segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

The Boys In The Band


O Brasil pode ser um país carrasco com seus artistas mais originais. Ousadia, inventividade e originalidade são vistos por aqui como coisas perigosas. Melhor evitá-las. Ainda mais quando essas qualidades estão associadas à quebra de paradigmas sociais antiquados.


Quem, por exemplo, desafia os rígidos papéis designados para homens e mulheres deve estar pronto para receber pedradas. Foi assim com a trupe teatral Dzi Croquettes, que, em meio ao período mais terrível da ditadura militar, levou aos palcos cariocas um espetáculo da mais pura subversão artística.


Misturando vaudeville, cabaré, Broadway e música brasileira, o grupo de 13 homens se apresentava praticamente nu, com os rostos fortemente maquiados e uma performance visceral que desconhecia as fronteiras entre masculino e feminino.


É claro que a rígida moral vigente não gostou de tanta transgressão. Censura, perseguição e a truculência típica de estados militares, entretanto, não foram suficientes para barrar a incrível ascensão dos Croquettes, que, na sequência, conquistariam São Paulo e Paris.


É essa história pouco conhecida das gerações atuais que é narrada no documentário Dzi Croquettes dos documentaristas Tatiana Issa e Raphael Alvarez.


Por meio de depoimentos de atores, cantores, diretores de teatro e dos próprios Croquettes sobreviventes, os diretores reconstroem uma das mais fascinantes experiências teatrais já levadas a cabo nos palcos nacionais.


O legal do filme é que ele recupera imagens preciosas de shows do grupo. Perfeccionistas e profundamente investidos de seus personagens, os atores-cantores-dançarinos deslumbram e impressionam ainda hoje.


Ao final, apesar da melancolia da desintegração do grupo – dos treze membros originais, três foram assassinados, um morreu após um aneurisma cerebral e quatro foram vítimas da AIDS – fica a certeza da marca perene deixada por esse cometa de irreverência, talento e criatividade.

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