quinta-feira, 18 de junho de 2009

Trilhas Encantadas

Não sei bem porque, mas outro dia me peguei pensando em novelas antigas.

Acho que até os 17 anos, fui aquilo que se pode chamar de noveleiro. Acompanhava, curtia e, por que não, me emocionava com as tramas dos folhetins televisivos.

Depois veio a universidade, o cinema de arte, a literatura de qualidade – até então só lia Sidney Sheldon e Stephen King – e o rock.

Penso que a partir desse momento, toda aquela lenga-lenga que se estende por longos seis meses, se tornou um tanto ridícula e sem sentido para mim.

Porém, muito mais que as próprias novelas, uma coisa que me marcou bastante foram as suas trilhas sonoras.

Verdadeiros objetos de desejo, os discos nacionais e internacionais que compunham a trilha de cada novela, criaram, na minha infância, um gosto que ia bem além da música.

Muito do meu fascínio por discos vem desse primeiro contato com os álbuns de novelas, suas capas coloridas (inicialmente, ilustrações com o logo das novelas e, depois, fotos cafonérrimas dos astros principais) e seu repertório eclético.

Não saberia apontar uma trilha preferida, mas algumas são inesquecíveis, especialmente para quem cresceu na década de 70.

Atire a primeira pedra, por exemplo, quem nunca cantarolou Vida de negro é difícil, é difícil como o quê..., da histórica Escrava Isaura, novela que expôs o lado sádico não apenas do brasileiro como também de metade da população mundial, que se deliciou com os intermináveis sofrimentos vividos pela angelical Lucélia Santos.

Outra que marcou muito foi a trilha de Gabriela, que, me parece, foi especialmente composta para esta antológica adaptação do livro de Jorge Amado. A abertura da novela ficava a cargo de Gal Costa e sua clássica Modinha Para Gabriela.

Não deixa de ser um exercício interessante escutar essas trilhas antigas e compará-las com as atuais.

Fico pensando que, hoje, seria impossível, por exemplo, uma trilha como a do programa infantil Sítio do Pica-Pau Amarelo, de 1977. Contando com nomes como Gilberto Gil, Lucinha Lins, João Bosco e Dorival Caymmi, interpretando canções especialmente compostas para o programa, a trilha é um primor de beleza e encanto, que fizeram minha meninice um bocado mais feliz.

Na era da ultra-tecnologia em que vivemos, a poesia e a delicadeza dessas lúdicas composições ficam cada vez mais distantes.

Mas, talvez por isso mesmo, ficam também mais preciosas.

7 comentários:

Afonso C. disse...

Lerê, lerê...
Delícia, delícia de memória!!

erotico disse...

Tem uma loja de vinil do lado da minha casa que tem muuuuuuuuuuuuuuuita trilha sonora de novela dos anos 70. Muitas mesmo. E o mais bonitinho é que são vendidas em duplas: o LP nacional e o LP internacional. Uma graça.
Sempre me delicio com as capas, pois não as conheci, pois cresci nos anos 80 só com Xuxa, Balão Mágico e Trem da Alegria. =)
Um beijo moço inteligente,
L.

Alberto de Oliveira disse...

Baseado em livro de Monteiro Lobato cuja primeira publicação foi lançada em dezembro de 1920, tanto trilha como trama são igualmente um primor.

Valeu a lembrança.

Luis Valcácio disse...

Obrigado pelo inteligente, L. Beijo.

Milhaud disse...

Grande!

Luis Valcácio disse...

Houve um tempo em que a TV Globo usava seu monopólio para produzir algumas obras de qualidade. A primeira versão do Sítio é uma espécie de unanimidade, principalmente por respeitar o universo infantil muito brasileiro de Lobato. Pena que não se fazem mais coisas assim...

Alberto de Oliveira disse...

Saudades do Boni!!!