quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Amy e os Globais

A propósito da passagem broxante de Amy Winehouse pelo Brasil, muito me chamou a atenção uma reportagem sobre um dos shows da moça – em São Paulo ou no Rio de Janeiro – em um programa de variedades vespertino da Rede Bandeirantes.

A repórter entrevistava celebridades – basicamente o que se convencionou chamar “globais” – que davam seus profundos depoimentos sobre sua devoção à cantora inglesa.

O melhor de tudo foi uma fofa com um desses rostos lindos, mas que a gente nunca sabe o nome, que declarou que gostava muuuuuuuuuuuito da Amy porque ela – e aqui eu faço questão de colocar aspas – “não faz música pop, faz música de verdade!” Ué?!? E a música pop é o quê? Delírio? Alucinação? Eu, na minha humildade, sempre achei que fosse “de verdade”, mas vai saber...

O fato é que Amy Winehouse tornou-se uma mula de salvação para todos que querem arrotar ares de sofisticação no seu gosto musical. Pessoas que nunca ouviram Billie Holiday ou Nina Simone ou mesmo as deliciosas preciosidades das gravadoras Motown e Stax (pop até a medula, viu, fofa?) saem por aí dizendo que Winehouse é o máximo, que canta horrores, além de viver permanentemente à beira do abismo – o que, na mente de alguns, confere autenticidade a tudo o que ela diz em suas letras confessionais.

Bem, para quem pode achar que estou escrevendo tudo isso para falar mal de Amy, vai um esclarecimento: gosto bastante dos dois discos já lançados por ela (Frank e Back To Black), mas acho que Winehouse é essencialmente uma cantora de estúdios. Longe da proteção de grandes produtores, é uma artista insegura, cambaleante e errática. Quem já viu algum de seus milhares de vídeos soltos pelo You Tube sabe do que falo.

No palco, Amy olha para o chão, para os lados, desaparece sem motivo aparente, ameaça desabar o tempo inteiro. Timidez? Provavelmente, mas o pior de tudo é ter que assistir sua voz falhando, desafinando, errando e mutilando impiedosamente as canções que ela mesma escreveu.

No único DVD oficial de sua carreira até o momento, I Told You I Was Trouble: Amy Winehouse Live From London, o suplício se estende por mais de uma hora. A banda até tenta salvar a noite, mas quem compra o DVD (ou vai ao show) o faz para ver a cantora e não seus músicos.

Acho que a pior coisa que poderia ter acontecido à Winehouse foi o sucesso em escalas gigantescas e a adulação cega de parte da mídia e do público.

Mas ainda tenho esperanças. Com um bom produtor e uma banda afiada, Amy ainda pode render excelentes canções. Que serão certamente muito pop, ao contrário do que disse a filósofa das novelas da Globo...

18 comentários:

Adriano De Lavor disse...

gênero, número e grau.

Régis Trovão Rodrigues disse...

certeiro... concordo e já achava isso com outras palavras...

Aquiles Alencar Brayner disse...

Eeiiita, pegou pesado! (kkkkkk)

Rafael Gomes disse...

Taí, verdade! Imagina se ouvissem a Billie numa noite chuvosa com um litro de cana...

Aquiles Alencar Brayner disse...

Nao se precisa ir nem muito longe: basta ouvir a Gal para sentir como a musica pode nos enternecer...

João Guilherme da Silva disse...

...mas na cena pop atual ela é...necessária, um óasis,sair no busão e escutar "valerie" é ótimo,claro,não é( nem nunca será) uma Etta James uma Martha Reeves,mas é competente na música q faz,bebendo (ooops) em fontes do R&B,soul music do passado,tb não fica pedindo desculpas por ser drogada e barraqueira....

Adriano De Lavor disse...

também concordo com vc, João. Mas acho que isso nem passa pela cabeça desse povo descrito na postagem!

Lila Dourado disse...

Luís...
Sou apaixonada pela Billie Holiday, arrisco dizer que ela e muitos outros do Jazz e Blues me levaram a faculdade de Música.Também fico impressionada, com o poder da mídia em convencer não só ,os jovens descompromissados com a análise da crítica musical ,são capazes de colocar numa mesma sacola,Billie Holiday(acho que a maioria desconhece)Nina Simone,Maria Rita, M.Monte,Winehouse,Ivete,Cláudia Leite e qualquer banda de Axé e forró "universitário"...mas principalmene ao observar pessoas com um certo conhecimento musical, afirmarem que ela é o maior fenômeno musical da nova geração.Como professora unversitária, até arrisquei alguns comentários no facebook,pois todas às vzs que tento ouvir a Amy,observo que Amy além desafinar inúmeras vzs e tem um timbre de voz bem aquém das grandes cantoras.Além de ser uma péssima referência do mundo jovem. Falo isso,sem pudicícia, mas por saber que existe cantoras como Joss Stone, jovem com grande talento vocal e intérprete de mão-cheia!
Luiz adorei o que vc escreveu, assino embaixo e por isso, já postei no meu blog pra moçada er e refletir! Abraços
www.queroupavestirei.blogspot.com

Ima Boim disse...

Não dá para comparar a Amy Winehouse com nenhuma outra preciosidade da música, uma vez que, cada uma delas é única. Artista premiadíssima e aclamada no mundo inteiro por sua voz incrível e ritmo próprio, Amy, a que veio de outro planeta, dará o salto máximo no abismo se não se perder entre vitórias e derrotas... And life is like a pipe/ And I'm a tiny penny rolling up the walls inside ( E a vida é como um cano/ E eu sou um minúsculo centavo rolando paredes adentro...)
Amo Amy, espero vê-la superar-se!!!Ver mais

Horácio Marques disse...

Nada de mula , mto menos da salvação. Nina e, principalmente, Bilie, são the must. Mas não reconhecer o talento da Amy, é querer parar o tempo. E quem gosta de poste é cachorro, como diz o sábio macaco Simão

Nirton Venancio disse...

Penso como o João Guilherme e a Ima. No cenário da pasmaceira pop que surgiu nos anos 2000 não tem ninguém mais expressivo que Amy Winehouse. Não é comparar ou achar melhor que Billie Holliday, Etta James e outras divas inimitáveis do jazz e blues. Amy é ela, com sua voz e suas características. É lamentável a sua entrega aos excessos da bebida, das drogras, das loucuras, mas me eximo de julgamentos, não a jogo na fogueira e louvo a grande cantora que ela é, em que pese a voz fraquejada, os shows lamentáveis nessa passagem pelo Brasil. Torço pra que ela venha com um terceiro disco tão bom quanto "Frank" e "Back to black".

Hugo Nogueira disse...

eu gosto da Amy, o Back to Black é um disco ótimo, mas já está na hora de ela produzir novas músicas boas.

Denise Vourakis Dias disse...

Billie Holiday também vivia à beira do abismo. A Amy é um diferencial entre as cantoras da atualidade. Espero que ela consiga continuar de algum modo.

Rogério Santana disse...

Luis, vibrei com esse post. Concordo demais com o que vc diz aqui. Já que vc mencionou a Nina, particularmente acho ela insuperável, mas apesar dos deslizes a Amy(preferencialmente a de estúdio) realmente merece aplausos. Estou ansioso para ouvir músicas novas.

Fran Viana disse...

Eu tb amo Amy. Mesmo sem inovar, ela trouxe de volta o excesso e o despudor para a soul music.
E que voz!

Alessandro Gagnor Galvão disse...

Nos restringimos ao cenario anglosaxão endossado pela midia grande. mas certamente há muitos bons artistas nos bordeis paraguaios, mosteiros nepaleses e barzinhos de Recife os quais morreremos sem conhecer, navegando pela web em vez de mergulhar em nossas cidades, como faziamos quando eramos adolescentes. Cartola foi guardador de carros. Billie Holiday cantava em bordeis, Bach era obscuro organista de igreja e do maracatu nao se ouvia falar antes de Chico Science.

Andre Herzog disse...

Falou e disse.

Anônimo disse...

Ri desse texto.

Achei o texto de extremo mal-gosto,feito por um jovem que deve ter seus 16 anos e gosta muito de musica pop,aí foi no Google e colocou Billie Holiday só para ver quem é e disse,tá AÍ vou comparar ela com a Amy e se aproveitar dessa sua fase má..

Querido vc já ouviu mesmo Billie Holiday?A voz da mesma se assemelha e muito á de Amy WInehouse e ela(Billie)Desafinava tbm,mas o que as diferencia é a emoção e a musica bem feita desculpe mas seus ouvidos estão tapados ou só não consegue enxergar e nem admitir a verdade como um cavalo de corrida..