terça-feira, 20 de abril de 2010

As meninas de Brasília

Mesmo com tantos motivos pra deixar tudo como está
E nem desistir, nem tentar
Agora tanto faz
Estamos indo de volta
Pra casa.


A cantora Elis Regina, em seu auge, era conhecida como pimentinha. Após sua morte, a jornalista Regina Echeverria escreveu uma célebre biografia na qual a definia como furacão.

Quem viu, alguns anos mais tarde, uma jovem cantora exorcizando seus demônios em salas de espetáculos minúsculas de Brasília, presenciou o surgimento de um novo furacão. Atendia pela alcunha de Cássia Eller e cantava com a mesma intensidade e paixão um rock do Legião, um blues de Jimi Hendrix, um soul de Otis Redding ou um samba de Noel Rosa.

Não era perfeita. Tinha uma queda quase fatal por certo exagero que seu gogó privilegiado lhe permitia. Mas era uma artista em constante busca e seus últimos trabalhos mostram um tênue equilíbrio entre o grosseiro e o delicado.

Ouvi-la cantando Relicário com o autor da canção, Nando Reis, é um momento perfeito, mas também doloroso, quando se pensa que, pouco tempo depois dessa gravação, ela viria a falecer.

Como escreveu Renato Russo (outro compositor que Cássia gravou bastante): é tão estranho/os bons morrem antes...

Assim como Cássia, a carioca Zélia Duncan iniciou sua carreira pelos bailes e bares de Brasília.

Na época ela nem era Duncan. Era apenas Zélia Cristina. Na volta de uma temporada no exterior, já com o sobrenome de solteira da mãe agregado a seu nome artístico, Zélia encantou o país com seu timbre de voz inusitado e uma versão em português da música Cathedral Song, da cantora Tanita Tikaran.

O auge artístico veio com o álbum apropriadamente chamado Sortimento, um disco que jogava no mesmo balaio rap, samba, rock e pop.

No disco ao vivo que se seguiu, Zélia presta uma bela homenagem a Renato Russo e a Cássia Eller na dobradinha Quase Sem Querer/Por Enquanto, ao mesmo tempo em que rememora seus tempos de Brasília.

A primeira década dos anos 2000 não acrescentou nenhuma grande cantora à cena nacional saída de Brasília. Resultado, talvez, de uma estagnação cultural e artística na cidade.

Enquanto o Distrito Federal cresce assustadoramente, seu público continua vivendo das migalhas caídas do eixo Rio-São Paulo.

Quem sabe em algum boteco suarento por aí não esteja surgindo uma intérprete da qualidade de uma Cássia Eller ou de uma Zélia Duncan...

4 comentários:

Serginho Tavares disse...

uma pena que temos poucas cantoras que se reinventaram sem copiar a Elis, Cássia foi uma delas mas por onde andam as outras?

Nirton Venancio disse...

Luis, Tanita Tikaram nasceu na Alemanha, e desde pequena vive na Inglaterra.

Luis Valcácio disse...

Sério que a Tanita não é nem meio canadense? De onde tirei isso? Se não me engano, à época do primeiro álbum solo do Renato Russo vi uma entrevista com ele na qual se referia à Tanita como "uma cantora canadense". Ou será que viajei feio na maionese? Fica aí, então, a errata. Valeu, Nirton.

Nirton Venancio disse...

Luis, em 1991 assisti e gravei (em vhs) um show da Tanita numa cidade na Noruega no programa Hollywood Rock que a TV Band exibiu. A moça me pegou com aquela voz. E foi no programa (e saiu também uma matéria no jornal Correio Braziliense)que eu soube da nacionalidade dela: alemã, filha de malasiana e pai indo-fijiano. Daí a beleza exótica.
Mas o Canadá tem outras vozes igualmente belas, como k.d.lang.