinou absoluto nestes tristes trópicos.

É realmente deprimente ver a figura patética na qual se tornou Michael, mas é igualmente horrível ver o estado de total decadência da música negra norte-americana. E quando falo em decadência, não estou me referindo a vendagem ou popularidade. Nesses quesitos, a música black feita nos Estados Unidos nunca esteve tão em alta. O disco mais vendido por lá, no ano passado, por exemplo, pertence ao rapper Lil Wayne.

Estou pensando, na verdade, na grande música de figuras incríveis como Marvin Gaye, Stevie Wonder, Curtis Mayfield, Isaac Hayes, o elenco estelar da gravadora Motown e da Stax, enfim, toda uma geração de fantásticos cantores e músicos que fizeram os corações e as mentes das gerações dos anos 60 e 70.

Michael Jackson foi, sem dúvida, o último grande cantor soul de uma linhagem nobre de vocalistas, que se iniciou lá nos anos 50 com Ray Charles e Sam Cooke. Perceber que nem ele nem muito menos nenhum desses pálidos artistas que seguem carregando a bandeira da música negra americana conseguirá gravar um disco digno de What’s Going On, Innervisions, Back Stabbers ou mesmo Thriller é – com o perdão do trocadilho – assustador.

Nenhum comentário: