domingo, 13 de setembro de 2009

O Desconcerto Como Entretenimento

Por Lázaro Luis Lucas

A violência sempre esteve presente no cinema. Em filmes de ação, de aventura, de terror. Em qualquer gênero, na verdade. E, de acordo com os interesses de cada um, já foi retratada nos filmes das mais variadas formas. Estilizada ou gratuita, são inúmeros os títulos. E, considerando os atuais recursos tecnológicos, chocar o público parece não ser mais uma tarefa muito árdua. Ocorre que, como em todo processo, há os efeitos colaterais.

E hoje, o que mais temos assistido é a completa banalização da violência, através de filmes como O Albergue (Eli Roth, 2005) e Jogos Mortais (James Wan, 2004) que, de tão bem sucedido, tornou-se uma franquia interminável.

Honestamente, banal por banal, prefiro a violência escapista da franquia Sexta-Feira 13 e de filmes absurdos como O Último Trem (Ryuhei Kitamura, 2008). Não há neles nenhuma intenção de serem levados a sério. É, realmente, só entretenimento.

Mas não são desses filmes violentos que estou "falando". Desde que assisti pela primeira vez a O Massacre da Serra-Elétrica, de Tobe Hooper, produzido em 1974, entendi que a violência, sim, deve ser mostrada nos filmes - ainda que em produções semi-amadoras - da forma mais desagradável possível. Pelo menos, se pretedem ser levados a sério. Até porque, e podem perguntar a qualquer pessoa que já tenha sofrido qualquer tipo de violência, não há nada de agradável, ou mesmo artística, nela.

É óbvio, e é preciso que se ponha aqui, que mostrar ou não cenas assim em um filme é uma escolha de seus realizadores. Não se precisa jogar na cara do público cenas de tortura para se saber o quanto é desumano o ato. Mas se a escolha for mostrar, que se revele à audiência toda sua insensatez.

Obras como Salò ou Os 120 Dias de Sodoma (Pier Paolo Pasolini, 1975), Dançando no Escuro (Lars von Trier, 2000) e Réquiem Para Um Sonho (Darren Aronofsky, 2000) não pouparam ninguém. Público e crítica - tão avessa, em geral, a obras muito gráficas - assistiram a tudo em silêncio.

Mas e quanto àquelas obras, que de tão radicais nas suas propostas, encontram até mesmo dificuldades em ser classificadas? São delas, efetivamente, que quero tecer breve comentário.

Percebe-se que as distribuidoras quando em posse de material muito explícito - em particular nas cenas de violência -, de difícil digestão, veem-se condicionadas a classificar, quase que imediatamente, o filme como de terror. Aparentemente, os fãs do gênero são mais tolerantes aos excessos que os demais.

E assim, por razões meramente estésticas, dramas como Wolf Creek - Viagem ao Inferno (Greg Mclean, 2005) e Os Estranhos (Bryan Bertino, 2008) são "vendidos" apenas aos apreciadores de obras como A Morte Pede Carona (Robert Harmon, 1986) e P2 - Sem Saída (Franck Khalfoun, 2007).

Obras extremas como Aviso de Tempestade (Jamie Blanks, 2007) e Raça Selvagem (Jody Dwyer, 2008), então, tornam-se malditas, alvos de repúdio do grande público. E a mais pura verdade é que são filmes bons, alguns deles muito bons. No entanto, demais para uma parcela generosa dos cinéfilos.

Acredito que o público médio é capaz de acompanhar nas telas de cinema a reconstituição do massacre de toda uma nação, desde que o sangue lhe seja cuspido na cara em doses homeopáticas. Não importa o quanto o resultado final seja satisfatório, quaisquer excessos, para eles, são imperdoáveis.

Para finalizar, o mercado de home video no Brasil possui alguns outros bons títulos desse cinema, mas se quiser experimentar apenas um, recomendo a produção inglesa Sem Saída (James Watkins, 2008). Desconcertante.

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