quinta-feira, 4 de junho de 2009

Do Baú

Sou aquilo que costumam de chamar rato de sebo. Sempre tive o saudável hábito de xeretar, em meio a prateleiras empoeiradas, discos e livros novos e antigos. Alguns de meus discos mais queridos, foram adquiridos em sebos tanto brasileiros quanto estrangeiros (quando viajo, já saio com uma lista de lojas no bolso).

Recentemente, encontrei em um dos mais tradicionais sebos de Brasília, um trabalho que tinha escutado uma única vez, mas que havia me impressionado bastante: Cida Moreyra Interpreta Bertold Brecht.

O disco me havia sido apresentado por uma professora de história de teatro, na Universidade de Brasília (UnB), durante uma aula sobre o chamado teatro épico, do grande dramaturgo alemão Bertold Brecht. Na época, já conhecia a obra de Brecht por meio de uma montagem de Mãe Coragem, vista no Teatro Dulcina, e pela leitura da obra-prima Galileu, para mim um dos maiores textos de literatura dramática já escritos.

A descoberta das músicas compostas por ele junto a Kurt Weill foi um achado inesquecível. Fico imaginando a montagem de suas peças nas décadas de 20 e 30, com toda a efervescência cultural da Alemanha pré-nazismo, o engajamento sócio-político dos trabalhos, as canções comentando e expandindo as possibilidades dramáticas de cada cena, enfim, uma revolução embrionária que foi abortada pela truculência do regime de Hitler.

No disco de Cida, a grande maioria das canções está traduzida para o português pelo diretor teatral Cacá Rosset e são, quase que exclusivamente, acompanhadas apenas pelo ótimo piano da própria Cida. Com toda sua experiência prévia como atriz, ela soube dar o tom exato de teatralidade a cada canção.

Habilmente, Cida costura comédia, drama e musical num disco brilhante.

5 comentários:

Afonso C. disse...

Sou um seduzido literal por toda a carreira da inigualável Cida Moreyra.
Encanta-me profundamente a interpretação dessa moça neste trabalho brechtiano.
Veja o espetáculo de Cida com a obra de Janis Joplin, pois é de fazer o coração da gente bater mais feliz!

Robson disse...

Aí Luís, você acertou em cheio, a CIDA é ótima e este disco é maravilhoso, assim como a carreira dela que acompanho desde os primórdios, apesar da escorregada do cd e show do Cartola (será que Vinicius tinha razão?) e soube pelo Afonso que ela está cantando Janis, que tem muito mais a ver com ela, fiquei curioso.
Uma dica, se você quer uma outra visão musical do universo de Weill, procure "Stratas sings Weill" da excelente cantora Teresa Stratas, é de arrepiar.
Abraços
Robson

Miguel Leocádio Araújo disse...

Também tenho este disco, em vinil, diga-se de passagem. Realmente maravilhoso esse trabalho dela. Nunca vi em cd; e já tem mais de 10 anos que não ouço, pois na cidade em que moro encontrar um lugar onde ainda se venda um toca-discos, vitrola, um som pra disco (como dizíamos, depois da chegada do cd) é uma sorte para poucos.

Honório Félix disse...

"Surabaya, Johnny, não me deixe assim, Surabaya, Johnny, estou tão infeliz!"

Luis Valcácio disse...

Encontrar Cida Moreyra é um golpe de sorte. Somente em sebos, e olhe lá... Enquanto isso, as lojas estão abarrotadas de Britneys e Lady Ga Ga's. Vai entender...