quarta-feira, 5 de maio de 2010

Caminhos Misteriosos

A revista americana SPIN, em seu site, elegeu os melhores discos dos seus 25 anos de existência. O primeiro colocado da lista de 125 álbuns é - surpresa para mim - Achtung Baby, lançado em 1991 pelo U2.Ao lado de The Queen Is Dead, dos Smiths, Rubber Soul, dos Beatles, Closer, do Joy Division e Pet Sounds, dos Beach Boys, Achtung forma o conjunto que eu costumo chamar Discos do Incêndio, ou seja, aqueles que eu tentaria salvar no caso de um incêndio em casa.

Segundo o texto da revista, Achtung traz em seu DNA as características que seriam exploradas pela melhor música alternativa feita nos anos seguintes: híbrida, multifacetada, experimental sem desconsiderar o ouvinte e emocional sem ser messiânica – um pecado no qual o U2 incorreu com bastante frequência no passado.

Das bandas que surgiram a partir daquele ano, pode-se perceber claramente a sombra de Achtung Baby no trabalho do Coldplay, do Arcade Fire, do TV On The Radio e do The National, entre tantas outras.

O próprio U2 mudaria muito depois do lançamento de seu álbum “alemão” (Achtung foi gravado entre Berlim e Dublim e muito do visual ultracolorido e levemente kitsh adotado pelo grupo na época vem da estada na Alemanha).

Ao invés da pesquisa por raízes do rock americano que havia dominado The Joshua Tree e Rattle And Hum, o grupo deu uma guinada em favor de uma sonoridade mais européia: David Bowie fase Low, Kraftwerk, Roxy Music e o som do Britpop inglês seriam a partir de então as novas referências para Bono, The Edge, Larry Mullen e Adam Clayton.

Quando ouvi Achtung Baby pela primeira vez, confesso que levei um choque. O U2, na minha cabeça, ainda era a banda apoteótica e megalomaníaca que havia me arrastado três vezes ao cinema para assistir ao filme Rattle And Hum.

Quando falo “apoteótica e megalomaníaca” é sem nenhum demérito. Aquela intensidade e paixão, a fotografia épica em preto-e-branco, a postura de salvador do mundo de Bono, tudo era motivo de adoração para meu coração adolescente.

Se alguma vez na minha vida eu fui fanático por alguma coisa, acho que foi ali: entre 1986 e 1988 o U2 ocupava meu 3 em 1, meus cadernos, minhas paredes – cheguei a roubar um cartaz com a imagem da banda de uma banca de revistas – , enfim, não havia nada nem ninguém que se equiparasse a eles (bem, na verdade, havia Morrissey e os Smiths, mas esse foi um tipo de adoração mais madura, menos irrefletida e tola).

Dentro deste contexto, Achtung Baby era um verdadeiro alienígena, mas um alienígena que foi crescendo de pouco em pouco até me dominar por completo.

Todo o cinismo que me despertaram os óculos de mosca e o paletó dourado de Bono caiu por terra quando, finalmente, me deixei levar pela riqueza de canções como Love Is Blindness, Until The End Of The World e, principalmente, One.

Quase vinte após seu lançamento, o disco não perdeu nada de sua genialidade.

Embora tenha feito outros bons discos – All That You Can’t Leave Behind, sendo o melhor deles – o U2 jamais voltaria a atingir o mesmo pico de beleza, criatividade e ousadia ouvido em Achtung Baby.

3 comentários:

Francisco de Sousa Vieira Filho disse...

Cool! :D

acervopop disse...

LUiz,
Achtung Baby é uma viagem incansável, e faz jus está ao lado dos Smiths, dos Beatles e do Pet Sound (eu amo este disco) do Beach Boys.

Valeu,

Abraços

Marcos Eduardo Nascimento disse...

Luis, boa-noite!

Sou leitor do seu blog e eh o primeiro comentario que deixo por aqui. O seu blog eh uma fonte maravilhosa de informacoes musicais. Parabens! E sobre U2: eu concordo com o seu texto. Pra mim este eh o melhor album da banda.

Visite o meu blog,

www.olhardomarcos.blogspot.com

Abraços