quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Musa Tropicalista

É inacreditável o que o tempo faz com alguns artistas. Se para tipos como Neil Young, Bob Dylan e Patti Smith o passar dos anos se tem revelado como um precioso vinho que apura seu sabor, aroma e consistência, para a maior parte dos medalhões da música brasileira o vinho virou vinagre.

Vejamos, por exemplo, o caso de Gal Costa.

No final da década de 60, Gal se associou ao movimento Tropicalista, tornando-se a principal intérprete de grandes composições de Caetano e Gil e, neste processo, se revelou a cantora mais sedutora e brilhante de uma época de excelentes intérpretes.

Escutar os discos gravados por essa baiana de Salvador nos loucos anos 60 é, ao mesmo tempo, um choque e uma agradável surpresa.

Seu trabalho de 1969 – intitulado simplesmente Gal Costa - é uma pérola da psicodelia brasileira, um cadeirão efervescente onde se misturam bossa nova, forró, rock, jovem guarda e jazz, sem jamais desandar a receita.

Maria da Graça canta, encanta, geme e grita em canções inesquecíveis como Divino Maravilhoso, Baby e Não Identificado. Há ainda espaço para um delicioso dueto com Caetano Veloso (outro caso de vinagre), em Que Pena (Ela Já Não Gosta Mais de Mim), de Jorge Ben (mais vinagre). Dos arranjos tipicamente tropicalistas até o bom gosto na escolha do repertório, tudo é perfeito neste disco.

Gal ainda gravaria grandes trabalhos nos anos seguintes (o duplo Fa-TalGal A Todo Vapor é o melhor deles), mas sua carreira entrou em lento e torturante declínio nos anos 80. A artista absolutamente vital que gravou Vapor Barato como quem desnudava sua alma para o ouvinte se transformou na intérprete burocrática e excessivamente técnica de Chuva de Prata e Um Sonho de Domingo.

Pelo menos ainda temos Bethânia. Se Gal parece ter perdido o prazer de cantar, sua irmã espiritual segue na busca de novas musicalidades, timbres e referências para sua arte.

Quem sabe um dia Gal siga o exemplo de Bethânia e volte a nos encantar com sua voz cristalina e seu canto único.

6 comentários:

Unknown disse...

Oi Luis,

Nossa grande musa, ela cantando "Divino Maravilhoso"no Festival da Record, arrasou.

Abraços

Érico Cordeiro disse...

Luís,
Sua análise é perfeita.
Nos últimos 20 Gal andou cometendo uns disquinhos bastante chinfrins, algo bem distante da qualidade de um Gal a todo vapor ou mesmo do Índia.
Torçamos, pois!

O Maltrapa disse...

Luis, estou com o Érico: "análise perfeita. Tenho todos os discos aos quais você se referiu, e ratifico a opinião de que, escutar Gal dos 1990 para cá, só se for para se lamentar. Aliás, é o que ela virou; uma lamentadora. Talvez por isso não produza mais nada de interessante. Devia escutar seus conselhos e olhar para Bethânia, que não pára de sorrir.

O Maltrapa

Anônimo disse...

Uma pena! Sou, sinceramente, um grande fã de Gal Costa. "Vapor Barato" e "Índia" tornaram-se inesquecíveis na voz desta, outrora, grande intérprete da música brasileira.

João Victor Torres disse...

Achei uma grande ignorância esse texto. Na verdade uma grande falsificação da realidade.

sandro grendene disse...

Gosto muito dos discos lançados por gal nos anos 60/70. Quando assinou com RCA, (depois BMG; agora Sony)se perdeu, a BMG nao cuida seu cast como a Polygram fazia.Só importa vender discos. Mas os discos da primeira metade dos 90 (Plural, Gal 92, O Sorriso do gato de Alice e mina d'água do meu canto) estao entre os melhores da sua carreira, e ela nos shows (e também nos programas de Tv)está melhor, mais técnica e mais segura que nunca. A partir do Acústico se perdeu, foi realmente frustrante assistí-lo. Ódio o Wagner Tizo desde entao pelos seus arranjos burocráticos, que destruíram os maiores clássicos da MPB. No séculos XXi todos os discos de Gal foram "alarmes falsos" de que seriam a volta da Gal Fatal/Plural. Agora em 2011 , Recanto parece ser algo distinto, pelo menos ao vivo ela parece mais "felina" e com mais vontade que durante a última década.