sexta-feira, 29 de maio de 2009

Discos e Arte II

Uma imagem icônica para o rock: uma figura desesperada projeta um grito, que distorce tudo ao seu redor.

A capa do primeiro álbum do King Crimson, lançado em 1969, já despertou muita especulação sobre seu sentido. E continua intrigando e fascinando.

O disco, clássico, é um conjunto de apenas 5 longas faixas, exaustivamente trabalhadas, que estabeleceriam o padrão para o chamado rock progressivo. Mas, ironicamente, a capa é mais lembrada que a própria obra.

Para mim, a beleza dessa pintura só encontra paralelo em outro quadro sobre angústia, desespero e dor, O Grito, do norueguês Edvard Munch, exposto pela primeira vez em 1893 e, desde então, uma das imagens mais conhecidas da arte ocidental.

Munch, que teve a vida marcada pela depressão e por perdas precoces de pessoas queridas, traduziu perfeitamente o sentimento de inadequação e desamparo do homem moderno.

Mais de 70 anos depois, o King Crimson captaria novamente esse sentimento em sua magnífica estréia.

A euforia de paz e amor dos anos 60 já dava claras mostras de cansaço no final de uma década que, em retrospecto, se revelaria violenta, conturbada e sangrenta.

Novamente, o único ato possível, nesse contexto, é gritar para o vazio.

Pelo menos, dessa vez, havia uma bela trilha sonora de fundo...

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Tristes Trópicos

Dia desses, estava o rádio do meu trabalho ligado numa dessas estações que tocam o melhor da música brasileira, quando escuto a versão de uma canção que já devia ter sido sepultada para sempre.

O tal cover era de Um Dia de Domingo, sucesso bregoso interpretado originalmente por Gal Costa e Tim Maia. Pois não é que a música foi regravada por uma das figuras mais nefastas da atual cena pop brasileira, Ana sou bi e daí Carolina.

Ana não é nada burra e deu aquela roupagem voz e violão que muita gente acha o máximo do despojamento e sofisticação sonoros e, pronto, lá está a onipresente mineira berrando para quem quiser ouvir que tudo vai ficar por conta da emoção (argh!!!!!!!!!!!).

Na verdade, Ana Carolina não é o grande problema da música brasileira de grande consumo. O problema é a indústria querer vendê-la como ótima cantora e compositora, são as rádios que executam suas canções de hora em hora, é a televisão que a promove incessantemente.

É uma massificação do gosto raso da maioria, que só encontra paralelo na baiana Ivete Sangalo, essa, sim, um caso criminoso de imposição de uma estética burra, que privilegia somente o entretenimento e coloca a música em último lugar.

Não à toa, os espetáculos de Sangalo são cada vez mais superproduzidos, uma imitação grosseira de grandes shows internacionais. Nada contra música como pura diversão, mas há um sério risco para a cultura de um país quando toda arte se resume a mero passatempo.

Sei que não sou exatamente um entusiasta da nossa música. Acho que os grandes luminares do cancioneiro brasileiro são, em sua grande parte, pedantes e pretensiosos, mas reconheço a importância de Chico Buarque, de Caetano Veloso, de Gilberto Gil e de João Gilberto. E até tenho um grande afeto pela fase jovem guarda de Roberto Carlos, além de achar a produção de Rita Lee, na década de 70, fantástica.

Bem ou mal, toda essa geração, que hoje se encontra com mais de 60 anos de idade, deixou um legado. O mesmo se pode dizer, com certas ressalvas, da galera do rock oitentista.

Quanto a essa gentalha que anda sugando o resto de energia da agonizante indústria fonográfica nacional, penso que seu legado será a destruição de toda fagulha de criatividade e originalidade que ainda possa existir pelos rincões deste imenso País.

Talvez, a luz no final do túnel esteja no underground, nas grandes festas populares e nas pequenas manifestações artísticas, que se mantém à parte da mídia.

Está mais do que na hora de um levante.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Dica

Um dos discos mais bonitos que escutei nos últimos tempos é Hold Time, do músico americano Matthew Stephen Ward, que assina seus trabalhos simplesmente com M. Ward.

Ward já havia encantado seus fãs com o disco Post-War, de 2006, uma fantástica viagem por um universo onde country, surf music e rock independente se fundem para criar um som único.

Hold Time não traz novidades para esse formato, mas as composições de Ward evoluíram muitíssimo. Suas músicas estão mais bem estruturadas e as boas canções vão se acumulando num crescendo, em que se destacam as faixas Never Had Nobody Like You (com participação da atriz e cantora Zooey Deschanel) e Oh Lonesome Me (esta com a sublime cantora Lucinda Williams).

É difícil escutar Hold Time sem se imaginar numa praia ensolarada, com uma leve brisa soprando e uma imensa sensação de bem estar e paz na vida. E uma ocasional melancolia, é verdade...

Para quem tem interesse em musicalidades inclassificáveis, doces melodias e um pop bastante diverso do que se faz atualmente, vale também checar o disco Volume 1, a faixa She And Him, no qual Ward se juntou a Zooey Deschanel para uma revisão bastante livre da country music americana, além de ótimas releituras de clássicos como I Should Have Known Better, dos Beatles, e You Really Gotta Hold On Me, de Smokey Robinson.

Meus Discos Preferidos: Anos Noventa

1Ok Computer Radiohead (1997)
A trilha sonora perfeita para os gélidos anos 90, este disco é uma espécie de Dark Side Of The Moon, atualizado para a geração internet. Radiografia precisa de um mundo tecnológico e impessoal, Ok Computer preserva seu status de obra-prima da década por aliar experimentação musical com uma habilidade invejável para gerar grandes canções (os dois melhores exemplos são Karma Police e Lucky).

2 Odelay Beck (1996)
Um artista que representa o lado mais ousado e criativo de uma década em que as fronteiras que separavam estilos musicais foram para o espaço, Beck teve seu ápice no seu segundo registro em estúdio. Odelay é um disco em que rock, hip hop, country, blues e eletrônica convivem em perfeita harmonia.

3 NevermindNirvana (1991)
Talvez este seja o disco mais influente feito nas últimas duas décadas e, ao que parece, seu espectro não dá mostras de desaparecer tão cedo. É um daqueles casos raros em que sucesso de vendagem vem de mãos dadas com uma qualidade artística imensa. Smells Like Teen Spirit, Come As You Are, Polly e Lithium são polaroids de um tempo no qual o mundo inteiro passou a viver em Seattle. Vestindo camisa xadrez e calça jeans surrada, é claro.

4 XOElliott Smith (1998)
Uma perda menos sentida que a de Kurt Cobain, mas igualmente triste, o suicídio desse brilhante cantor e compositor americano, interrompeu uma carreira que apenas começava a decolar, com este lindíssimo trabalho de 1998. Smith cantava com o coração vibrando em suas cordas vocais. As canções deste disco são pequenos contos de desesperança e solidão, que revelam uma delicadeza e uma fragilidade que não poderiam resistir durante muito tempo mesmo...

5 Car Wheels On A Gravel Road Lucinda Williams (1998)
Muito rock para o público country e muito country para o público roqueiro, Lucinda Williams vinha de uma longa carreira de belos discos e pouca – ou nenhuma – repercussão, quando lançou essa maravilha chamada Car Wheels On A Gravel Road. O mundo descobriu, então, uma compositora incrível, que sabia falar das dores do coração, do aconchego do lar, da vida na estrada e da felicidade de se tocar uma guitarra, sem nunca desandar para o piegas.

6Début Bjork (1993)
Uma artista que dominou toda a década de 90, sem jamais cair na repetição ou auto-indulgência, Bjork é um desses milagres artísticos que conseguem nos surpreender, mesmo quando tudo parece estar perdido. Début é seu disco mais apaixonante porque preserva uma certa ingenuidade. É como se este pequeno duende islandês estivesse brincando de fazer música. Só que o resultado é uma musicalidade madura e altamente elaborada, que se revela nos pequenos detalhes de Human Behavior, Aeroplane e Venus as a Boy.

7TenPearl Jam (1991)
Um monstro que fundiu no seu corpo o heavy rock da década de 70, a intensidade do levante punk e o rock clássico de artistas como Bruce Springsteen, o Pear Jam já começou sua carreira de forma superlativa, vendendo horrores e arrastando multidões para seus shows. No coração dessa avalanche encontra-se a supremacia de canções como Black, Even Flow e Alive. Qualidade e perfeição que a banda jamais conseguiria superar.

8 DryPJ Harvey (1992)
Um som cerebral, pesado e inteligente era a arma principal da inglesa Polly Jean Harvey para se diferenciar de suas colegas em meio a maior invasão feminina que o rock já viu. Se, até a década de 80, mulheres eram ainda artigo esparso no reino das guitarras, os anos 90 viram esse panorama mudar radicalmente. PJ estabeleceu o padrão pelo qual todas as garotas que queriam fazer música teriam que se guiar. Só na década passada, gravou três discos imprescindíveis. E segue com sua criatividade intacta e cada vez mais ativa.

9 BandwagonesqueTeenage Fanclub (1991)
Mestres em criar melodias doces e grudentas, esses rapazes escoceses foram uma espécie de bálsamo, numa época em que as guitarras barulhentas voltaram a imperar. Fundindo influências que iam do power pop do Big Star até as harmonias gloriosas do The Byrds, o Teenage construiu uma carreira que, mesmo sem conseguir repetir o sucesso deste Bandwagonesque, se manteria coerente na sua proposta de fazer música simples e, em seus momentos mais inspirados, inesquecível.

10 The Soft BulletinThe Flaming Lips (1999)
O disco mais viajante da década, The Soft Bulletin tirou o Flaming Lips do anonimato e marcou indelevelmente a vida de todos que se aventuraram neste álbum mezzo conceitual, mezzo rock independente. Criando um universo à parte em que uma colherzinha pesa uma tonelada e o super-homem está cansado de salvar a Terra, o vocalista Wayne Coyne e seus asseclas forjaram uma obra-prima psicodélica, pomposamente orquestrada e poeticamente instigante.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Capas Clássicas

A imagem diz tudo: 4 caras maquiados, vestidos como personagens de história em quadrinho, tocando um rock insano.

O disco é Alive!, lançado pelo Kiss, em 1975, e que, em pouco tempo, transformaria o grupo em superastros nos Estados Unidos.

Hoje, o Kiss virou uma máquina de fazer dinheiro cínica e aproveitadora. Nada contra, acho que os caras podem morrer fazendo o que fazem – se ainda houver quem queira vê-los -, mas a mágica do período compreendido entre 1973 e 1977, se perdeu para sempre.

Ainda bem que temos Alive! – o melhor disco ao vivo de todos os tempos –, e sua clássica capa para nos lembrarmos de que um dia eles foram a maior banda de rock do mundo.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Tragédia Revisitada

Poeta, homossexual assumido, marxista convicto e cineasta inquieto, o italiano Pier Paolo Pasolini dirigiu alguns dos filmes mais interessantes da segunda metade do século XX.

Sua carreira contempla estilos diferentes, indo do cinema de temática social fortemente influenciado pelo neo-realismo, até adaptações de clássicos da literatura e de tragédias gregas.

Entre estes últimos, estão sua releitura muito pessoal de Medeia – estrelado pela cantora lírica Maria Callas – e de Édipo Rei.

A história de Édipo – o filho que mata o pai e se casa com a própria mãe –, é uma das mais conhecidas da tragédia clássica, muito graças às teorias de Freud, que se apropriou do mito grego para fundar a Psicanálise.

Justamente por isso, é interessante conhecer a visão de Pasolini.

Sem um respeito exagerado por um texto tão caro ao inconsciente coletivo do Ocidente, mas, ainda assim, mantendo-se fiel à trajetória do herói helênico, Pasolini nos apresenta um Édipo intenso, vivo e real.

É também curiosíssima a opção da transposição da Grécia Clássica para um deserto bárbaro, onde profecias terríveis acontecem em meio a danças tribais e assassinatos sangrentos são presenciados por deuses mudos.

A profunda compreensão do cineasta de que o terreno da tragédia é, na verdade, a alma humana, se traduz em imagens de grande impacto.

Daí, talvez, o deserto, o ermo, o horizonte perdido em que Édipo vaga desesperado ao final de seu drama.

Cego, humilhado e perdido para sempre, Édipo é nós todos: seres ridículos tateando no escuro da existência.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Meus Discos Preferidos: Anos Oitenta

1 - CloserJoy Division (1980)
Um disco enigma, um modelo que seria absurdamente copiado (e jamais igualado), e o nascimento de um mito. O suicídio do vocalista Ian Curtis tornaria este segundo e último álbum do Joy ainda mais cultuado, mas a força e a beleza das derradeiras canções registradas por Curtis têm vida própria e se impõem acima de qualquer mórbida adoração e culto da morte (um pecado no qual muitos fãs de rock parecem incorrer).

2 The SmithsThe Smiths (1984)
O primeiro disco lançado por Morrissey e cia beira a perfeição e tem canções absolutamente clássicas, como This Charming Man, Still Ill e What Difference Does It Make . Ainda que eles tenham atingido a maturidade com o terceiro trabalho, The Queen Is Dead, de 1986, The Smiths é repleto de uma inocência e lirismo que se perderiam um pouco ao longo do caminho. E há também a fantástica capa - belo trabalho gráfico que criou uma identidade visual, que marcaria para sempre a carreira da banda.

3DocumentR.E.M. (1987)
Até hoje, o melhor disco da grande banda americana e também aquele com o maior número de canções clássicas (The One I Love, The Finest Worksong e a definitiva It’s The End Of The World As We Know It), Document colocou o rock independente veiculado em rádios universitárias nas paradas, chamando a atenção do resto do mundo para a banda do vocalista Michael Stipe. É bem verdade que eles nunca igualariam a energia e a pegada alcançadas aqui, mas o R.E.M. tem o mérito de ter permanecido fiel a sua ética de independência e integridade artística. Além de, é claro, terem gravado outras músicas perfeitas...

4 WarU2 (1983)
Durante muito tempo, o melhor disco da década de 80, foi, para mim, The Joshua Tree, lançado pelo U2 em 1986. Mas, curiosamente, esse foi um disco que não resistiu tão bem ao teste do tempo quanto o terceiro trabalho da banda, War. Vigoroso, recheado de músicas que até hoje compõem o set list dos shows do U2, War perdeu muito de sua importância como disco político e contestatório, mas permanece inalterado em sua qualidade musical.

5 Ocean RainEcho & The Bunnymen (1984)
Se tivesse apenas a faixa-título – uma canção grandiosa, que parece querer atingir o céu – e a emblemática The Killing Moon – a perfeição em formato de canção-pop – este disco já seria imprescindível. Mas há muito mais para se deleitar na fórmula pós-punk psicodélica manipulada com precisão por Ian McCulloch e os Homens-Coelho. Ambicioso, poético e altamente viciante.

6 Low LifeNew Order (1985)
O New Order poderia ter se tornado apenas um “sub Joy Division”, mas, ao invés disso, preferiu se arriscar e acabou burilando um som totalmente novo e que teria grande influência em todos os sons que misturam rock com música eletrônica. A diferença entre o New Order e seus seguidores, é que seus integrantes tinham um imenso talento para criar pérolas pop, coisa que Low Life tem aos montes. De Love Vigilantes até o encerramento com Face Up, este disco se revela uma aula de como fazer música para chacoalhar o corpo, sem esquecer de alimentar a mente. Brilhante!

7 Surfer RosaPixies (1988)
De todos os discos que conheci, no final da década de 80, nenhum foi tão marcante quanto Surfer Rosa. Embora, a rigor, o Pixies não apresentasse nada de novo, o impacto de sua surf music insana foi imenso. Durante alguns anos, eles foram tudo que se pode esperar de uma banda de rock: rebeldes, pesados, iconoclastas e surpreendentes. E autores de algumas das melhores canções daqueles anos.

8 Let It BeThe Replacements (1984)
Ao lado do R.E.M, esta talvez seja a mais importante e influente banda surgida no underground americano. Nirvana, Pearl Jam, Smashing Pumpkins, enfim, todos os grandes grupos surgidos nos Estados Unidos, na década de 90, devem alguma coisa aos Replacements. Let It Be é o disco para começar a gostar deles. Tudo está aqui: do rock certeiro de I Will Dare até o cover esperto de uma canção obscura do Kiss, Black Diamond, o grupo não dá uma fora. Um disco de rock direto e sem frescuras.

9PsychocandyThe Jesus And Mary Chain (1985)
O ruído como forma de expressão artística não era exatamente uma novidade. O Velvet Underground já havia incorporado sons pouco usuais ao seu rock de vanguarda. Mas os irmãos Reid levaram essas experiências embrionárias a níveis realmente inesperados. Profundamente influenciados por Beach Boys, pelos grupos femininos da década de 60 e pelo Velvet, o Jesus recuperou a canção de 3 minutos como pedra fundamental do rock, e acrescentou a esse formato muita distorção, microfonia, ruídos diversos e uma barulheira infernal. No meio de camadas e mais camadas de guitarras, o grupo se sai com pequenas maravilhas como Some Candy Talking e Just Like Honey.

10Kicking Against The Pricks Nick Cave And The Bad Seeds (1986)
Este disco marcou muito meu final de adolescência. Acho que o escutava três, quatro vezes seguidas, tentando entender o que me fascinava tanto. Hoje, percebo que o tratamento entre irônico e reverente que Cave e sua banda dão às 14 músicas alheias que compõem este disco, era algo muito novo e surpreendente para mim. Antes de tudo, a fantástica habilidade deste artista australiano de transformar cada um desses covers em obra totalmente sua, é que faz o brilho e a qualidade perene deste Kicking Against The Pricks.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Doces Domingos

Eles são um casal casado, ambos cegos e músicos de uma longa carreira na distante Mali, na África.

Foi preciso a interferência do músico francês Manu Chao para que a dupla africana Amadou e Marian se tornasse conhecida no resto do mundo. Chao produziu o disco Dimanche a Bamako, e introduziu na música sinuosa e dançante do casal seu liquidificador de ritmos variados, criando assim uma obra de aceitação pop instantânea.

Chao não se limitou a simplesmente sentar atrás da mesa de som. Sua participação no disco é bem mais efetiva. Ele canta e co-escreve várias das canções. A quem diga que é muito mais um disco de Manu Chao com Amadou e Marian do que o contrário. Mas, embora o estilo “tudo ao mesmo tempo agora”, de Chao, seja onipresente no disco, não é ele quem faz o seu brilho.

As estrelas aqui são, sem sombra de dúvida, Marian que, com sua voz pequena e quase infantil, consegue encantar mais que muita Celine Dion da vida, e Amadou, um guitarrista cheio de ginga e balanço.

Escutar faixas como M’Bife e Beaux Dimanches é não apenas um grande prazer, mas principalmente, a descoberta de uma musicalidade rica e apaixonante.

sábado, 16 de maio de 2009

Discos e Arte

Quando o genial artista pop americano Andy Warhol resolveu apadrinhar uma banda de rock, ele escolheu justamente a mais marginal, perigosa, ousada e, como o tempo viria a provar, influente de todos os tempos, o Velvet Underground.

Para ilustrar o primeiro disco do Velvet, gravado em 1967 com o acréscimo da cantora alemã Nico, Warhol presenteou o grupo com uma capa que entraria definitivamente para a história do rock e redefiniria o design de embalagens de discos.

Indo na contramão da colorida arte que enfeitava os álbuns de rock psicodélico, Warhol concebeu um projeto minimalista e de uma simplicidade absoluta. Sobre um fundo branco, uma banana rigidamente desenhada e a assinatura do artista. Só.

Se hoje parece sem grande originalidade, é só dar uma passeada pelas capas de discos feitas então. A ousadia de Warhol salta aos olhos.

Pelo que já li sobre esse importantíssimo disco, a banana da capa era descascável, detalhe que se perdeu no formato cd, mas que certamente tornava o trabalho do papa da pop arte ainda mais interessante e único.

Deu no Noblat

Enviado por Ricardo Noblat

16.5.2009

http://oglobo.globo.com/pais/noblat/
11h00m

vale a pena acessar

Dica de blog - Vitrola Encantada

Blog Vitrola Encantada
Desde primeiro bolachão de vinil, no início da década de 80, até os mais obscuros downloads que se podem achar na rede, este blog é uma viagem de Luis Valcácio ao universo encantado da música pop e do rock de todos os tempos. Sugestão de Afonso Celso Machado.

Sugiro diariamente sites, blogs e fotologs que valham a pena ser acessados.

Mandem sugestões para noblat@uol.com.br

Agradeço desde já.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Meus Discos Preferidos: Anos Setenta

1 Dark Side Of The MoonPink Floyd (1973)
Para mim, este disco é uma espécie de totem, um oráculo sagrado ao qual eu sempre recorro. Viajante, progressivo sem ser tedioso, poético e perfeito em sua concepção musical, Dark Side é uma longa ode ao ex-vocalista do Floyd, Syd Barrett, àquelas alturas já perdido para o mundo e habitando um universo completamente à parte.
2Led Zeppelin IIILed Zeppelin (1970)
É muito difícil escolher entre os 4 primeiros discos do Zeppelin. São todos perfeitos e é incrível perceber a evolução do grupo desde o heavy blues do primeiro trabalho até a maturidade musical alcançada em 1971, com o emblemático quarto álbum. Mas o meu preferido segue sendo o terceiro. Talvez, porque seja o menos pesado. Talvez, porque tenha Since I´ve Been Loving You . Não sei, mas o fato é que toda vez que penso em ouvir Zeppelin , corro para o III.
3 The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars David Bowie (1972)
O mais genial artista da década de 70 passou por várias fases: foi folk no primeiro disco, hard no segundo, inclassificável no ótimo Hunky Dory e, finalmente, um mutante alienígena travestido de rock star em seu quarto e melhor álbum, Ziggy Stardust. Auge da estética glam, o disco alinhava 11 canções matadoras, que tornaram Bowie um super-astro na Inglaterra e, cumprindo as profecias de Ziggy, um mito do rock.
4London CallingThe Clash (1979)
A antítese da pompa e da pretensão de grande parte dos artistas da década, o The Clash era uma metralhadora de criatividade, cuspindo uma variedade de estilos que iam da mais pura explosão punk ao reggae e ao rockabilly. London Calling é o auge de sua estética suja e politizada. Intenso demais para durar, o grupo sucumbiria a divergências internas e ao declínio do ideário punk. Mas a sua marca já estava registrada na história do rock.
5 HorsesPatti Smith (1975)
Espécie de mãe espiritual de todos os rebeldes que surgiram na segunda metade da década, Patti tinha experimentado outras linguagens artísticas antes de lançar seu primeiro e mais importante disco. Horses combina à perfeição suas ambições poéticas com a urgência musical de sua banda. Sem falar que Smith canta muito. Um disco para escutar com a sensibilidade à flor da pele.
6 Harvest Neil Young (1972)
O gênio de Young já dava mostras de seu alto poder desde a década de 60, mas seu auge se encontra, realmente, na primeira metade da década seguinte. Harvest é seu disco mais bem-sucedido comercialmente, e uma pérola de delicadeza e de sutis revelações que vão nos envolvendo e apaixonando a cada faixa. Tão marcante, que Young faria duas continuações: Harvest Moon, em 1992, e Prairie Wind,em 2005.
7 Burnin’ Bob Marley And The Wailers (1973)
Um grande feito: um artista de terceiro mundo alcança êxito mundial e se converte numa influência fundamental para toda a música pop que se faria a partir daí. Burnin’ captura Marley e sua ótima banda em estado bruto, entoando canções que são como uma espécie de canto religioso, tocado num ritmo lento e cadenciado. Isso sem falar na forte mensagem política. Grande disco.
8 Born To RunBruce Springsteen (1975)
Quando lançou este disco, em 1975, Springsteen era apenas um aspirante a astro, entre tantos nos Estados Unidos. Mas Born to Run o tornou não apenas um astro, mas também uma lenda, o cara simples e batalhador que conhece de perto o outro lado do “sonho americano”. Para alguns críticos mais severos, Bruce não passa de um Dylan requentado, mas a verdade é que a paixão e a sinceridade que encontramos em cada uma de suas canções, o credenciam como um artista de mérito próprio.
9Marquee MoonTelevision (1977)
O punk como obra de arte bem acabada. Por mais paradoxal que possa parecer, o Television conseguiu isso com sua obra-prima, Marquee Moon, um disco que preserva a energia bruta das ruas típica do punk, acrescentando a sofisticação instrumental dos guitarristas Tom Verlaine e Richard Lloyd.
10 Goodbye Yellow Brick RoadElton John (1973)
O lado mais triste e melancólico da década encontra neste álbum duplo extraordinário seu exemplo mais perfeito. Melodias grudentas em canções que só podem ser comparadas com as de outros gênios pop, como os Beatles e os Beach Boys.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Diamante Negro

Amy Winehouse, Duffy, Estelle, Adelle. Todas britânicas, todas herdeiras – ou simples imitadoras? – da grande tradição da soul music americana.

Grandes cantoras, sem dúvida, mas seu maior mérito é o de atualizar a linguagem do estilo e entregá-lo com ares de modernidade para o grande público.

A melhor sacada dessa revitalização do soul foi, é claro, de Winehouse, que escolheu o estilo para falar de suas falidas relações amorosas e seus problemas com o álcool e as drogas. Não à toa, colheu lucros e dividendos, e hoje é uma das cantoras mais populares do mundo – mas, talvez, não exatamente por suas qualidades vocais, e sim por sua agitada e escandalosa vida pessoal.

Do outro lado do Atlântico, onde a soul music nasceu e floresceu, o panorama não é tão animador, mas há um diamante bruto que, fosse o mundo um lugar justo, destronaria todas aquelas branquelas inglesas: Sharon Jones.

Junto à banda The Dap Kings, Sharon vem gravando uma série de discos onde sua voz é parte central. Dona de uma interpretação vigorosa, em que ódio e amor convivem lado a lado, Jones carrega nas cordas vocais o peso de seus mais de 50 anos e do reconhecimento já um tanto tardio de seu talento.

O disco 100 Days, 100 Nights, lançado em 2007, é a introdução ideal ao universo de Sharon e dos Dap Kings. Pura Black Music calcada nos mestres do soul e do funk das décadas de 60 e 70, a música do grupo brilha em faixas como Answer Me, Be Easy e, principalmente, na arrasadora canção-tema, em que Sharon devaneia sobre a incomunicabilidade entre homens e mulheres, sobre uma base de metais que é como uma cama macia para seus vocais cheios de energia.

Que a pequena popularidade alcançada por esse disco se alastre. E que Jones ocupe o lugar que sua voz singular merece no panteão das grandes divas negras americanas.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Meus Discos Preferidos: Anos Sessenta


1 RevolverThe Beatles (1966)
Tudo que os Beatles gravaram é indispensável para se entender os anos 60, mas REVOLVER é o disco em que eles viraram a própria mesa e deixaram de ser uma boy band para se tornar uma banda “artística”. Todo o desbunde psicodélico que viria a seguir só foi possível porque, antes, eles gravaram canções como Eleanor Rigby, Tomorrow Never Knows, Here There And Everywhere, todas presentes em REVOLVER.
2Pet Sounds The Beach Boys (1966)
A história mais bizarra do rock: a obra-prima dos Beach Boys passou batida no seu lançamento e, de certa forma, precipitou o processo de alienação mental do genial Brian Wilson. Hoje, PET SOUNDS é reconhecido como um dos mais importantes e reverenciados discos já feitos. Sofisticado e, ao mesmo tempo, muito simples, é uma obra de beleza perene, um disco que precisa ser descoberto e redescoberto sempre.
3 Highway 61 RevisitedBob Dylan (1965)
O bardo americano já havia revolucionado – e revoltado – o mundo da música com seu disco anterior, o igualmente essencial BRINGING IT ALL BACK HOME, mas HIGHWAY 61 expande os limites e leva o folk-blues personalíssimo de Dylan a níveis inesperados. É interessante ouvir este disco e assistir, em seguida, a NÃO ESTOU LÁ, cinebiografia ultrafragmentada do mito, realizada pelo diretor Todd Haynes, para se ter uma idéia precisa do abalo sísmico causado pelo jovem Bob.
4 Let It Bleed The Rolling Stones (1969)
Os Rolling Stones atingiram a maturidade musical no ano anterior, com o excepcional BEGGAR’S BANQUET, mas a máquina turbinadíssima da dupla Jagger-Richards parecia não dar mostras de fatiga, como provou o trabalho de 1969, LET IT BLEED. Da abertura matadora com Gimme Shelter – para mim a melhor canção dos Stones –, até o encerramento grandioso de You Can’t Aways Get What You Want, o quinteto inglês dá um banho de rock, blues, country e soul, sem escorregar uma única vez. Inesquecível.
5 The Velvet Underground And Nico (1967)
Para se entender este disco é preciso esquecer todos os clichês sobre os anos 60. O Velvet colocou conceitos como “paz e amor”, “flower power” e outras utopias da época no lixo e gravou um épico sombrio sobre sexo, violência, drogas pesadas e psicoses urbanas. O resultado é perturbador até hoje. E sua influência inexorável continua se insinuando em milhares de bandas mundo afora.
6 Are You Experienced? Jimi Hendrix (1967)
O maior guitarrista de todos os tempos já debutou com um disco perfeito, cada faixa uma pequena maravilha executada com maestria. Com apenas três discos gravados, Hendrix deixou um legado imenso. Fica-se só imaginando o que teria aprontado se não tivesse morrido de maneira tão estúpida aos 27 anos.
7 The Doors (1967)
Uma das bandas mais conhecidas da época, graças em grande parte à mitificação em torno do vocalista Jim Morrison, os Doors gravaram excelentes canções, mas seus discos são um tanto desiguais. A exceção é o magnífico disco de estréia. Impregnado de uma certa mitologia californiana de liberdade ilimitada, é um disco raro em que poesia e música se casam de forma brilhante. Alusões a Sófocles, Brecht e William Blake não tornam o disco pedante, mas antes, extremamente rico e instigante.
8 Music From Big Pink The Band (1968)
É difícil escolher entre os dois primeiros discos desta banda incrível, que tocou com Bob Dylan e fez história na década de 60. Mas Music From Big Pink sobe uns poucos pontos na escala, pela presença de canções como I Shall Be Released, Wheels On Fire e The Weight. Um disco tão bom e influente que não se consegue imaginar metade do rock alternativo que se faz nos Estados Unidos hoje, sem a sua imensa sombra.
9Younger Than YesterdayThe Byrds (1967)
Outra obra capital do rock americano, Younger Than Yesterday traz os Byrds ainda em sua formação original e com seus membros no auge de sua capacidade criativa. Covers de canções de Bob Dylan convivem em harmonia com as criações próprias de Roger McGuinn, David Crosby (autor da belíssima Everybody’s Been Burned) e Chris Hillman, num disco bastante representativo de uma vertente do rock psicodélico que valorizava mais os vocais e as harmonias, em detrimento do barulho e da experimentação.
10 The Piper At The Gates Of DawnPink Floyd (1967)
O Pink Floyd do vocalista Syd Barrett tem pouco a ver com a banda que se consagraria na década de 70, com discos como Dark Side Of The Moon. Tragicamente, Barrett sucumbiria a seus próprios excessos, mas seu nome está definitivamente inscrito na história do rock, graças a essa coleção incrível de canções louquíssimas e muito, muito bonitas. Para mim, o melhor disco de rock psicodélico de todos os tempos.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Essa Voz Tamanha

Intenso, emotivo e de uma fragilidade apenas aparente, o canto do excepcional vocalista Antony Hegarty tem encantado a todos que têm a chance de escutá-lo.

Sua voz, entre o masculino e o feminino, lembra, por vezes, grandes divas do soul e do jazz. Há algo de etéreo e de angelical em cada uma de suas canções.

Seu novo disco junto à banda The Johnsons não consegue superar a beleza arrepiante do trabalho anterior, I’m A Bird Now, mas o confirma como um dos mais interessantes e singulares artistas da atualidade.

The Crying Light tem instrumentação esparsa e arranjos minimalistas, mas o foco é, como sempre, a interpretação única de Hegarty. Em One Dove e Another World ele prova definitivamente que é o melhor cantor dessa nova geração.

Artistas brilhantes como Bjork, Lou Reed, Rufus Wainwright e Joan Wasser são fãs do trabalho de Antony.

Não é para menos. Quando escutamos seu dueto com o ex-vocalista do Culture Club, Boy George, na canção You Are My Sister (do disco I’m A Bird Now), é impossível não deixar a emoção vir a tona.

Que ela continue aflorando por muitos anos...

segunda-feira, 4 de maio de 2009

O Som e a Fúria

Filmes sobre músicos tendem a ser chatos, elegíacos e superficiais. Há algumas exceções, é claro. Recentemente assisti a uma delas, a cinebiografia Control, sobre a vida do vocalista do Joy Division, Ian Curtis.

Dirigido pelo extraordinário fotógrafo holandês Anton Corbijn, Control chama a atenção, inicialmente, pelas belíssimas imagens em preto-e-branco. Mas, lentamente, o filme vai seduzindo pelo delicado retrato de seu biografado.

Corbijn não tentou mitificar Curtis. Ou pintá-lo como um poeta atormentado e inatingível. Pelo contrário, o que se vê na tela é um homem comum, com uma sensibilidade artística especial, mas com problemas de saúde graves, que acabaram por debilitar ainda mais uma personalidade já naturalmente frágil.

Do casamento precoce ao início do sucesso à frente do Joy Division, o filme vai fazendo a ponte entre a vida pessoal de Curtis e suas letras aparentemente herméticas e incompreensíveis. É nesse ponto que, para mim, Control se diferencia de outras biografias de rock. Ao invés de ficar romantizando a vida de um ídolo, Corbijn optou por nos mostrar a gênese do artista e sua evolução. E a cada música exibida no filme, vem aquele inevitável pensamento: “puxa vida, como o Joy Division era bom!”

Em sua curtíssima carreira, gravaram apenas dois discos e alguns compactos, mas, com certeza, fizeram mais pela música que muita banda consegue fazer ao longo de vinte anos. Unknow Pleasures e Closer são clássicos absolutos, discos imprescindíveis para qualquer pessoa em busca de bons sons.

No show que o New Order – banda formada por três quartos do Joy Division e que conseguiu forjar um som próprio e igualmente inesquecível – apresentou aqui em Brasília, há uns três anos, lembro-me de um cara, próximo de mim, que gritava enlouquecido toda vez que a grupo tocava alguma preciosidade do Joy (e eles tocaram três canções, se não me engano: Atmosphere, Transmission e Love Will Tear Us Apart).

Foi, certamente, para sujeitos como aquele, que Corbijn fez Control. E também para tipos como eu, que, ao contrário do outro, escutava a cada música caladinho, caladinho... Em êxtase.