segunda-feira, 21 de junho de 2010

O Lixo e o Luxo

Vivemos na era do culto das celebridades. Isso é um fato, mas não exatamente uma novidade.

A diferença que se percebe nos nossos tristes tempos é que a tv, a internet e a mídia impressa tornaram acessível para qualquer um a fama e o reconhecimento. Foi-se o tempo em que para brilhar sob os refletores a criatura precisava ter o talento dramático de uma Fernanda Montenegro ou a voz de uma Aretha Franklin. Talento é o de menos e, às vezes, até atrapalha.

Confesso que me sinto um tanto nauseado neste mundo de big brothers e gagas que saem de Ilhéus para assombrar o resto da nação com nenhum predicativo além de um problema que deveria ser tratado e não explorado como atração de circo.

É talvez por isso que eu tenha resistido tanto a uma artista como Lady Ga Ga. A primeira vez que vi e ouvi a moça, pensei imediatamente: “pré-fabricada”, “sub-Madonna”.

Mas aí eu comecei a perceber que por trás de toda a antipatia que me provocavam os pseudo-escândalos de la Ga Ga , o exagero de sua produção visual e a super-exposição de sua imagem havia, sim, uma artista bastante interessante. Se não é sensacional, Ga Ga tem, sem sombra de dúvida, o mérito de ter sido a primeira cantora a utilizar com inteligência e sagacidade o novo arsenal de divulgação que a mídia disponibiliza (e estou me referindo a You Tube, My Space, jornais sensacionalistas, programas de tv estilo Sonia Abraão e outras delicadezas do mesmo tipo).

E há também, sua música. Ga Ga compõe, toca piano e canta razoavelmente bem. Já marcou o imaginário coletivo com pelo menos duas ótimas pérolas pop: Bad Romance e Poker Face. São trash e descartáveis como uma boa parte da melhor música pop o é.

Além disso, seus vídeos são, temos que admitir, pequenas obras-primas. Ga Ga brinca sem medo com uma imagem que vai do mais puro glamour a total bagaceira. Não tem receio de parecer feia, brega e ultrajante. Mas faz tudo isso com uma tecnologia high tec que não deixa margem a erros.

Se esse furação pop durará o suficiente para vermos a verdadeira face da artista, só o tempo dirá.

No meio tempo, entretanto, Ga Ga tem sabido como ninguém entreter e seduzir platéias mundo afora.

5 comentários:

David® disse...

Devo confessar q tenho uma ENORME dificuldade em ver "o artista por trás" desse povo q tá surgindo.
Só descobri as músicas da Gaga qdo Bad romance tava tocando a exaustão.

E olha q sou super fã de uma música pop pra embalar a faxina semanal, afinal não dá pra ouvir Ennio Morricone e passar cera no chão ao mesmo tempo.

Luis Valcácio disse...

Concordo plenamente. Quanto ao Enio Morricone, somente com imagens de um Sergio Leone para acompanhar...

Miguel Leocádio Araújo disse...

Luis, eu também resisti bastante ao hype GaGa. Ela me lembra, por motivos que não sei explicar muito bem, a Cher depois que voltou a estirar os cabelos e a impostar sua voz na frente de um instrumental high energy. Confesso que impressionei-me com o video de Telephone.

Ganso neurótico disse...

Caro luís:

Sobre gaga: tirando a cara de pau e os vídeos - é só mais uma marmota passageira.

Luis Valcácio disse...

Olha, Stanley, a música pop anda tão maluca que é difícil a gente prever qualquer coisa. Veja o caso do Justin Timberlake, que começou numa boy band e hoje é um dos artistas mais poderosos do mercado americano. Nunca se sabe que "marmotas" têm maior capacidade de sobrevivência.