quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Discos e Arte

Alcançar uma identidade musical única é, sem sombra de dúvida, o sonho de dez entre dez músicos.

Mas, alguns artistas vão além dessa ambição e criam para si mesmos uma identidade visual muito particular. Isso se reflete tanto nas roupas e na produção cênica quanto na criação de capas para os discos.Um dos primeiros grupos a pensar sua obra como um todo artístico, em que a parte visual complementa a musical, foi o grupo inglês de rock progressivo Yes.

A maior parte dos álbuns lançados pelo grupo na década de 70 teve projeto gráfico desenvolvido pelo artista Roger Dean, que criou para a banda um universo mitológico, onírico e imaginativo.

Para os fãs do Yes é impossível pensar num disco como Relayer sem viajar na ilustração da capa.Também na década de 70, partindo para um estilo completamente diferente, está o Roxy Music e suas capas com mulheres em cliques sensualíssimos.

Com exceção de Manifesto e Avalon (este, meu Roxy Music preferido), todos os discos do grupo de Bryan Ferry apresentam modelos que, apesar de muito diferentes, formam um conjunto de musas entre o sofisticado e o quase pornográfico.

Jerry Hall, ex-senhora Mick Jagger, aparece como uma sedutora sereia na capa do disco de 1975, Siren, e nos prepara para um delicioso mergulho em algumas das melhores canções do RoxyLove Is The Drug e Sentimental Fool, incluídas.

Na década seguinte, duas bandas criaram uma identidade visual que marcou indelevelmente os anos 80: The Smiths e Echo & The Bunnymen.

O primeiro estabeleceu uma estética de cores frias, fotografias antigas e culto a figuras do passado que originou capas inesquecíveis como a de The Queen Is Dead (com o ator francês Alan Delon, quase irreconhecível em meio a uma bruma verde) e a de seu disco de estréia, uma imagem que associou para sempre o grupo a uma sensibilidade homossexual muito refinada e erudita, graças à foto do ator cult Joe Dalesandro.

Já o Echo & The Bunnymen partiu para uma elaboração mais naturalista de suas capas. Nos quatro primeiros LP’s dos Coelhinhos, eles aparecem inseridos em lindas paisagens, que vão de uma geleira na Islândia (Porcupine) até uma praia deserta na Inglaterra (Heaven Up Here).

Esse visual glacial ajudou, e muito, a construir um mito em torno do grupo de Liverpool que, apesar disso, nunca esqueceu que o fundamental era mesmo a música.

É só conferir The Killing Moon e All My Colours para perceber que as capas eram apenas introduções a um universo de mágicas canções.

Entre bandas mais recentes, me vêm à lembrança duas: Weezer e Belle & Sebastian.

Enquanto o Weezer fez uma sequência de capas em que o grupo aparece fotografado sem maiores artifícios, normalmente sobre um fundo de cor única (daí seus discos serem conhecidos como “álbum azul”, “álbum verde” etc), o Belle & Sebastian bebe na fonte dos Smiths e cria capas em sintonia espiritual com os anos 80, mas atualizando-os com uma algum cinismo e uma dose de humor.

3 comentários:

Robson disse...

Ah, as capas dos discos, principalmente os LPs, como eram encantadoras, tão encantadoras para olhá-las, quanto para tocá-las, estavam além da visão.
Belo comentário.
Abraços
Robson

Licínio Filho disse...

Penso que ouvir vinil tinha um grande diferencial nas capas com todas aquelas informações da ficha técnica, além da arte final. Essas capaz ainda serão disputadas a peso de ouro como verdadeiras obras de arte. Lembro-me da capa do disco do Grand Funk, lançado em 1974, "Shine On", em 3D...puts...pura loucura ouvir e ver.
Abração.

Luis Valcácio disse...

É, pessoal, e pensar que o vinil já foi decretado morto e enterrado, hein? Pelo visto, hoje está mais vivo que nunca...
Abraços