segunda-feira, 8 de junho de 2009

A Sangue Frio

Um casal é atacado, sem motivos aparentes, por um grupo de três pessoas mascaradas, em uma casa na floresta. Este é a trama de Os Estranhos (The Strangers, EUA, 2007), filme a que eu assisti recentemente, junto a um clássico do terror do início da década de 80, Pague Para Entrar, Reze Para Sair (Funhouse, EUA, 1981), do diretor Tobe Hooper, autor de outra película fundamental do gênero, O Massacre da Serra Elétrica, de 1974.

O roteiro de Funhouse não difere essencialmente de 90% dos filmes do gênero (inclusive Os Estranhos): um grupo de adolescentes fica preso em um parque de diversões, onde é atacado por um rapaz de aspecto monstruoso, que os persegue violentamente até o final da fita.

O que na verdade esses filmes me despertaram, além de alguns de momentos de tensa diversão, foi uma profunda reflexão a respeito da natureza do medo e da crueldade humana.

Não pude deixar de lembrar da obra-prima de Truman Capote, A Sangue Frio, na qual o genial escritor americano mergulhou fundo na investigação de um crime bárbaro, cometido por motivos fúteis.

Capote teve acesso aos acusados, tendo inclusive desenvolvido um relacionamento de caráter ambíguo com um deles. O impacto da publicação de seu livro mais famoso, traria luz não apenas sobre o ato criminoso como também sobre a psicologia um tanto labiríntica dos criminosos.

Ler A Sangue Frio é uma experiência que nos coloca em contato direto com o lado mais obscuro e selvagem do ser humano. Impossível ficar indiferente.

Não que os filmes citados tenham a complexidade da obra de Capote, mas, para mim, o que esse tipo de filme faz é entregar para as massas um produto em que se purga o terror, sem precisar entrar em contato com nossa porção mais nefasta.

É, de certa forma, o mesmo efeito produzido por música muito violenta ou extremamente barulhenta. Acho que vem daí o fascínio de muito adolescente pelo heavy metal, o trash, o rock de inspiração satânica e outros subgêneros musicais.

Cada vez mais, me parece que, tanto os filmes de terror quanto o heavy metal são, para adolescentes e jovens adultos, como um espelho. O reflexo que ele produz pode parecer um tanto distorcido para quem já passou por essa fase, mas para quem a vive, é real, intenso e profundamente vital.

4 comentários:

Dominic Philibert disse...

Love your blog!!!!

Luis Valcácio disse...

Thank you, man!

Anônimo disse...

prezado luis valcácio, que texto maravilhoso. lamento não tê-lo lido antes. admito ser, de certa maneira, fascinado pela violência nas artes, em particular no cinema. não de modo a cultuá-la mas como mecanismo para a reflexão e de catarse. e sem sombra de dúvidas, a obra literária "a sangue frio" é a interpretação definitiva dessa nossa natureza tão imprevisível quanto devastadora. é impossível não ficar profundamente triste em constatar quanto dor e humilhação podemos nos causar.

Claudia A. disse...

adoro "a sangue frio" e amo capote. muito bom o texto