terça-feira, 2 de junho de 2009

Para Ouvir e Se Arrepiar

Na década de 70, as rádios A.M. eram a principal fonte de informação, música e entretenimento para muitos brasileiros. Foi, também, a minha trilha sonora até mais ou menos os 10 anos de idade.

Mas não se resumia apenas à música.

Existia, na época, um programa que fez o terror de muitas das minhas noites, além de alimentar muitíssimo minha fértil imaginação: As Histórias Que o Povo Conta.

Tratava-se de um programa em que cartas enviadas pelos ouvintes relatavam causos, acontecimentos sobrenaturais, casos de possessão demoníaca e outras lendas urbanas e rurais. A narração era lúgubre e acompanhada por um fundo musical chupado de filmes de terror.

Hoje, fico imaginando que tudo devia ser absolutamente tosco, mas para um moleque de 7, 8 anos de idade, aquilo era o máximo de suspense e terror.

Quantas noites foram passadas em claro, assombrado pela canastrice dos locutores, que descreviam mulheres sedutoras que voltavam do túmulo, fantasmas que perseguiam motoristas em noites frias e solitárias e inocentes criancinhas que eram possuídas pelo diabo (cruzes!).

Outro programa que eu achava espetacular, era o romântico Para Ouvir e Amar, no qual canções melosas nacionais eram alternadas com outras em inglês, que eram traduzidas simultaneamente por um locutor cheio de amor para dar. Isso, sem falar nas cartas apaixonadas, todas lidas com a dose obrigatória de sacarina e pseudo-sensualidade.

Lembro que quando assisti a Domésticas, o Filme (Brasil, 2001, diretores: Nando Olival e Fernando Meirelles), muito desse passado veio à mente. Talvez porque na infância tenha convivido muito com empregadas domésticas, inclusive tendo ajudado a escrever muitas cartas de amor para seus pretendentes, e escutado os clássicos da música brega junto com elas.

Daí, também, muito da minha admiração por artistas como Sidney Magal, Gretchen, Fernando Mendes e Odair José. Desprezados pela elite pensante e culta, eles eram o lado doce no amargo dia-a-dia de grande parte de nossa gente.

Se hoje não consigo parar, por mais de 15 minutos, em qualquer estação de rádio, não posso deixar de ter uma recordação afetuosa de uma época em que o rádio era uma das partes mais ternas, excitantes e assustadoras da minha vida.

8 comentários:

Anônimo disse...

Oi Luis!
Quando li seu perfil pensei: uái será que é o meu?
Não tenho tantos cds mais música pra mim é tudo.
E sobre seu post mais uma conscidência, gosto muito de rádio, deste menina tb. Acompanho programas até hoje.
Penso que vou estar aqui sempre.
Abrs.

Luis Valcácio disse...

Legal, Fátima. Sinto que estamos formando uma espécie de confraria de pessoas que têm gostos e uma visão de mundo parecidos. Isso é muito bom.

Flávia Cavalcante disse...

Luis,
O seu blog está caindo no gosto dos internautas. Não é para menos, pois o seu conhecimento musical e as suas dicas são imperdíveis.
Você tem mais é que fazer sucesso, pois o contrário é difícil, com todas essas suas qualidades.
Sua fã. Uma das primeiras, tá.

Ana, Anjogatos disse...

Olá Luís, obrigada pela visita. Gostei bastante do seu blog. O rádio também fez parte da minha infância. Quanto aos gatos, não se preocupe, um dia um ainda vai fazê-lo se apaixonar, rs. Beijos

Unknown disse...

Ô Luis, também me lembro com carinho desta época. Mandou bem! Abraços da Walll

Luis Valcácio disse...

Pessoal, valeu pelo incentivo. Abracos para todos!

Anônimo disse...

"histórias que o povo conta" e "para ouvir e amar". francamente, luis valcácio, você estava inspirado nesse dia. excelente recordação. dois programas totalmente cult da era do rádio candango. será que sai em cd?

Luis Valcácio disse...

Histórias que o povo conta em cd? seria realmente o máximo. Novas gerações sendo assombradas...