quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Feitos em Casa

Por Lázaro Luis Lucas

Davi de Oliveira Pinheiro, Tiago Belotti e Rodrigo Aragão são três diretores de cinema brasileiros. E, como eles, deve haver outros. Fãs, provavelmente, de diretores como George A. Romero, Lucio Fulci, Ruggero Deodato e Umberto Lenzi, como também do cinema fantástico hardcore.

O que estes três meninos realizaram foi uma verdadeira proeza em se tratando de Brasil. Produzindo com recursos próprios e a ajuda de amigos, familiares e comunidade dirigiram, respectivamente, os longas Porto dos Mortos (Rio Grande do Sul, 2008), A Capital dos Mortos (Distrito Federal, 2008) e Mangue Negro (Espírito Santo, 2008).

Por não haver, nem remotamente, uma tradição de filmes de terror produzidos no Brasil - do subgênero filmes de zumbis, então, nem pensar -, o que esse pessoal vem fazendo pela nossa cinematografia é algo inédito e merecedor da atenção de todos nós, cinéfilos. E nem adianta pensarmos em José Mojica Marins.

À exceção da trilogia do Zé Caixão, composta pelos longas À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964), Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1967) e Encarnação do Demônio (2008), e um ou outro elemento sobrenatural em suas obras, a filmografia desse cineasta, e também ator, é tão autoral e diversa que classificá-lo como diretor de filmes de terror é manifestar abertamente desinformação em relação a este grande diretor brasileiro.

Portanto, seja por falta de talento dos veteranos em se aventurar em outras pastagens ou puro preconceito, o Brasil não possui uma cinematografia baseada no fantástico. Pelo menos, até agora.

Como os demais produtores de cinema deste país, esses três diretores também enfrentam problemas para distribuir seus filmes. Aqui no Distrito Federal, mesmo, apenas A Capital dos Mortos teve distribuição garantida nas locadoras de vídeo, por meio da própria produtora, a Vortex Filmes. Nos cinemas, apenas exibições especiais e esporádicas.

Quanto aos outros dois títulos citados, apenas Mangue Negro pode ser conferido por aqui. E por meio da pirataria. Aquela... que financia o crime organizado.

No Brasil, é assim, por meio de distribuidoras de home video, podemos contar com inúmeras dessas produções vindas dos EUA e Canadá. Filmes produzidos nos mesmos moldes dos nossos, além de tranqueiras da Tailândia e porcarias produzidas pelo SciFi Original Movies.

No entanto, não há espaço para apoiar todos esses novos realizadores, divulgando-os e lançando suas obras em todo território nacional. Saem perdendo os fãs desses filmes e a cultura brasileira como um todo.

Com direção, roteiro e edição do próprio Rodrigo Aragão, Mangue Negro é um dos melhores exemplares dessa safra, que deve contar com inúmeros outros títulos desconhecidos por mim.

Com forte influência de Sam Raimi e o seu Uma Noite Alucinante (1987), este misto de filme de zumbi e de canibal com roteiro ecologicamente correto, capricha no gore, presenteando os fãs do gênero com muitos corpos em decomposição e órgãos internos expostos.

O filme, obviamente, apresenta falhas no roteiro e acaba sendo um pouco longo demais - uns vinte minutos a menos em nada comprometeria o trabalho - mas, afinal de contas, é uma obra de estreia e nem todo mundo é um Orson Welles.

Outro ponto negativo é a pesada maquiagem usada pelos atores André Lobo, Maurício Ribeiro e Ricardo Araújo, que acaba reforçando, ainda mais, o tom caricato das interpretações.

Os aspectos positivos de Mangue Negro são a impressionante trilha sonora de Jaceguay Lins, a quem o filme é dedicado, o bom uso cenográfico do mangue, as atuações acima da média da maioria dos atores e a vontade louca de Rodrigo Aragão em agradar os fãs desse cinema, comportamento raríssimo em nossos diretores.

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