quarta-feira, 18 de março de 2009

Para quem gosta de U2

A melhor música de cada disco (gosto não se discute, pessoal...):
Boy
Out Of Control
October
Tomorrow
War
Drowning Man
Under a Blood Red Sky
11 O'Clock Tick Tock
The Unforgettable Fire
Bad
The Joshua Tree
Where The Streets Have No Name
Rattle And Hum
Heartland
Achtung Baby
One
Zooropa
Lemon
Pop
Please
All That You Can't Leave Behind
Walk On
How To Dismantle An Atomic Bomb
Sometimes You Can't Make It On Your Own
No Line On The Horizon
Moment Of Surrender

A chama que não se apaga

Chamado pela revista norte-americana SPIN de coração inquebrável do rock, o grupo irlandês U2 acaba de lançar, com toda pompa e circunstância, seu novo álbum, No Line On The Horizon.

Escutei o disco com um misto de expectativa e medo, porque, sinceramente, não sei mais o que esperar de bandas longevas e de carreiras tão impressionantes como o U2.

Confesso que a primeira audição se revelou um tanto frustrante. Mas, aos pouquinhos, No Line começa a crescer no meu aparelho de som.

Isso não é exatamente uma novidade em se tratando de U2. Outros trabalhos da banda me conquistaram lentamente e, de audição em audição, acabaram se tornando discos importantíssimos para mim, daqueles que não consigo viver sem.

Foi assim, por exemplo, com All That You Can't Leave Behind e Zooropa, e até mesmo com The Joshua Tree, o disco mais popular da discografia deles.

Mas a questão que me surge, ao escutar este novo álbum, é a seguinte: qual a relevância de um cd do U2 no mundo, hoje? Sim, porque relevância sempre foi uma palavra-chave para entender o U2.

Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr. nunca se viram como simples distração. O U2 carregou e sempre carregará uma imagem de "banda séria", ligada a movimentos políticos e humanitários bastante louváveis. Atualmente, Bono se empenha em chamar a atenção das nações mais ricas para a tragédia da fome e da AIDS na África.

Mesmo quando enveredaram por uma fase de auto-crítica e pseudo-decadência - período que rendeu a obra-prima Achtung Baby -, não conseguiram deixar completamente de lado um certo romantismo do tipo "o rock ainda vai salvar o mundo".

No Line On The Horizon me parece ficar num meio-termo um pouco desconfortável. Não é um disco grandioso e emocionante como War ou The Joshua Tree, tampouco um trabalho experimental na linha de Zooropa e Pop - este último, seguramente, o pior de toda carreira dos irlandeses. Faltam também canções inesquecíveis como One e Walk On.

Não que seja um disco ruim. Bono está cantando muito bem e a banda tocando melhor que nunca. Mas, quando se trata de U2, eu sempre espero não um disco que vá mudar o mundo, mas simplesmente um que mude um pouquinho minha própria vida.

Tudo bem, eles já fizeram isso tantas vezes, que acho que eu posso dar um descontinho, né?

Ah, e ninguém se espante se daqui a um ano, eu postar alguma coisa chamando este disco de maravilha para cima.

Com U2 nunca se sabe...

quinta-feira, 12 de março de 2009

Música para quê?

A revista Bravo deste mês traz, em sua matéria de capa, texto assinado pelo jornalista Arthur Dapieve, no qual se especula sobre o futuro da música diante das novas tecnologias digitais.

Num mundo em que cada vez compra-se menos discos, fica a pergunta: afinal, a indústria da música vai sobreviver?

Seguramente, da forma como nós, trintões e quarentões, conhecíamos, não. A molecada entre 15 e 30 anos desaprendeu a comprar música. Ninguém mais corre para as lojas de cd - que, aliás, não existem mais - para adquirir o último trabalho de sua banda preferida. Para que, se se pode baixar tudo em questão de minutos e sem pagar um centavo?

Lógico que essa geração consome música de maneira frenética, mas tem uma relação impessoal e destituída de poesia com ela. Não é por acaso que existe toda uma galera redescobrindo o prazer físico de manusear um álbum de vinil (isso, sem falar no impacto do som, infinitamente mais encorpado e vigoroso que esses anódinos mp3 que circulam por aí).

Aparentemente, esse é um processo meio sem volta. A rede de megastores Virgin, por exemplo, fechou - ou está para fechar - uma de suas mais tradicionais lojas em Nova Iorque, a da Times Square. Quem já teve a oportunidade de conhecer, de andar por seus vastos corredores repletos de música dos quatro cantos do planeta (inclusive uma boa seção de MPB), não pode deixar de sentir uma pontada de tristeza.

Numa viagem que fiz a Nova Iorque, no final de 2006, acho que entrei nessa loja todos os 9 dias em que estive na cidade. Para mim, era como visitar um templo. Sim, porque para mim, música é religião, uma espécie de elo com o sagrado, com aquilo que existe de mais sublime e etéreo em nós.

Não creio nas previsões mais pessimistas sobre o assunto, mas, ao que parece, sobram dois caminhos: a música ou será consumida e descartada vorazmente, deixando milhares de artistas a ver navios, ou virará um artigo de luxo para uns poucos.

Afinal, é realmente uma minoria que pode se dar ao luxo de comprar uma bela reedicão em vinil, a exorbitantes 100 reais, e desfrutar 40 minutos longe desse confuso admirável mundo novo.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Mestres da Noruega

A vinda do A-HA este mês ao Brasil, faz reavivar um bocado a chama do pop oitentista.

O grupo, vindo da fria Noruega, é um daqueles raros casos de bandas que migraram do pop descartável para o status de cult.

Por volta de 1985, o A-HA era do tipo de grupo que despertava paixões extremas: eram amados ou odiados. Ou seja, as meninas amavam e os garotos detestavam.

Eu olhava - ou melhor dizendo, escutava - com certa desconfiança. A verdade mais pura é que eu seguia a orientação da minha bíblia da época, a revista BIZZ. Tudo que a BIZZ aprovava, eu aprovava. Se ela dizia que não prestava, eu nem chegava perto. E nenhum crítico de respeito, no Brasil de então, tolerava os agudos de Morten Harket, o vocalista galã da banda.

Porém, anos mais tarde, me cai nas mãos o segundo disco dos noruegueses, Scoundrel Days, de 1986. Paixão logo na primeira audição, o trabalho só fez crescer em afeição ao longo dos anos.
Há canções radiofônicas que beiram a perfeição, como I've Been Losing You e Cry Wolf, baladas luxuosas como Manhattan Skyline e October, e pérolas inclassificáveis como a faixa-título. É quase um "best of", de tão bom.

O álbum seguinte, Stay On These Roads, não repete o mesmo brilho de Scoundrel, mas possui algumas boas faixas. O fato puro e simples é que eles sempre foram muito competentes em criar melodias grudentas, ficando isso evidente em You Are The One e The Blood That Moves The Body.

Depois disso, eles viraram uma espécie de caricatura de si mesmos. Mas, se nos shows, eles se concentrarem nos três primeiros discos, será, sem dúvida, uma grande festa tanto para nostálgicos como para obcecados pela decada de 80.

Para Amar - ou Odiar - os Anos Oitenta

1 - Thriller - Michael Jackson (1982)
2 - Rio - Duran Duran (1982)
3 - Like a Prayer - Madonna (1989)
4 - Sing 'O' Times - Prince (1987)
5 - She's So Unusual - Cyndi Lauper (1983)
6 - Faith - George Michael (1987)
7 - Colour By Numbers - Culture Club (1983)
8 - Music For The Masses - Depeche Mode (1987)
9 - Actually - Pet Shop Boys (1987)
10 - Dare! - The Human League (1981)
11 - Private Dancer - Tina Turner (1984)
12 - Songs From The Big Chair - Tears For Fears (1985)

quinta-feira, 5 de março de 2009

That 70's Show

Sei que não param de falar de Milk- A Voz da Igualdade, o novo filme de Gus Van Sant, portanto não vou me demorar em analisá-lo. Quem viu já sabe que é um retrato tocante de um personagem ímpar, um homem que viveu pouco, mas que fez muito por uma causa ainda sem grandes defensores. E que, infelizmente, caminha a passos de tartaruga.

Mas, como o assunto aqui é música, estou falando de Milk por um aspecto que talvez não chame a atenção de muita gente: a recriação dos míticos anos 70.

Eu era criança quando Harvey Milk iniciou sua luta, mas essa década se gravou na minha alma de maneira indelével. Talvez porque tenha sido na infância que surgiram as primeiras paixões musicais.

A trilha sonora lá de casa era Roberto Carlos (e isso, naquela época, ainda significava boa música), mas rolava também muito Elton John, trilha sonora de novela e um boa dose da genuína música brega made in the 70's.

Quando eu comecei a forjar meu gosto musical, essa foi a década a qual eu quis voltar com mais ansiedade. E cada faceta que eu ia descobrindo me deixava mais maravilhado.

Não existem anos mais ricos, do ponto de vista da música pop e do rock. Obviamente que os anos 60, com seu ideário de liberdade e romantismo psicodélico, são incríveis, mas foi a década seguinte que efetivamente expandiu todas as possibilidades abertas na louca década dos Beatles e dos Stones.

Se formos pensar bem, os anos 70 foram excepcionais, inclusive, para nossa MPB. Enquanto a porrada comia solta nas prisões da ditadura militar, Caetano, Gil, Chico, Tim Maia e Jorge Ben soltaram seus discos mais inovadores e marcantes.

Nos Estados Unidos, foi a década do soul politizado de Marvin Gaye, Curtis Mayfield e Stevie Wonder; do surgimento dos cantores-autores como Carole King, James Taylor e Jackson Browne; do aparecimento da disco e do punk em Nova Iorque; e do brilho criativo de Neil Young, que lançou 4 obras-primas só entre 70 e 75.

Da Inglaterra, vieram movimentos igualmente marcantes como o glam rock de T-Rex, Mott, The Hoople e David Bowie; o heavy metal do Black Sabbath e do Deep Purple; o rock progressivo do Yes e do Pink Floyd. Isso sem falar no som mastodôntico do Led Zeppelin, possivelmente a banda definitiva de rock.

Fora do eixo USA-UK, despontaram grandes novidades, especialmente o KRAUT Rock alemão - do Kraftwerk e Can-, o reggae na Jamaica e a descoberta dos ricos ritmos latinos e africanos.

Para quem quer se iniciar nesses anos mágicos, segue uma listinha com os discos mais influentes e marcantes do período:
Dark Side Of The Moon - Pink Floyd (1973)
Led Zeppelin IV - Led Zeppelin (1971)
After The Gold Rush - Neil Young (1970)
Hunky Dory - David Bowie (1971)
Ramones - The Ramones (1977)
London Calling - The Clash (1979)
Horses - Patti Smith (1975)
Exodus - Bob Marley (1977)
Trans-Europe Express - Kraftwerk (1977)
What's Going On - Marvin Gaye (1971)
Marquee Moon - Television (1977)
Unknown Pleasures - Joy Division (1979)
Paranoid - Black Sabbath (1970)
For Your Pleasure - Roxy Music (1971)

segunda-feira, 2 de março de 2009

Hermanos

Nunca entendi plenamente a ausência de lançamentos de pop rock cantado em espanhol por aqui. Teoricamente, seria até mais fácil - pela proximidade tanto do idioma quanto por questões geográficas e políticas -, que artistas e bandas latinos se infiltrassem no mercado brasileiro do que os gringos de língua inglesa. Mas, na prática, a história é bem outra.

Eu mesmo só fui entrar em contato com o ótimo pop que se faz no restante de nosso continente, por meio de um canal de vídeos, o HTV. Infelizmente, nenhuma rede de TV paga o veicula mais, o que torna ainda mais difícil saber das novidades que surgem na Argentina, Peru, Colômbia, México etc.

Quem conseguir se despir de seus preconceitos, vai descobrir que existe bem mais que Shakira e Ricky Martin. Aliás, gostaria muito de entender porque todo mundo acha que a música cantada em espanhol é necessariamente brega e melosa. Talvez seja culpa da indústria, que nos empurrou tipos como Julio Iglesias e Luis Miguel durante anos. Vai saber...

O fato é que o dano já esta feito. E só com muita boa vontade e um bocado de paciência para pesquisa é que se vai descobrindo os pequenos tesouros espalhados por toda América Latina.

Eu gosto especialmente do rock feito na Argentina e México.

A Argentina é a terra de Babasonicos, Soda Stereo, La Mosca, Bersuit, Leo García, entre tantos outros.

O disco Jessico, do Babasonicos, tem uma sofisticação sonora e uma compreensão tão abrangente da música pop das últimas décadas, que chega a espantar. Honestamente, consigo pensar em poucas bandas brasucas que tenham gravado um álbum tão rico.

Outro disco incrível é Mar, de Leo García, um protegido do ex-vocalista do Soda Stereo, Gustavo Cerati. Passeando com a mesma desenvoltura tanto pela música eletrônica quanto pelo mais puro folk, García nos brinda com momentos do mais puro gênio pop. Escute a emblemática Morrissey, pequeno hino gay composto em homenagem ao bardo de Manchester, e tente resistir.

O México até que é um pouco mais bem servido por aqui. Gosto particularmente do trabalho de Julieta Venegas, que teve seu último cd, MTV Unplugged, lançado em 2007.

Para quem quer investigar um pouco mais longe, vale dar uma checada nos sons vindos da Espanha.

La Oreja de Van Gogh e El Canto Del Loco são um ótimo começo. Embora basicamente façam uma reciclagem do indie rock feito na Inglaterra, é interessante ver como o estilo sofre pequenas e deliciosas modificações, sobretudo na sensível poesia que perpassa a música do Oreja. Escutar uma canção como La Playa e não se emocionar profundamente, é como assistir a um filme de Carlos Saura e não sair de alma lavada.