domingo, 16 de agosto de 2009

Bardo Moderno

Impressiona-me bastante, nos últimos tempos, a longevidade de determinados artistas, que já entram na casa dos 70 anos de idade. Neil Young, Bob Dylan, Mick e Keith, Paul McCartney, Elton John, todos têm lançado discos cada vez mais interessantes, complexos e, sobretudo, prazerosos de se ouvir.

Veja-se o caso de Bob Dylan. Quase cinco décadas de carreira nas costas, alguns dos mais importantes álbuns da história da música popular, uma penca de canções regravadas incessantemente por gerações de novos músicos, uma entresafra medíocre nos anos 80 e, de repente, o bardo ressurge das cinzas com quatro(!) discos brilhantes, que não deixam nada a dever ao melhor de sua produção nos anos 60 e 70.

Time Out Of Mind (1997), Love And Theft (2001), Modern Times (2006) e Together Through Life (2009) são obras de uma maturidade artística que vem com o verniz da idade, da experiência e de uma vivência de quem atravessou os últimos quarenta anos como um verdadeiro ícone do imáginário norte-americano, mas não deixou de viver intensamente.

No filme Não Estou Lá, do cineasta Tod Haynes, o mito é desconstruído e transformado em 5 personagens diferentes, cada um interpretado por um ator (a excepcional Cate Blanchet faz um Bob acossado pela imprensa, justamente em sua fase de transição do folk para o blues eletrificado, talvez seu momento mais criativo e revolucionário). É um filme sob muitos aspectos de difícil entendimento para não iniciados no universo dilaniano, mas seu brilho está na compreensão de que todo grande artista na verdade são vários. É na subversão da típica cinebiografia, que Haynes consegue um retrato mais vívido e apaixonante do homem, muito além da mera glorificação da lenda.

Ouvir Dylan hoje é como uma deliciosa confirmação de que a criatividade e o poder de tocar por meio da arte não são uma fagulha que surge na juventude e se apaga com o fim da mesma.

Assim como Picasso, que foi inquieto e provocador até o fim da vida, Dylan prova a cada novo disco que rock é também música de senhores de cabelos grisalhos e vozes roucas.

Um exemplo para os Robertos, Gilbertos e Caetanos da vida...

9 comentários:

Cris França disse...

Muito bom gosto musical revelado nas referências.
Deixei um selo para homenagear o teu blog no meu Canto, seu blog merece. abraços

Patrícia disse...

Amei isso aqui! Muito BOM!

Flávia Cavalcante disse...

Este seu texto é perfeito. Como você é inteligente e sabe dizer isso com simplicidade. O meu amor pela música só tem aumentado e se qualificado desde que você nos brinda com essas belezas de comentários. Parabéns, Luis! Parabéns meeesmo.

Luna disse...

E é uma pena quando artistas com esse gabarito acabam por nos deixar cedo demais.

Luis Valcácio disse...

Obrigado pelos comentários e elogios, garotas.
Beijos

gentil carioca disse...

Tive o prazer de assistí-lo aqui no Rio, no Sambódromo, há...hummmm...bem...muitos anos.
E ele surpreendeu: não ficou preso à velha e fácil fórmula de antigos sucessos, o que, diga-se de passagem, já teria sido ótimo. Antes disso, quando apresentou músicas do passado, foi em forma de releituras digníssimas.
Quem foi rei não perde, mesmo, a majestade.

Alberto de Oliveira disse...

Parabéns pelo texto (escolha, cara e conteúdo). Você escreve melhor a cada dia e é sempre um prazer visitá-lo. Sem exagerar em nada, acho que põe muito crítico de música "estabelecido" aos chinelos.

Um abraço.

Alberto.

Big clash disse...

Olá Luis,
em reconhecimento ao seu trabalho estou indicando seu blog ao selo Masterblog, passe lá no Fuxucamarimbondo para recebê-lo.
Parabéns!
Abração.

Luis Valcácio disse...

Valeu, amigo.
Grande abraço