segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Vitrola Vai às Compras

Diz um amigo meu que as únicas coisas que realmente me empolgam são música e viagens. Não é verdade.

Adoro um bom cinema (confesso que já gostei mais), estou sempre agarrado com um livro (acabei de ler mais um policial de Simenon, autor que eu acho brilhante), não dispenso um bom papo com meus poucos, mas queridíssimos, amigos e sei que a vida é amarga na grande maioria das vezes (principalmente se a gente tem a má sina de ter nascido brasileiro), mas está aí é para ser vivida, mesmo.

No entanto, não posso deixar de admitir que a música virou muito mais que um hobbie e que vivo planejando viagens, que compro guias de cidades que não sei quando conhecerei e que visitar lugares novos é, para mim, como rejuvenescer um pouquinho.

Quando consigo unir discos com viagens, é aí que o louco fica lunático de vez.

Estive nestes últimos dias entre o Rio e São Paulo, e trouxe na bagagem 28 bolachões e 25 bolachinhas. Aliás, como é trabalhoso transportar vinil, pessoal. Os desgraçados pesam horrores e eu fico na neura de que vão quebrar, empenar ou amassar. Em suma, um pesadelo. Os cd's, coitadinhos, vão enfiados na mala e seja o que Deus quiser. Felizmente nunca perdi nada. Já voltei de uma viagem a Portugal com quase 70 disquinhos imprensados entre roupas sujas e outras quinquilharias.

De qualquer maneira, como novamente observa o amigo do início do texto, o sucesso de uma viagem minha é medido pela quantidade de achados em sebos e lojas de discos. São Paulo, nesse sentido, é imbatível. Desde os pugueiros do centro até a careira Livraria Cultura, há descobertas fantásticas para todas as preferências.

Gosto, sobretudo, das lojas da Galeria Presidente, na Rua 24 de Maio, lugar ideal para se encontrar cd's novos de artistas independentes e alternativos. Na mesma rua, no número 188, subindo ao primeiro andar, a gente se depara com uma série impressionante de sebos. Um fanático pode tranquilamente passar o dia inteiro revirando velharias, enchendo as mãos e os pulmões de ácaros e torrando, feliz da vida, as economias do ano todo. Não dá para esperar grande simpatia dos vendedores, mas em termos musicais, é difícil não se satisfazer.

Outra boa dica para encontrar raridades e pechinchas é a Feira de Antiguidades da Praça Benedito Calixto. É possível, inclusive, comprar uma vitrolinha esperta para rodar os poderosos negões em qualquer lugar (isto se você tiver a paciência e a habilidade para barganhar com os feirantes, porque os valores não são os mais honestos...).

No Rio, confesso que fiquei meio perdido. Devia ter pedido umas dicas para a galera carioca que frequenta o Vitrola Encantada, mas a verdade é que fujo de computador em férias como o coisa ruim da cruz.

Ainda assim, me esbaldei na Baratos da Ribeiro e no sebo da Modern Sound (cheio de discos em excelente estado por razoáveis 10 reais).

No mais, muita chuva, metrô transbordando, gente apressada, gente dormindo na rua num frio desgraçado, comida boa e cara, o Museu de Arte Sacra de São Paulo e o de Arte Moderna do Rio de Janeiro, a descida inesquecível no Aeroporto Santos Dumont, o filme francês Bem-Vindo na Rua Augusta, o táxi baratinho na Cidade Maravilhosa, o café expresso na Casa Cavé, o almoço na Confeitaria Colombo, enfim, pequenas coisas que, juntas, me tornam um tanto mais vivo e, quem sabe, mais feliz.

6 comentários:

gentil carioca disse...

Só uma pequena correção sem grande importância, mas pertinente: Baratos da Ribeiro, porque fica na rua Barata Ribeiro. Vou sempre ali, faço ginástica naquele prédio.
Volte sempre à terrinha que, apesar da chuva cada vez mais frequente (e há quem duvide da mudança climática da Terra!)continua simpática.

Luis Valcácio disse...

Obrigado pela correção, gentil carioca. E volte sempre ao Vitrola.
Um abraço.

Érico Cordeiro disse...

Caro Luís,
Quem não é colecionador fanático por discos não tem a menor noção do que seja passar algumas horas em uma boa loja de cd's como a Cultura ou a Fnac garimpando raridades e se esbaldando com algumas gemas.
O problema é a hora de pagar - aí faz-se a famosa escolha de Sofia: o que levar e o que deixar na loja?
Felizmente não tenho a preocupação com a integridade dos saudosos bolachões (abandonei-os definitivamente em prol do cd e confesso que não me arrependo, embora ainda conserve a minha coleção).
E a pergunta que nós, fanáticos, mais ouvimos certamente é: você já ouviu tudo isso? (Italo Calvino disse certa feita que uma boa boblioteca deve ter 50% de livros que você já leu e 50% de livros que você pretende ler - porque uma discoteca não poderia ser assim, se bem que no meu caso creio que tenha deixado "passar batido" apenas uns pouquíssimos exemplares!
Um fraterno abraço!!!!

Luciana Gaspar disse...

Música e viagens... taí, 2 coisas que realmente me empolgam!
Bem bacana o seu blog, Luis.
Obrigada por seguir o Pra cima com a viga.
Abraços, da
Lu

Robson disse...

Aí Luis, bem vindo de volta, estavamos sentindo falta.
Assim como você, sempre que vou a Sampa, um dos meus passeios obrigatórios é percorrer no sábado pela manhã os sebos do centro, Baratos Afins e Ventania são minhas lojas preferidas, fico extasiado ao entrar nelas, recentemente descobri uma loja na Rua Augusta, no lado da putaria, que é simplesmente inebriante, infelizmente não me recordo o nome, o acervo e a quantidade de LPs da loja é inacreditável, lá descobri que possuo pelo menos dois LPs raríssimos, o Paebirú do Zé Ramalho e Lula Cortês e a ópera rock Tommy com a London Sympnony Orchestra e vários artistas, perguntei o preço ao vendedor e ele me disse que só com o dono da loja que não estava no momento, imagine só.
Só que tive uma grande decepção quando fui da ultima vez no início deste ano, constatei que quase todas as lojas de cds do centro de SP, fora as das galerias, tinham sido fechadas, fazia a festa nestas lojas, comprava pepitas musicais a preços nunca maiores que R$ 6,00, numa das idas cheguei a comprar quase 40 cds de uma vez, foi aí que perebi que infelizmente o cd está realmente com os dias contados.
Ah, a praça Benedito Calixto é tudo de bom.
Abraços e bom retorno.

Luis Valcácio disse...

UAU, ROBINSON, tem o Paebirú em casa? Acho que nem o Zé Ramalho tem esse lendário álbum. Deve realmente valer uma pequena fortuna... Quanto às lojas de cd, é realmente triste verificar que nosso vício está em franca derrocada. Na galeria do rock mesmo, se encontram mais roupas e calçados do que música, atualmente. Não conheço esta loja da Augusta que você mencionou, mas vou procurar de uma próxima vez.
Grande abraço