quinta-feira, 10 de setembro de 2009

TV e Cinema

Por Lázaro Luis Lucas

Nasci no mês de setembro do ano de 1970. E, para mim, antes de existir salas de projeção de filmes, havia o televisor na sala-de-estar.

De várias boas lembranças que tenho da minha infância, muitas estão associadas ao televisor Telefunken, que ocupava um espaço nobre na vida de toda a família.

Através dele assistimos ao último capítulo da novela Escrava Isaura, acompanhávamos o programa Boa Noite Brasil, com Flávio Cavalcanti, e víamos todo santo domingo o futebol, às 17h; Os Trapalhões, às 19h; e o Fantástico - o show da vida, às 20h. Pois bem, estes, basicamente, eram os programas que a família assistia reunida.

Para mim, óbvio, havia mais, muito mais. Além de acompanhar toda programação infantil, em particular o Globo Cor Especial, e séries como O Homem do Fundo do Mar, Mulher Maravilha, SWAT, O Homem de Seis Milhões de Dólares, O Túnel do Tempo, entre tantas outras, assistia a filmes, muitos filmes. Produções para a TV e cinema.

À época, na cidade de Araguari, no estado de Minas Gerais, só existiam duas emissoras. Uma retransmissora da Rede Bandeirantes de Televisão e outra da Globo. Admito que devorava filmes na mesma medida em que eles iam passando na telinha.

Dos programas desse período, sempre que possível, acompanhava a Sessão da Tarde, durante a semana e, principalmente nas férias, quando a Globo apresentava ciclos de filmes protagonizados por Elvis Presley, Jerry Lewis e o quarteto trapalhão comandado por Renato Aragão.

As comédias estreladas por Lewis, como Bancando a Ama-Seca (Frank Tashlin, 1958), O Mensageiro Trapalhão (Jerry Lewis, 1960), O Terror das Mulheres (Jerry Lewis, 1961), Errado Pra Cachorro (Frank Tashlin, 1963) e O Bagunceiro Arrumadinho (Frank Tashlin, 1964), estão armazenadas em minha memória bem próximas das aventuras românticas do rei do rock Ama-me Com Ternura (Robert D. Webb, 1956), Feitiço Havaiano (Norman Taurog, 1961), Garotas! Garotas! e Mais Garotas! (Norman Taurog, 1962), O Seresteiro de Acapulco (Richard Thorpe, 1963) e Amor a Toda Velocidade (George Sidney, 1964).

Havia, ainda, os filmes estrelados pela dupla Jerry Lewis e Dean Martin, O Rei do Circo (Joseph Pevney, 1954), O Meninão (Norman Taurog, 1955), "Artistas e Modelos (Frank Tashlin, 1955) e O Rei do Laço (Norman Taurog, 1956). E por Rock Hudson e Doris Day, Confidências à Meia-Noite (Michael Gordon, 1959), Volta Meu Amor(Delbert Mann, 1961) e Não Me Mandem Flores (Norman Jewison, 1964).

Como durante a semana o horário para dormir era sempre às 21h30, logo após a novela das oito, aos sábados eu abusava. Ainda na Globo, assistia em sequência à Primeira Exibição, Sessão de Gala e, quando o sono ainda não havia me dominado por completo, Coruja Colorida.

Outras sessões de cinema bem marcantes para mim foram o Cineclube, Campeões de Bilheteria, Classe A, Festival de Sucessos, Faixa-Preta, Supercine, Festival Nacional, Segunda Sem Lei, Sexta Mistério, Cine Trash, Cinema em Casa e Sessão das Dez.

Apesar da maioria dos filmes ter sido editada para a televisão e, ainda, exibida com cortes, a combinação de todos esses programas, durante toda a década de 80 e a primeira metade dos anos 90, foi essencial à formação de qualquer fã de cinema, em uma realidade em que não havia a TV por assinatura, o aparelho de DVD, o Blu-ray e a internet. Só possuíamos o bom e generoso videocassete.

Ter acesso a filmes como Doutor Jivago, ... E o Vento Levou, Lawrence da Árabia, A Casa da Noite Eterna, Armadilha Para Turistas, O Expresso do Horror, Houve Uma Vez Um Verão, Um Homem, Uma Mulher e Love Story - Uma História de Amor, só me foi possível porque a TV, um dia, fez um bonito papel divulgando o cinema. Hoje, porém, tudo não passa de história.

Abaixo, algumas pérolas assistidas por mim, pela primeira vez, na televisão:

1- Benji (Joe Camp, 1974)
Este simpático cãozinho me foi apresentado em Primeira Exibição. Desde então, me tornei fã de filmes com animais. A sequência, Pelo Amor de Benji (Joe Camp, 1977), foi exibida, salvo melhor juízo, na semana seguinte. A franquia rendeu, ainda, mais três longas.

2- Destino do Poseidon, O (Ronald Neame, 1972)
O mérito do filme, lá em casa, foi ter reunido quase toda a família diante da TV. O drama vivido por Shelley Winters naquelas águas geladas jamais foi esquecido por aqueles que o acompanharam. Apenas mais um filme-catástrofe conseguiu a proeza: Inferno na Torre.

3- Ensina-me a Viver (Hal Ashby, 1971)
Somente quando tive a oportunidade de rever o filme é que pude absorver toda sua beleza. Pois é, a infância tem destas coisas. Às vezes, não estamos maduros o suficiente para compreender tudo o que vemos.

4- O Homem-Cobra (Bernard L. Kowalski, 1973)
Saído diretamente da Sessão das Dez, em uma época em que o filme realmente começava às 22h, estamos aqui diante de um típico exemplar do cinema B que amo de todo coração. Recordo-me de quase ter chorado quando a heroína do filme reconhece o seu amado na figura daquela criatura meio-homem, meio-cobra. Dos mesmos produtores de Tubarão. Um clássico inegável do gênero.

5- Digby - O Maior Cão do Mundo (Joseph McGrath, 1973)
Nem sei o que dizer deste filme tantas vezes exibido na Sessão da Tarde. O que posso afirmar é que toda vez que a Rede Globo o exibia, eu o assistia.

6- The Land That Time Forgot (Kevin Connor, 1975)
Depois de tantos anos já nem me lembro mais do título em português deste filme. O mesmo vale para a sua continuação, The People That Time Forgot, de 1977. Mas que ninguém se engane, estes dois filmes mais Os Titãs Voltam à Luta na Atlântida, tornaram o nome Doug McClure tão essencial ao cinema de aventura quanto Harrison Ford. E não vá, você, dizer que não sabe quem é Doug McClure?

7- Grizzly - A Fera Assassina (William Girdler, 1976)
Assisti a este filme em uma Sessão de Gala e, por pelo menos duas semanas, não pensei em outra coisa. Hoje, provavelmente, não sobreviveria a uma segunda olhada. Mas o que importa a avaliação crítica do encanto de uma criança diante de seu primeiro filme de monstro?

8- Keoma (Enzo G. Castellari, 1976)
Sou suspeito para falar sobre o western spaghetti. Gosto muito do gênero e Keoma é um de seus melhores representantes. Da trilha sonora bem característica até o visual meio hippie de Franco Nero, tudo é harmonioso neste filme. Imperdível para os apreciadores.

9- O Carro - A Máquina do Diabo (Elliot Silverstein, 1977)
Um dos mais famosos filmes de suspense da época, este eficiente filme produzido para a TV, saiu-se tão bem junto ao público que acabou sendo exibido nos cinemas. O diretor é o mesmo de Um Homem Chamado Cavalo, de 1970.

10- Amante de Lady Chatterley, O (Just Jaeckin, 1981)
Com Sylvia Kristel no elenco, foi um dos primeiros dramas com doses generosas de erotismo "soft" assistidos por mim pela televisão. Acostumado à nudez, parcial ou total, feminina nas telas, admito ter ficado surpreso com a desenvoltura da câmera diante do corpo nu do ator Nicholas Clay. Para voyers de plantão.

4 comentários:

Flávia Cavalcante disse...

Sylvia Kristel, Nicholas Clay, ah, os meus sonhos de moça jovenzinha!
Adorava assistir TV deitada no chão frio de minha casa. Quanta saudade você me trouxe.

Adjafre disse...

Lázaro, menino, o seu HD é fortíssimo, é do babado!
Revivi todo esse panorama televisivo. Um luxo.
E parabéns pelo texto, e pelo seu aniversário neste setembro (você tinha mesmo que ser virginiano - uma forte ligação com a família, detalhista ao extremo)!!!

Luis Valcácio disse...

Uau! Recordar é viver. Só você mesmo para desencavar tantas pérolas, Lázaro. Eu aqui fiquei lembrando dos musicais, gênero que adorava quando era criança e que hoje tenho paciência zero para ver.

Anônimo disse...

Pessoal, muito obrigado por compartilhar comigo momentos tão especiais em nossas vidas. Um abraço a todos.