segunda-feira, 4 de maio de 2009

O Som e a Fúria

Filmes sobre músicos tendem a ser chatos, elegíacos e superficiais. Há algumas exceções, é claro. Recentemente assisti a uma delas, a cinebiografia Control, sobre a vida do vocalista do Joy Division, Ian Curtis.

Dirigido pelo extraordinário fotógrafo holandês Anton Corbijn, Control chama a atenção, inicialmente, pelas belíssimas imagens em preto-e-branco. Mas, lentamente, o filme vai seduzindo pelo delicado retrato de seu biografado.

Corbijn não tentou mitificar Curtis. Ou pintá-lo como um poeta atormentado e inatingível. Pelo contrário, o que se vê na tela é um homem comum, com uma sensibilidade artística especial, mas com problemas de saúde graves, que acabaram por debilitar ainda mais uma personalidade já naturalmente frágil.

Do casamento precoce ao início do sucesso à frente do Joy Division, o filme vai fazendo a ponte entre a vida pessoal de Curtis e suas letras aparentemente herméticas e incompreensíveis. É nesse ponto que, para mim, Control se diferencia de outras biografias de rock. Ao invés de ficar romantizando a vida de um ídolo, Corbijn optou por nos mostrar a gênese do artista e sua evolução. E a cada música exibida no filme, vem aquele inevitável pensamento: “puxa vida, como o Joy Division era bom!”

Em sua curtíssima carreira, gravaram apenas dois discos e alguns compactos, mas, com certeza, fizeram mais pela música que muita banda consegue fazer ao longo de vinte anos. Unknow Pleasures e Closer são clássicos absolutos, discos imprescindíveis para qualquer pessoa em busca de bons sons.

No show que o New Order – banda formada por três quartos do Joy Division e que conseguiu forjar um som próprio e igualmente inesquecível – apresentou aqui em Brasília, há uns três anos, lembro-me de um cara, próximo de mim, que gritava enlouquecido toda vez que a grupo tocava alguma preciosidade do Joy (e eles tocaram três canções, se não me engano: Atmosphere, Transmission e Love Will Tear Us Apart).

Foi, certamente, para sujeitos como aquele, que Corbijn fez Control. E também para tipos como eu, que, ao contrário do outro, escutava a cada música caladinho, caladinho... Em êxtase.

3 comentários:

Flávia Cavalcante disse...

Adorei esse 'cinema encantado". Se você é dez na música, deve ser dez também em filmes.
Dê mais dicas para nós sobre cinema, pois eu estou vendo que você é especialista em muita coisa.
Vou esperar.

Anônimo disse...

Gosto muito do que você escreve. Acompanho seu trabalho com entusiasmo. Sou também de Brasília, mas estou longe de possuir o seu refino nessas informações que posta em seu blog.
David

Luis Valcácio disse...

Gosto muito de unir cinema, música e literatura. Sempre que possível eles estarão aqui juntinhos...